01: Lá vai a Mortícia

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    Curiosidade sobre mim: eu falo com gente morta. Parece legal, mas a minha família, apesar de ser bruxa, não leva com total normalidade e sempre ficavam preocupados. Os Potter, como vou explicar… minha mãe, Lily, é a mais calma (mas quando estressa, saia correndo). Meu pai, James, é daqueles tios do pavê e sempre quer ser o correto em tudo. Ah, tem meu irmão também, Harry ou “o menino que sobreviveu”, o perfeitinho e que derrotou o lorde das trevas e blá blá blá. Por causa do seu incrível feito quando era bebê, todos nos olhavam como se fossemos deuses, um saco. Se você quiser considerar como parte da família, tem o meu padrinho, Remus, o mais centrado e Sirius, padrinho de Harry, o maluco.
    De outro lado, secretamente, eu tenho uma “outra” família, se por assim dizer. Quando eu tinha mais ou menos nove anos, tinha fugido de casa porque um fantasma estava me atormentando e os meus pais não sabiam ainda do meu dom. Andei por um tempo nas ruas desertas, algo super perigoso para uma criança, e acabei chegando inconscientemente na casa onde tio Sirius cresceu. Sempre escutava coisas horríveis sobre ela, aumentando a minha curiosidade. Um homem bem parecido com ele estava saindo no exato momento, foi assim que fiz amizade com Regulus Black.
    Às vezes, falo para os meus pais que eu iria para a biblioteca com alguma amiga (não sei como ainda acreditam, mesmo sabendo que eu raramente faço amizade) e vou até o tio Reggie, como agora. Por ele, conheci a família Malfoy, especialmente Draco, o filho deles. Nós somos bons amigos, mesmo que tenhamos tempo limitado para brincar juntos. Sempre ouvia barbaridades sobre Lucius Malfoy do meu pai, mas apenas o achava carrancudo, nada de diferente.
    Voltei silenciosamente para o meu quarto, isso se não fosse a merda da armadilha que meu irmão tinha feito. Esse pestinha como sempre… uma sirene de ambulância começou a tocar pela casa, fazendo os meus pais e os meus tios vierem correndo. Outro fato engraçado: meus tios moram ao lado, mas vivem aqui, nem sei porque tem casa. Harry apareceu rindo do nada, bem que eu prefiro meus fantasmas.
    - Marie, de novo foi para a biblioteca? - Meu pai perguntou incrédulo.
    - Fui rapidinho… não podia?
    - A carta de vocês chegou, querida. Queremos que abram juntos. - A minha mãe explicou. - Vou buscar.
    Eu me sentei no sofá, tomando o maior espaço possível e pegando o livro que Reggie tinha me emprestado. Realmente tinha uma biblioteca gigante na casa dele, onde morava apenas com a sua mãe, Walburga, e seu elfo doméstico, Monstro. Coloquei uma capa falsa, ele dizia que tinha assuntos que as pessoas comuns não gostavam, isso enquadrava os meus pais, óbvio.
    O nosso pai entregou a carta e ficaram nos olhando enquanto líamos. Isso é meio psicótico… Era oficial, eu era uma bruxa e iria para Hogwarts no próximo mês. Teria que comprar material, as vestes e tudo quanto é coisa. Mas uma coisa não era tão animadora, a dupla “Pontas e Almofadinhas” tentando ensinar o hino da grifinória. Sério… eles são estranhos, sorte que tio Remus concorda comigo, mesmo estando casado com um. Nem notei meu irmão pegar o livro que estava ao meu lado para xeretar e depois correr para o papai perguntando o que estava dizendo.
    - Que língua é essa, Lily?
    - Hum… acho que grego.
    - Grego antigo. - Respondi.
    Eu peguei o livro das mãos dele, colocando-o sobre meu colo. Odiava quando pegavam as minhas coisas ou ficavam xeretando, mania chata.
    - Vocês querem ir hoje comprar o material?
    - Sim!
    - Pode ser.
    - Mais ânimo, May. - Harry me provocou. - Nós vamos às compras e não à Azkaban. Desde quando você sabe grego antigo?
    - Eu estava conversando com um morto que sabia e ele me ensinou.
    - Vão se trocar, nós iremos agora!
    - Mãe, mas estou com fome…
    - Marie Lily, nós comemos no beco diagonal, não se preocupa.
    Hoje seria o dia de conseguir a minha varinha, nem acreditava, finalmente. Peguei um vestido preto simples com uma gola social branca, parecia daquelas roupas de bruxas dos quadrinhos. Sim, uma das coisas que eu mais gostava no mundo trouxa eram os quadrinhos e eu não sabia explicar o motivo. Prendi meu cabelo com uma faixa preta e uma meia calça da mesma cor, pronto, estava perfeita.
    - Lá vai a Mortícia. - Harry comentou rindo.
    Eu mostrei o dedo do meio para ele, recebendo uma repreensão do meu pai. Até parece, vive mandando dedo do meio para o tio Sirius e o tio Remus.
    - Querida, por que não coloca algumas cores mais alegres? - Minha mãe perguntou passando a mão em meu cabelo.
    - Eu gosto de preto.
    - A culpa é do Almofadinhas, má influência. - Lupin disse recebendo um tapa do marido. - Só você que vive de preto aqui, vem não.
    - Mas o padrinho não fica parecendo um integrante da família Addams. - Harry retrucou. - Só falta a Mão andando por aí.
    - Hazz, se por acaso a encontrar, aproveita e enfia no…
    - Marie Lily, a boca!
    Tio Sirius ria junto com o meu pai, cada um levando tapa dos seus respectivos cônjuges. É quase toda manhã isso, os Lupin-Black nunca perdiam um minuto do dia, repito, nem sei para que tinham casa.
    - Puta que pariu, eu esqueci a porra do dinheiro que você pediu lá em casa.
    - Almofadinhas, pode diminuir nos palavrões perto das crianças.
    - Não vai fazer muita diferença agora… eu pego o dinheiro em gringotes, mais fácil.
    - Melhor deixar, Sirius, eu tirei dinheiro ontem para comprar aquele negócio e não usei ainda.
    Eu segurei nos braços do meu padrinho para aparatar e chegamos até o beco. Provavelmente nos encontraremos com os Weasleys, são bem próximos dos nossos pais e eram legais, principalmente Gui, George, Fred e Gina. Meu irmão era mais próximo do Rony, quem eu falava só um pouco, não ia com a cara dele simplesmente. Fomos até o senhor Olivaras, um velho bruxo muito sábio quando o assunto é varinhas.
    - Senhores Potter, sejam bem vindos. Vejamos aqui, o famoso Harry Potter, certo? - Disse cumprimentando o meu irmão. - E a senhorita…
    - Marie Lily Potter, senhor. - Cumprimentei-o e arregalou os olhos ao me tocar, eu era um pouco gelada demais.
    - Quem quer ir primeiro?
    - Eu! - Harry disse pulando e eu revirei os olhos.
    Começou a testar umas quinhentas varinhas, quebrando tudo ao redor. A minha vontade era de zoá-la e falar que era um aborto, mas eu ganharia outro castigo, então segurei a minha língua. Depois de esperar vários minutos o alecrim dourado achar a sua varinha, conseguiu.
    - Curioso, muito curioso. - Disse após explicar sobre ser a varinha irmã ser a de Voldemort. - Agora vamos procurar a da senhorita…
    Tudo de novo, ele pegava uma varinha, dava errado. Repetia assim várias vezes, as varinhas pareciam querer pular da minha mão e sair correndo praticamente, o que estava me estressando. O homem pediu licença e saiu para o fundo da sua loja, ficando um silêncio até que o meu irmão resolveu abrir a boca.
    - Será que a May não é mágica? - Sussurrou no meu ouvido apenas para me irritar.
    - Cala a boca.
    - Desculpa a demora, estava procurando uma varinha muito específica. É muito antiga, foi feita praticamente como uma experiência e sob medida para uma bruxa, ela faleceu antes de recebê-la. Teste, por favor.
    Eu a peguei e subitamente um brilho surgiu, era a minha varinha. Os olhos do vendedor brilhavam e parecia mais curioso ainda.
    - Incrível… Essa é a única varinha do mundo, pelo meu conhecimento, que entrelaçaram dois tipos de madeira, uma coisa muito complicada de se fazer. Espinheiro negro e ébano, ambos são encontrados em grandes bruxos de alto escalão. Não possui uma boa reputação, para ser sincero, mas eu acho que é uma bobeira. A que está segurando em específico, procura alguém guerreiro, excêntrico, determinado e que segue fielmente suas crenças pessoais. O núcleo é chifre de basilisco, algo que também não trabalhamos mais, apenas bruxos autoconfiantes e ambiciosos conseguem algo desse tipo. Pouco flexível, 34 centímetros. Parabéns, senhorita Potter, parece ter um grande destino e propósito.
    - Obrigada…
    A aparência era perfeita, a madeira era bem escura, praticamente preta, com alguns detalhes entalhados. Tinha valido muito a pena a demora, agradeci e meus pais foram pagar, enquanto saímos da loja para os esperar. Eu não parava de admirar a minha varinha, estava muito impressionada por ela ser tão única, mesmo que o motivo seja uma bruxa morta.
    - Marie Lily vai querer namorar a varinha dela daqui a pouco. - Harry sussurrou para Sirius.
    - A culpa não é minha se a sua não é única, Hazz. Está com inveja? - Provoquei-o, quem revirou os olhos.
    - O papai falou que espinheiro negro é usado mais por comensais, sabia? - Rebateu.
    - Pelos mais poderosos, pelo que o senhor Olivaras falou. - Sorri de lado. - Então é inveja ou medo, maninho?
    - Daí explicaria como ama machucar os nossos colegas.
    - Harry! Você prometeu que não ia contar, idiota.
    - O que você andou aprontando, Marie Lily?
    - Eu conto o que? As brigas, os seus roubos recentes…
    Revirei os olhos, pior irmão do mundo. Nós estudávamos em escolas trouxas até agora, eu não me dava muito bem e sempre me metia em briga, que acabavam com pessoas muito machucadas ou pior. Algumas vezes, Harry conseguia me encobrir, mas o maldito usava contra mim quando estava estressado. Ele também vivia se metendo, mas nunca passava de alguns poucos socos.
    - Marie Lily, que briga?
    - Invenção desse daí.
    - Ela mandou três dos nossos colegas para a enfermaria, é claro, ninguém sabe como a May fez isso.
    - Eles quem começaram a me encher o saco, deviam estar aliviados por estarem vivos. Ainda bem que não vou ser mais obrigada a conviver com esses trouxas, povinho babaca.
    - Marie Lily Potter, está querendo ficar de castigo de novo?
    - Se envolver não ver a cara do meu irmão, quero. - Cruzei os braços, desviando do olhar do meu pai.
    Até uma certa idade, eu era a preferida do meu pai, a princesinha da casa. Tudo isso acabou quando descobriram dos dons que eu tinha, James achava que podia envolver alguma maldição colocada sobre mim e tinha certeza que era arte das trevas. A partir disso, ficaram mais distantes de mim, me sentia mais um objeto de experimento científico, e a atenção voltou-se totalmente ao Harry.
    Obviamente, eu piorava tudo. Nunca havia me dado bem com os trouxas e a cada ano isso só piorava. Se os bruxos me achavam estranha, imagina os que não conheciam a magia, eu era uma aberração. Porém, por minha mãe ser uma nascida trouxa, o nosso pai sempre repetia como devíamos ser agradáveis e que os trouxas eram iguais a nós. Igual uma ova, eles não podiam fazer nem metade do que fazíamos.
    - Remus ajuda aqui, os dois voltaram a brigar. - Sirius disse entrando no nosso meio. - Vocês dois, ninguém vai machucar ninguém, ninguém é melhor que ninguém.
    - Novidade… - O meu padrinho apareceu e nos encarou. - Por que vocês gostam tanto de brigar?
    - Harry é irritante e merece ser provocado por ser tão idiota.
    - Viu? Não sou eu, é ela.
    Os dois reviraram os olhos e cada um foi para um lado, voltando para a loja de vestuário.  Sirius, quem estava segurando o meu irmão, revirou os olhos ao notar uma família de cabelos loiros.Era nítido como os meus pais e os meus tios os odiavam, os Malfoy. Fomos até a bancada e Remus fez o pedido para nós  podermos experimentar as roupas. O vendedor nos entregou uma muda para experimentarmos e serem ajustadas. Eu me troquei, arrumei a gravata e ajeitei a capa, abrindo a cortina do provador para os meus pais verem.
    - Uau, vocês estão lindos. - Minha mãe disse tentando ajeitar a gravata do meu irmão. - Harry, preciso te ensinar a fazer isso.
    - Só vão ficar perfeitos quando o símbolo da grifinória substituir o brasão de Hogwarts. - Sirius comentou.
    - E vai ser logo. - Meu pai completou sorrindo.
    - E se eu não for para a grifinória? - Eu perguntei e eles arregalaram os olhos, indignados com a minha pergunta. - Ué, pode ser que eu não vá.
    - Você vai, eu e a sua mãe fomos de lá.
    - Mas a grifinória não parece ser uma casa tão boa… não tem nenhum bruxo poderoso, famoso e interessante que seja de lá.
    - Eu, a sua mãe, os seus tios. - Disse como se fosse óbvio. - Nem vem, você vai para a grifinória, é claro. O Olivaras falou que a sua varinha é feita para uma guerreira, tem melhor que a grifinória para alguém assim?
    - Tem. - Assenti e Remus riu. - O que foi?
    - Sua sinceridade no que pensa é incrível.
    - Eu vou para a grifinória como os nossos pais, eu tenho certeza. - Harry disse fazendo uma pose. - Eu não quero ir para nenhuma outra casa, quero dar orgulho a eles.
    - Chato do jeito que é, o chapéu seletor vai te colocar apenas para não ter que ficar na sua cabeça.
    - E quando for posto na sua cabeça, vai colocar em qualquer coisa se você não matá-lo antes, não é? Mortícia.
    - Aproveita e fica perto que você vai junto para debaixo da terra.
    - Crianças! - Meu pai gritou bravo, estava a loja inteira nos observando.
   Voltei para o provador e fechei-o, me trocando rapidamente. Eu estava cansada, queria voltar para casa, infelizmente tinha que comprar mais coisas ainda. Arrumei a faixa no meu cabelo e passei pelos meus pais, fingindo estar mais interessada em algumas roupas de quadribol das casas de Hogwarts. Amarelo deixava minha pele muito pálida, não poderia ir para a lufa-lufa de jeito nenhum. O azul escuro me empalidecia de uma forma diferente, mas era elegante. O vermelho era muito intenso, da mesma cor do meu cabelo… não. O verde, assim como a cor da corvinal, deixava um ar mais elegante. É, ou era corvinal ou era sonserina, não aceito nenhum diferente.
    - Nem planeja ser apanhadora que essa vaga será minha. - Escutei a voz sarcástica do Malfoy, que estava com um sorriso animado.
    Ele tinha contado que iria para um jogo e aproveitamos o tempo ali pra poder me contar como foi tudo.Os últimos jogos estavam bombando, isso é verdade, não tinha ninguém no mundo bruxo que não comentasse. Percebi meu pai e tio Sirius se aproximarem, assim como o homem de longos cabelos loiros brancos.
    - Marie, vamos? - Meu pai disse apontando para a porta.
    - Agora que está menos chato? - Revirei os olhos e continuei a conversa.
    - Te vejo em Hogwarts. - Draco disse subindo os ombros.
   Fechei a cara novamente, apenas os seguindo, e fiquei mais quieta até o final das compras. Ao chegarmos em casa, apenas peguei meu livro novamente e fui subir para o meu quarto, mas meus pais queriam almoço em família.









Hoje serão dois capítulos

Maverick [Marie Lily Potter]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora