Capítulo 9

184 21 5
                                    

André

Agora era o tudo ou nada que eu buscava desde do momento em que percebi que a perdia. Sozinho eu não teria descoberto que existia mais por trás de toda a sua armadura, eu apenas acharia que as coisas se encaminharam para um fim prematuro.

Agora eu sabia que existia mais!

Antônio me mostrou mais e eu queria tudo. Queria descobrir o mundo dela, as dores, as angustias e os medos e de alguma forma resgatá-la dela mesma.

Não acredito que seria fácil. Pelo que eu conhecia minha esposa, ela faria de tudo para dificultar cada tentativa de eu me aproximar e tenho certeza que em Colinas isso ficaria ainda pior.

Mas eu queria mais. Precisava de mais. Precisava achar cada ponto desconexo dessa história para conseguir ter paz e saber que tinha feito de tudo para salvar nosso relacionamento.

Eu queria mais. Essa era a minha máxima e não estava disposto a abrir mão disso.

— Vamos fazer uma parada essa noite — os olhos dela não se encontravam com o meu em momento algum.

— Tudo bem. — suspirou.

— Teremos que ficar no mesmo quarto — ela não me olhou novamente.

Tudo dentro dela estava quebrado, como se seus demonios começassem a subimergir e a fizessem correr sem parar. Lana sempre foi reclusa, mas seus olhos agora transmitiam pavor e estava sendo dificil para mim deixá-la lidar com isso sozinha, até que ela me deixasse ajudar.

A explicação que eu tinha para tudo isso é que o mundo dela foi mais difícil do que eu pensei um dia.

— Como achar melhor — suas respostas vagas pousavam em minha mente. Tudo o que eu tinha dela era isso, respostas vagas e monossilábicas.

— Lana, por favor, esse clima está insustentável, é uma viagem de 3 dias. — Bufei me virando para ela. Minha tentativa de ser um pouco mais maleável estava indo por água abaixo.

Joaquim mal olhava para o retrovisor quando esses momentos entre nós se instalava, ele sabia o quão frustrado eu ficava, pois eu o considerava antes de tudo um amigo.

— Faça um esforço de parecer como uma boa companhia de viagem pelo menos — bati as mãos na perna.

— Não pedi para vir, já disse. Preciso de um tempo André, é tão difícil assim entender? — questionou irritada. Mesmo assim ela não se virou para me olhar, porvavelmente com medo de que eu visse todo o sofrimento em seu olhar.

Pelo menos alguma emoção tinha aparecido. Desde que a viagem começou ela mal respirava, todo seu corpo estava tenso e os olhos estavam vidrados na paisagem. Lana não estava ali, ela estava em algum lugar distante em sua mente. Talvez já estivesse em Colinas.

— É, é humanamente impossível atender seus pedidos. — ela me olhou pela primeira vez — As vezes você é doce como mel e as vezes amarga como fel. Como quer que eu entenda? Te disse que estarei ao seu lado para tudo o que precisar, então porque continua me tratando com tanto repudio? — seus olhos não me encaravam enquanto eu soltava as acusações que estavam entaladas em minha garganta. A frustração já tomava conta de meu peito e sabendo disso ela tentou suavizar.

— Sinto muito — foi tudo o que disse, em voz baixa.

— Você é inacreditável. Eu quase acreditei que você estava se abrindo para mim. — me virei para o vidro novamente. Eu estava furioso por ter acreditado que ela mudaria de alguma forma. Não havia mais como ela ser mais do que me mostrava.

— André... eu... — sua mão pousou sobre a minha que repousava no banco do carro — André, sinto muito de verdade, eu não consigo — me virei no mesmo instante — Eu não consigo passar por isso de novo — o desespero tomou conta de seu rosto. Eu vi o sofrimento que ela tentava esconder de mim — Por favor, não me leve para lá, por favor — ela se dobrou a minha frente e implorou deitada sobre minha mão com o corpo tremendo — Eu faço o que você quiser, mas não me leve para aquela cidade. — seu choro era desesperado — Por favor, eu te imploro. Faço o que quiser, mas não me leve, André, eu vou morrer se pisar naquele lugar denovo.

O conde domado - Livro 3 - sem revisãoWhere stories live. Discover now