Capítulo 14 - Leila

Começar do início
                                    

Jonas vem primeiro e assina as vias do contrato de investimento sem perguntar muito. Não tenho a mesma sorte com Madu, que lê letra por letra do contrato, semicerrando os olhos de maneira assustadora.

— Eu estou achando tão esquisito eles não quererem revelar a identidade. Vai que esse dinheiro é proveniente de lavagem de dinheiro, sei lá. — Madu se vira para mim de repente, curvando-se sobre a mesa. — E se formos usados como laranjas?

Jonas e eu soltamos um suspiro frustrado ao mesmo tempo. E lá vamos nós de novo, penso, me preparando para repetir aquela mentira pela segunda vez.

— Já te falei, nosso negócio é um risco e eles não querem a empresa envolvida nisso até terem certeza que a E. M. vai dar retorno. É ruim para o negócio deles.

— Eles quem, Leilinha? — Madu insiste. — Eu estou morrendo de curiosidade!

— Não sei. Foi Luís quem cuidou de tudo para mim e está aí no contrato que o investimento será realizado sob sigilo.

— Sigilo, Maria Dulcineia, sabe o que isso significa, não sabe? — Jonas provoca, recebendo um beliscão bem dado nas costas.

Depois de muito reclamar e encher minha paciência para que eu dê mais detalhes sobre nossos investidores secretos, Madu resolve assinar os documentos e me entregar. Não perco nem mais um segundo para escanear tudo e encaminhar para Dr. Tales por e-mail. Ele me contata alguns minutos após confirmar o recebimento do arquivo, dizendo para que eu entre em contato com Danilo mais tarde e peça para que ele cheque a documentação, porque estará indisponível durante o dia.

Confiro as horas no canto da tela do meu notebook. É quase meio dia, então concluo que mesmo que Danilo tenha saído para alguma balada após ter me deixado em casa, a uma hora dessas ele já deve estar acordado. Digito uma mensagem rápida no celular e volto ao trabalho em seguida. Não espero que ele me responda ou que dê sinal de vida, afinal estou apenas fazendo minha parte e dando o recado, não estou começando uma conversa e nem nada do tipo.

Aquela mensagem, porém, me faz pensar em Danilo. Mais especificamente na primeira prova do nosso relacionamento fajuto amanhã, na frente de toda a família dele. Avô, avó, irmão, cunhada, sobrinhas, mãe, cachorro, papagaio...

Sinto um calafrio percorrer minha espinha. Durante meu tempo de namoro com Rafael, nunca conheci os pais dele. Não sei direito como me comportar e nem o que dizer, além das mentiras que Danilo me instruiu a contar. Entretanto, sei o quanto pessoas podem ser imprevisíveis e fico toda travada só de imaginar nas milhares, talvez milhões de situações que podem surgir e com as quais eu não faço ideia de como lidar.

Jonas me olha pelo canto do olho e eu volto a fingir estar concentrada. Se ele me perguntar o que está me preocupando tanto, será meu fim.

— No que você tanto pensa, Leila? — Ele pergunta, parecendo ler meus pensamentos.

Engulo em seco, sem coragem de encará-lo. Digito qualquer coisa no teclado, vendo letras e símbolos sem nexo algum aparecerem na tela branca.

— Esses algoritmos... — Exalo, tensa. — Há alguma coisa errada com esses algoritmos.

— Não tem nada de errado com os meus algoritmos! — Madu protesta, lançando uma bolinha de papel na minha direção. — Talvez os algoritmos da sua cabeça não estejam certos. Sai daí e vai dormir um pouco.

Meus amigos têm um pouco de sexto sentido, só isso explica o quanto eles me conhecem às vezes. As últimas semanas foram caóticas e eu estou aguentando como posso, me deixando levar por coisas que nunca achei que faria na vida. Desde ontem a minha vontade é chorar até soluçar, mas até para chorar e gritar é preciso coragem e eu tenho medo demais das perguntas que irão surgir se eu simplesmente me der o direito de deixar meus sentimentos virem à tona.

Se a gente se casar domingo?Onde histórias criam vida. Descubra agora