Capítulo 13 - Danilo

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É doloroso pensar em pessoas que não estão mais entre nós, por isso evito as memórias como posso, e por isso também evito minha família como posso. Ou pelo menos evitava, porque meu avô tanto fez que agora vou até me casar.

— Ouviu isso, Sansão? Eu vou me casar! — Digo para meu cachorro.

Sansão levanta a cabeça e me olha do seu ninho aos pés da cama. Ele deve estar estranhando eu ainda estar deitado tão tarde em pleno sábado. A uma hora dessas em um dia normal eu já teria saído de casa, passeado com Sansão pela quadra, feito compras no mercado — porque minha geladeira está em situação precária — e regado todas as minhas plantas, mas não estou nem um pouco disposto a fazer nada o dia todo hoje.

Rolo no colchão e pego meu celular para ter certeza das horas, apesar de perceber pela claridade no quarto que o sol já está alto. São 11h32min, quase hora do almoço. Só de pensar em comida sinto minha barriga roncar um pouco e me lembro de Leila aborrecida quando eu disse que ela teria que se responsabilizar se eu passasse mal. Sorte dela por eu ter acordado muito bem hoje, porque senão eu a faria mesmo sair daquele fim de mundo para me comprar um remédio. Está no contrato que temos que zelar pela saúde um do outro, estando vedada a agressão verbal e física.

Checo meus e-mails rapidamente, encontrando o e-mail de Tales informando que realizou a transferência do valor inicial do investimento e que eu preciso assinar alguns documentos com relação a isso. Me sento na cama, olhando atentamente para o valor transferido de uma conta pessoal minha. Nem é muito dinheiro, mas significou tanto para Leila, que alguma coisa dentro de mim se agita. Desde ontem me pergunto o quão desesperada ela estava para ter cruzado a cidade e ter ido me encontrar mesmo depois de ter rejeitado tão veementemente minha proposta.

Balanço minha cabeça para expulsar o pensamento e jogo o celular entre os cobertores. Não importa, não é da minha conta. Ela assinou um contrato, me deu sua palavra de que faria sua parte para que nosso casamento soasse o mais convincente possível e agora sou sócio da empresa dela. Estando curioso ou não sobre os motivos dela, o que fizemos são negócios, apenas negócios.

Um vulto baixinho e caloroso passa quase voando pelo corredor. Segundos depois ela volta e coloca a cabeça para dentro do meu quarto, com os olhinhos pequenos brilhantes feito bolas de gude.

— Ah, você já acordou!

Fico de pé com um sorriso enorme no rosto e corro para abraçá-la, tirando seus pés do chão.

— Menino! — Carmen ralha, me dando tapinhas nas costas. — Me coloca no chão, menino!

Eu a obedeço, pousando-a devagar em terra firme. Minha antiga-atual-eterna babá detesta que eu faça isso, ela sempre me bate e me belisca quando eu a giro no ar, mas é mais forte do que eu o impulso de abraçá-la com toda minha força. Se não fosse por essa mulher, eu não seria metade do homem que sou hoje.

— Por que está aqui hoje?

— Sua mãe me pediu para vir. Ela anda preocupada com você. — Carmen enlaça o braço no meu e começa a me arrastar para a sala. Sinto o cheiro de comida ainda no corredor e meu estômago volta a roncar.

— Juro que não entendi até agora a preocupação dela. — Me faço de desentendido, já podendo imaginar perfeitamente o diálogo que Carmen deve ter tido com minha mãe ao telefone.

— Ela disse umas coisas estranhas sobre você se casar. — Carmen deixa escapar uma risadinha. — Eu falei que nunca nem sequer vi mulher nenhuma aqui!

Começo a rir com ela. Minha mãe ainda vai enlouquecer todo mundo ao meu redor com essa obsessão por querer descobrir as coisas antes da hora. Pelo menos isso acaba amanhã, quando eu chegar com Leila de surpresa na casa do meu avô.

Se a gente se casar domingo?Where stories live. Discover now