Capítulo 21-Espectro de mim mesma

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O ar aos poucos fora preenchendo meus pulmões e clareando minha mente nebulosa para sentindos sinestesicos; o cheiro úmido da terra sob a presença da brisa molhada dos rios, o exalar e desatar dos brotos sendo arrastados em conjunto. A ausência do calor do Sol causou-me arrepios e logo quando meus olhos se apossaram da escuridão inospita, os fatos atravessaram-me como uma rajada tempestuosa. Levantei-me confusa mergulhando na realidade novamente, onde os bosques ainda faziam parte, contudo, a blusa estampada de Christopher fora substituída por um longo manto vermelho escarlate com um capuz auxiliar. A angustia consumiu-me em instantes mas procurei manter a calma visualizando o labirindo imenso de árvores espalhadas.

As rajadas de ventos perpetuadas contra meu corpo fez-me estremecer e sem que eu precisasse, o capuz auxiliado pelas correntes protegia meu rosto sob ele. Como o umbral que era, dei passos cautelosos marcando o solo ao qual passava, buscando o rumo para qualquer lugar seguro.

Se houvesse algum.

O barulho terrível do silêncio misturado com o mistério e banhado pela luz luar fez com que a eufória pulsasse em minha veias. Minhas pernas diante disto, começaram uma disputa contra as árvores e qualquer ser que ousasse perambular em meio a escuridão. A capa chacoalhava conforme o ritmo das passadas e embora o desespeiro me consumisse de imediato, o gélido ar rachasse meus lábios e corasse minha pele palida e trêmula, não ousei parar.

Captava sons de galhos se partindo sob a penumbra. Algumas aves que dormiam, gorjeavam assustadas em busca de libertação diante do mal que  se alimentava da vida e agora estava atrás de mim, correndo contra o soprar das corrente e dissipar da névoa sob a sola dos pés. E pela primeira vez deste tormento, imaginei aonde Christopher poderia estar, por que era lá o ponto mais seguro para se estar.

Coforme a sinfonia em meu peito me denunciava a aflição, a presença estranha se aproximava instigada por meu desespeiro. Ao arriscar olhar para trás encontrei em um vislumbre, uma fera de terríveis olhos amarelos e dentes afiados prontos para me decepar no jantar. Em quatro patas, meu assassino inumano me alcançaria em questão de minutos.

Meus pés cederam a ladeira em um impulso, o fôlego já falatava em meus pulmões quando rugia entre o meio de uma árvore partida, uma camada transparente, refletindo minha silhueta quase ser consumida pela figura maligna e grandiosa em minhas costas. E antes que pudesse me pegar, joguei meu corpo para mergulhar no nada encontrando uma luz que cegava veemente meus olhos até que deixa-los abertos fosse uma terefa impossível. Contudo, ainda poderia sentir as garras da besta fincarem-se rapidamente contra minhas costas ao ponto de sucumbir a capa vermelha para si.

Fechei meus olhos com força resmungando contra o ponto de luz. E antes que pudesse abrir meus olhos uma risada cortou sob ambiente.

-Está bem, resmungona...-cedeu retirando a lanterna que iluminava meus olhos-Me parece que a senhorita não está com conjutivite...-a escuridão se apossou deles rapidamente para se acostumar em sua ausência ao ponto que, outra voz cortava o ambiente.

-Que alívio! Estava preocupado com essa irritação nos olhos dela...-a voz de Christopher inundou meus ouvidos fazendo com que meu peito explodisse repentinamente. Encontrei-o parado a porta e sem reparar em qualquer detalhe, corri para seus braços com receio de que tudo fosse uma mera ilusão-Querida eu também senti sua falta...-comunicou retirando-me do chão para apertar-me ainda mais. A risada do outro homem soou mais uma vez e logo quando meus pés foram postos no chão percebi o quão grande Chritopher era em relação a mim. O outro, da mesma forma comprimentou o ruivo em um aperto de mãos e o crachá com o "Dr." escrito reluzia quando em contato com a luz da lâmpada.

-Megan, foi bom conhece-la!- o velho homem comentou apertando levemente uma de minhas bochechas e saindo corredor a fora. Tentei falar ou ao menos questionar sob os acontecimento inexplicáveis de mais cedo, no entanto, minha voz já não me obedecia, muito menos meus sentimentos ou ações.

Segui Christopher por uma casa grandiosa e aconchegante para sua varanda, aonde agora uma caminhonete azul metálica encostava-se. Ainda estavamos em meio a floresta. E mais uma vez, como segundos atrás, senti meu peito rugir de alegria e amor, quando quem descera do automóvel fora Antônio e Jhon. Corri em suas direções sem que ouvesse reluta ou controle de meus pés sob os degraus brancos, para atingir o bosque outonal carregado de mantos de folhas.

-Princesa!-o loiro de imediato se ajoelhou para pegar-me e jogar-me contra o ar. Os sentimentos se deliciavam em meu coração frenético.  Sua barba esfregou-se contra minha bochecha causando-me casquinhas e foi quase inevitável não rir. Fui passada para os braços fortes de Jhon que bagunçava meus fios de cabelos loiros.

A confusão se apossava em meu inconsciente quando vi refletido pelo vidro escuro do carro, nossos reflexos simultâneamente se abraçando. Onde eu era apenas o espelho de uma criança sorridente, com pequenas entradinhas entre os dentes e olhos brilhantes. Porém, nenhum dos meus sentimentos eram capazes de afetar a camada exterior de m'alma. Eu era um espectro de mim mesma.

De volta à Cabana (Disponível Por Tempo Determinado)Where stories live. Discover now