Luo-gege não é bonzinho...

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Jiu afastou a memória para as profundezas de sua mente, repetindo a si mesmo:

Luo-gege é bonzinho.
Luo-gege é bonzinho.
Luo-gege é bonzinho.

Ele olhou pela freixa da porta para ver se Luo Binghe estava falando com alguém, não querendo atrapalhar seu trabalho.

Havia duas pessoas ajoelhadas na sala, de frente para o imperador. Eles estavam amarrados e pareciam estar tremendo um pouco, mas o que assustou Jiu foram os olhos de Luo Binghe.

Seu olhar era assustadoramente frio e sombrio, como se pudesse matar só com o olhar. Seus olhos negros pareciam tão profundos quanto o céu noturno, porém, não havia nem uma estrela. Eles estavam repletos de ódio e fúria, chegando a brilhar vermelho igual a marca em sua testa.

O corpo de Jiu congelou. Memórias se desencadeando e voltando como uma torrente, o afogando em medo e dor. O leque que carregava caiu de sua mão, fazendo barulho e atraindo a atenção de Luo para si. Quando os olhos de Binghe olharam diretamente para ele, não conseguiu respirar.

O imperador caminhou até ele, abrindo a porta bruscamente para ver quem ousava espia-lo. A aura demoníaca aumentando junto de sua raiva. Ao olhar para o corpo pequeno e magro, chorando e tremendo de pé em sua porta, toda sua raiva esfriou completamente e seu coração foi afogado em águas profundas e geladas.

— Jiu...

Luo-gege não é bonzinho...

A visão do menino ficou embaçada pelas lágrimas e não pode ver a mudança de expressão de Luo Binghe. Só conseguiu distinguir um borrão se mexendo em sua direção.

Ele se afastou antes que a mão de Binghe pudesse toca-lo, balançando a cabeça em negação enquanto repetia em sua mente:

Luo-gege não é bonzinho.
Luo-gege não é bonzinho.
Luo-gege não é bonzinho.

Jiu saiu correndo em passos desajeitados, erguendo as barras de suas roupas para conseguir correr melhor. Ele ignorou o chamado de Luo e não se deixou enganar pelo tom triste em sua voz.

Idiota.

Que idiota.

É claro que Luo Binghe não é bom! Ele é um senhor rico e nobre! O maldito imperador do mundo!

Hahaha! Só podia ser um idiota para ter pensado o contrário.

Depois de todo o seu esforço para se esgueirar e fugir com Qi-ge da Mansão Qiu, ele foi diretamente para outra de uma pessoa mais poderosa ainda. Como pode se deixar enganar por aquele sorriso gentil e fala amável? Será que não conhecia o velho ditado: “um lobo em pele de cordeiro”?

— Jiu! Por favor, pare! Me deixe explicar! — Luo Binghe implorou, andando atrás dele.

Não queria assusta-lo ao correr e agarra-lo facilmente, então Luo se forçou a andar calmo, sem mostrar nenhum traço daquele ódio e agressividade de antes. Porém, o efeito foi totalmente ao contrário. Jiu, ao vê-lo nem precisar se esforçar para se manter em sua cola, ficou ainda mais apavorado, se sentindo impotente.

— Jiu, o que você viu lá... Não é o que está pensando. Eu nunca machucaria você!

O menino tampou os ouvidos, não querendo ouvir nenhuma de suas mentiras. Ao cobrir suas orelhas, ele soltou a barra de sua roupa que batia no chão e acabou tropeçando, sentindo uma dor aguda em seu tornozelo.

— Jiu, você está bem? — Luo perguntou preocupado, aparecendo ao seu lado em um piscar de olhos.

O menino ficou aterrorizado ao perceber que Binghe sempre pode alcança-lo tão facilmente, tornando-se impossível fugir.

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