Capitulo 7

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P.O.V Sina Deinert.

Acordei com um mal-estar terrível e uma fotofobia incômoda. Assim que abri um pouco mais a cortina e os raios da manhã tocaram os meus olhos, fechei-a imediatamente. Doeu como se eu estivesse olhando diretamente para o sol. Coloquei uns óculos de sol e fui até o banheiro escovar os dentes.

Após me trocar, desci para comer alguma coisa. Com a barriga revirando, imaginei que estivesse morrendo de fome. Olhei no relógio de parede antigo que ficava na cozinha e vi que já passavam das oito da manhã, meus pais já estavam no café há muito tempo.

Abri a geladeira e peguei uma caixa de leite. Tomei alguns goles e acabei cuspindo na pia. O gosto era horrível. Ainda estava na validade, segundo a informação que constava na caixa, mas eu tinha certeza que já estava estragado.

Peguei alguns biscoitos em um pote que ficava sobre a bancada, embaixo do armário, e o gosto deles passava longe de ser um dos melhores.

Não era possível que todas as comidas naquela casa estavam estragadas.

Comecei a imaginar que o problema estava em mim. Nada que eu colocava na boca tinha o gosto que costumava ter. Tudo o que tentava comer acabava cuspindo, até que encontrei algumas fatias de bife descongelando em cima da pia. Imaginei que a minha mãe houvesse colocando-os ali para fazer no jantar. O cheiro de sangue me atraiu e quando dei por mim, estava comendo um pedaço de carne crua como se fosse a coisa mais saborosa do mundo.

Acabei comendo tudo e, com gosto de músculos e sangue na boca, abri a geladeira em busca de mais carnes. Todas as outras estavam congeladas, mas peguei a que parecia ter mais sangue e a coloquei no micro-ondas para descongelar.

Sentei na cadeira da cozinha, abalada, mas lambendo o restante de sangue animal que havia em meus lábios. Havia comido quase todo o estoque de carnes da casa, precisaria ir em um açougue repor, para que os meus pais não percebessem. Não seria nada fácil explicar que não conseguia comer nada, mas que adorei um pedaço suculento de bife cru.

Lavei a minha boca no banheiro social, observando o meu rosto abatido, que era exposto no espelho. Meus olhos estavam fundos e meu rosto bem mais pálido do que o comum. Minhas bochechas nunca foram muito coradas, mas, daquela vez, estavam brancas como uma folha de papel.

Voltei para o meu quarto. Iria estudar um pouco e esperava que, até o horário do almoço, a minha aparência já tivesse melhorado. Queria não ficar preocupada, por mais que a situação parecesse cada vez mais preocupante.

Puxei uma cadeira, ouvindo o som da madeira raspando o carpete ecoar no fundo da minha mente. Iria ser bem difícil me concentrar para estudar daquele jeito, mas puxei um caderno da pilha e abri em uma das matérias que mais me interessava: anatomia. Esperava me distrair um pouco.

Alguns minutos, depois de muito esforço, passando as páginas e forçando os olhos pelas fileiras de letras, acabei fechando o livro e o jogando de lado. Não havia se passado nem meia hora e eu já estava faminta outra vez. Aquilo era muito estranho, principalmente porque eu não queria comida e sim mais um pedaço suculento de carne, com mais sangue possível.

Meu celular acendeu ao lado dos meus cadernos, que estavam sobre a escrivaninha, e o puxei para atender antes que começasse a tocar.

— Any!

— Oi, Sina! Como você está? Fiquei aqui pensando se não queria voltar comigo lá no Inferno. Quem sabe você não vê o Noah outra vez e vocês tem um round dois.

— Preciso da sua ajuda — balbuciei ao passar a língua pelos lábios, queria sentir o gosto de sangue neles outra vez, mas já não havia qualquer vestígio.

Todo aquele meu comportamento não teria qualquer explicação lógica, a não ser o fato de que o Noah havia me mordido.

— Para quê?

— Acho que ele me transformou. — Choquei-me ao constatar aquela realidade assustadora.

— Como assim, transformou?

— Acho que estou virando uma vampira.

— Está de sacanagem, Sina?! Eles não transformam qualquer um por aí. Acredite, eu já pedi. Eu não acredito que você vai no Inferno uma única vez, transa com o dono da porra toda e já volta uma vampira. Isso não é justo! Admito, estou com inveja.

— Isso é sério, Any.

— Acha que a minha reclamação não é?

— Você está em casa? Preciso que passe em um açougue e traga carne para mim, a mais vermelha e sangrenta possível. Rápido, por favor.

— É sério que está me pedindo uma coisa dessas?

— Para quem mais eu pediria? Por favor, já comi tudo o que tinha aqui em casa e preciso de mais. Não posso sair na rua porque o sol está me matando. Sinto uma dor de cabeça horrível quando entro em contato com ele.

— Tudo bem, eu vou levar a carne para você. Depois ainda tem coragem de me dizer que não sou uma boa amiga.

— Vem logo! — Desliguei a chamada suplicando mentalmente para que ela levasse o meu pedido a sério e trouxesse o sangue para mim.

[...]

Vi a Any na rua através do olho mágico e a puxei para dentro, abrindo a porta rapidamente, com medo de que o sol pudesse me causar mais coisas do que uma simples dor de cabeça.

— Trouxe para mim? — Fui tomando a sacola das mãos dela antes que dissesse alguma coisa. Estava afobada e faminta demais para ser educada.

— Ei, calma! — Segurou firme a sacola. — Tenho algo melhor para você do que carne crua. — Tirou da sacola uma garrafa de vidro, como aquelas que colocavam leite em cidades do interior, porém, no recipiente havia algo bem mais vermelho.

— Isso é sangue? — Fiquei chocada e, ao mesmo tempo, meu estômago se revirou em expectativa.

— É sangue de porco. Contei para o cara do abatedouro que era estudante de medicina e precisava do sangue para fazer uma pesquisa, mostrei uma foto minha na universidade e ele não questionou muito. Disse que tinha bastante sangue porque havia acabado de abater um porco. Não sei se é saboroso, mas desejo boa sorte.

— Obrigada. — Peguei a garrafa, tirei a tampa apressadamente e tomei tudo em apenas alguns goles, aplacando a sensação de que o meu estômago estava sendo corroído de dentro para fora.

Afastei a garrafa e limpei o sangue que havia escorrido pela lateral da minha boca com a ponta dos dedos, para depois lambê-lo, não queria perder nenhuma gota, ainda que a aparência parecesse terrível.

— Precisamos levar você para o Noah.

— Por quê?

— Você está se transformando, vai estar cheia de impulsos. Olha só como está cheia de sede. Quanto tempo vai demorar até que ataque alguém? Precisa do seu criador para que ele ajude você a conter esses impulsos.

Estava um pouco receosa quanto a procurá-lo, mas temia que a situação saísse completamente do controle, caso eu não o fizesse. E se eu acabasse mordendo alguns dos meus pais?

Balancei a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos terríveis, não queria pensar no pior. Por que diabos fui deixar aquele vampiro me morder?

Agora, estava passando por uma transição que não sabia quanto impactaria a minha vida.

O Bebê Proibido | NoartOnde as histórias ganham vida. Descobre agora