Quatro de Cem

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— Eu te disse que era duas pra esquerda, uma pra direita, você é burro, ou só se faz?

 — Se é tão esperta porque não fez sozinha? — disse Cris se virando minimamente para olhar a garota que espreitava suas ações. 

— Não vou sujar minhas mãos nessa coisa horrorosa. Pra isso que você serve.

— Credo. Empatia mandou um abraço ehn Lin. Na próxima sala você que vai ter que fazer o desafio — comentou Anny, uma garota de olhos grandes de um verde aguado.

— Não vou fazer nada, quem decifrou isso fui eu. O que fez até agora além de ficar com essa cara de peixe morto? — disparou Lin, a garota de longos cabelos ruivos revoltosos, juntamente com um olhar mortífero em direção ao canto da sala.

— Ô duas, dá pra parar, assim a gente vai ficar preso nessa merda até o fim dos tempos, e vê se agiliza essas mãozinhas aí, não tenho a vida toda pra morrer nessa sala fedorenta — falou Kayo, que permanecia sentado no sofá caindo aos pedaços.

— Não me apressa, se não vou errar de novo. Como era a ordem mesmo?

— Puta que me pariu — a única pessoa que ainda não tinha se pronunciado naquela sala apertada cheirando a naftalina, carne apodrecendo e móveis velhos demais para estarem de pé.

Cris se afastou e deu passagem para que aquela pessoa pudesse fazer a combinação certa na porta, ele não tinha gostado muito do aspecto físico daquilo desde que acenderam as luzes duas salas atrás. Todo mundo parecia assustado, sem saber bem o que tinha acontecido e o que faziam ali. Menos aquilo.

Tinha uma cara indecifrável, não esboçava reação alguma, nem mesmo quando uma voz aguda falava com eles. Não sabia se ficava mais assustado com o que ouviu, ou com a total falta de ação de Sky, seja lá o que aquilo fosse.

O clique sinalizou que tinha conseguido a combinação certa, não demorou mais do que cinco segundos virando o segredo da porta. Todos respiraram mais aliviados imaginando que a saída seria depois daquele batente; estavam todos enganados; mais uma sala apertada e mal cheirosa os aguardava.

Quando o último dos cinco entrou na nova sala, ainda precariamente iluminada, a porta atrás deles se fechou com um baque seco, a poeira do ambiente anterior e desse novo subiu no ar, trazendo junto algo novo, um cheiro doce. 

“Muito bem competidores, vejo que cinco de vocês permanecem vivos, uma pena eu diria, mas logo resolveremos isso”

Novamente aquela voz aguda vazava de algum lugar da sala, mas não era possível saber de onde, tudo tinha uma camada de poeira, mofo, algo escorrendo como se fosse tinta velha nas paredes, e agora um cheiro doce.

“Deixamos um presente pra vocês em cima da mesa. O que será que tem embaixo delas?" 

“Como foram lentos na última sala, terão um tempo cronometrado nessa etapa. Ninguém gosta de ver enrolação, afinal de contas, é pra isso que estão aqui, entretenimento barato e mortes violentas”

O silêncio era ensurdecedor, cortado apenas pela interferência das caixas de som, ninguém ousou se mexer.

“Podem ir até a mesa”

Quatro deles se aproximaram, mas não tocaram em nada, sabiam o que acontecia com quem tocava nas coisas antes de permitirem. Não queriam ter uma morte agonizante como a da última garota, ela praticamente ficou sem sangue no corpo, como era possível? 

Aguardariam as instruções e a permissão para começar a escapada. Cris ainda estava intrigado com Sky, aquilo não se mexeu desde que entrou por último na sala, parecia uma coluna da própria fundação, o rosto andrógino sem expressão alguma, mãos enfiadas nos bolsos do moletom largo; tirando a frase da sala anterior, só tinha ouvido sua voz quando disse o nome, que no caso queria dizer qualquer coisa.

Inside the CageWhere stories live. Discover now