20 - O peso da decisão I

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— Ela é alguém que estou saindo. Mas ela não é desse universo.

— Não foi o que eu percebi. Deixa a mulher decidir, Bruno.

Sempre jogamos assim. Quem decide até onde ir são elas. Nós apenas fazemos o que nos é permitido. Mas não quero mais continuar com a brincadeira. Não sei qual é a intenção da Sara. Não tive a chance de perguntar.

De fato, as coisas sempre são assim com os meus jogos. A mulher dita as regras que quer jogar, mas eu não estou entendendo o jogo dela. Ou o que ela está querendo me provar.

A ideia de trazê-la aqui nunca foi de dividí-la com alguém, mas de quebrar um pouco da ideia deturpada que ela possa ter de ambientes como esse.

Tenho amigos que não participam de nada relacionado a sexo, mas gostam de frequentar o lugar pela sua atmosfera.

É um Voyeurismo pra muita gente, estar em um clube assim, mesmo quando não participando de nenhuma cena ou jogo, já é o suficiente para esquentar a relação.

Meus amigos Simone e João, por exemplo, não tem interação sexual com outras pessoas. Em clubes, ele usam mascaras para esconder suas identidades, já que não é um ambiente tão restrito como as festas dos Harpócrates. Mas lá sim, eles tem a liberdade de brincarem com seus fetiches mais abertamente.

João é submisso da Simone. Mas fora dessas paredes, eles são um casal como outro qualquer. Ele um juiz respeitado, e ela uma artista plástica e um casal querido por muitos. Mas poucos sabem de suas predileções.

Mas e eu? Seria capaz de dividir a Sara, se ela assim desejasse? Eu teria esse sangue frio do Raul, por exemplo?

Antes, as minhas parceiras e namoradas, não existia amor, era desejo cru, algo carnal, mas nada igual ao que eu sinto pela Pequena.

Eu tentei me enganar, fugir, mas de fato estou muito envolvido com ela. Eu não sei direito o que estou sentindo, mas é muito diferente do que tinha com a Lorena, por exemplo.

Estamos conversando e vejo a Luana e Raul se aproximando. Me arruma no sofá, não quero parecer disponível para ambos, e nem que ela se sinta íntima, me agarrando, e corra o risco de a Sara nós ver assim. Não saberia como me explicar a ela.

— Boa noite, cavalheiros. Como estão? — Raul nós cumprimenta da forma calorosa de sempre.

— Boa noite, Raul, Luana. Tudo bem com vocês? — Espero que eles não se sentem aqui.

Quero tirar a Sara o mais rápido desse ambiente. Isso se ela quiser. Mas não a quero perto da Luana, uma mulher que se tornou enjoativa com sua insinuações exageradas e que provavelmente não perderá a chance de destilar seu veneno e arrogância com ela, como faz com qualquer mulher que ela veja em minha companhia.

Ultimamente, Ela não está mais nem conseguindo disfarçar seu interesse em mim, na frente do Raul. E isso pode ser um problema.

O Raul é um cuckeold, ele sente prazer em ver sua esposa com outro. Ou que ela saia com alguém sem ele e depois conte a ele o que fez no encontro.

Raul gosta de humilhação. De que a esposa diga o quanto ele é fraco e ruim de cama, enquanto a assiste transado com outro, as vezes ele até participa, tomando o sêmen, colocando o preservativo no homem, e até mesmo segurando sua esposa em determinada posição para que ela seja penetrada por outro.

Pode parecer contraditório, mas uma coisa é o consentimento do marido em vê-la com outro, isso é de alguma forma, prazeroso, mas algo feito por suas costas é considerado desleal, ele se considera traído.

E o Raul não parece ser uma pessoa que lida bem com isso. Tanto que quando a Luana tentou mais uma vez me abordar, eu avisei que contaria a ele e ela imediatamente se retraiu. Ela sabe que ele não a perdoaria.

E ela tem muito a ganhar com esse casamento. Até onde se sabe, ela era uma prostituta, e ele se apaixonou e a tirou do prostíbulo. Mas não sei até onde essa história se confirma.

Tanto eu como Marco já participamos de jogos com o casal. Mas agora, olhando para ela, seu corpo, cabelo, é uma mulher muito bonita, mas não sinto nada, nem tesão, desejo, parece sem graça, hoje nada nela me agrada mais.

Felizmente o casal estava somente de passagem e logo se despediu, saindo, e em seguida a Sara volta e se senta em meu colo. E me surpreende ao vê-la sorrir para o Marco.

O que ela pensa estar fazendo. Porra, ela quer que ele a toque. Que merda Sara. Essa não era a ideia. Penso. Estou em Pânico. O que eu vou fazer? Olho para seu rosto e não consigo ler suas feições.

Estou sem conseguir decifrar seu comportamento. Ela vai permiti-lo colocar a boca em seu mamilo? Eu sinto um desconforto que nunca experimentei na vida. Só eu deveria toca-la assim.

Meu coração da um pulo. Eu quero esmurrar Marco, mas Sara o incentiva erguendo seu vestido. Ela só pode estar brincando comigo.

Que porra de jogo é esse que ela está fazendo? O que ela quer me provar? Ela vai deixa-lo sentir seu gosto, mas era somente a minha boca que deveria ter esse direito.

Estou desesperado, preciso interromper essa merda, mas ela me olha de um jeito que eu não entendo eu me quebro por dentro em vê-la ser tocada por outro. Isso não deveria estar acontecendo. Não era isso que eu queria como resultado da noite.

Ela é minha, caralho. Travo minha respiração. Eu preciso agir, acabar com essa merda, mas sou covarde e não faço.

Então ouço um soluço dela e só agora entendo o que eu acabei de permiti acontecer.

Ela me testou, e eu não soube interpretar o que ela queria de mim. Eu só tinha que ter interrompido, mas não fiz.

Eu a perdi. Eu sei disso. Ela se levanta e sinto seu cuspe atingir minha face. Daria minha vida para não ver a decepção que ela estampa em seu rosto.

Eu sou um merda, um covarde. Ela estava me testando. Como eu não percebi isso, porra, eu sou advogado, eu sei lê a postura das pessoas, mas o que deu de errado comigo?

Perdi meu prumo. Estou desesperado. Como eu vou consertar isso? Como vou receber o perdão dela. Eu a amo, meu Deus, eu a amo mais que tudo, como pude deixar as coisas chegarem nesse ponto? Eu precisei deixar um homem chegar onde chegou para eu perceber que a amo.

— Pelo amor de Deus, Sara, não faça isso. — Me levanto com tanto pavor. Não vejo nada. Minha respiração está pesada, meu peito se aperta.

O que será isso que estou sentindo? Parece que vou explodir por dentro. Nunca vivi esse tipo de sentimentos antes.

A vejo andando como se estivesse perdida. — Sara, por favor, me escuta. — Ela me olha tão fria que tenho medo. Preciso me explicar.

Meu chão se abre e me engole quando ela diz que tem nojo de mim. Isso não. Por favor. Sinta raiva, grite, me bata, mas não faça eu sentir esse medo que estou sentindo.

Lágrimas tapam minha visão. Meu estômago está uma verdadeira tempestade.

Me aproximo dela, que se vira pra mim, está tão ferida, tão magoada que não sei se tem conserto. A minha pequena está decepcionada comigo.

Ela fala, assume seu amor, e as verdades que ela diz tem um peso tão grande, que duvido ser capaz de suportar.

Ela sai andando e some em meio a fumaça do lugar. Estou sem direção. Preciso fazer alguma coisa. Ouço alguém em chamando.

O TOQUE PROFANO - Livro II Where stories live. Discover now