Capítulo 40

4.6K 477 178
                                    


Ninguém nunca me disse que fazer um jantar seria malditamente difícil. Sabemos que eu não sou o cozinheiro da casa, mas eu tento. Só que dessa vez eu estou tentando demais. Queria que tudo saísse perfeito. Mas julgando pelo tofu esmagado e sem gosto, nada estava indo conforme o imaginado. 

Patrick iria embora em exatas duas semanas e saber disso estava me deixando ansioso. Talvez não esteja informando do modo direto, mas eu estou fodidamente ansioso. Nesse meio tempo eu tentei fazer mais de cinquenta tortas de limão, aprendi a cozinhar tofu - isso não saiu muito bem -, comprei roupas, porque na minha cabeça seria bom ele ter camisas legais para vestir; além do mais, desenvolvi uma estranha mania de observá-lo, bem mais do que eu já fazia.

Era uma sensação de perda crescente, o abandono que será daqui a pouco quando eu não poderei vê-lo toda vez que quisesse. Às vezes, quando estávamos dormindo naquela desconfortável cama, o pensamento de que eu dormiria sozinho no colchão horrível me causava insônia. O mais inebriante era que nem namoramos a tanto tempo assim, não para o nível de estresse que eu venho negando nessas últimas semanas. 

- Lucca, você deveria temperar com duas colheres de limão, salsinha, uma colher de sopa de chá de azeite, manjericão. Misturar tudo no mixer, aí então você passaria como uma pasta na tortilha, garoto! 

Minha mãe parecia decepcionada ao ver a minha falha tentativa de fazer um prato vegano. 

- Eu fiz isso, mulher! - Viro a câmera em minha direção, desistindo da tortilha. 

- Você pode sempre pedir comida filho. Cozinhar não é o seu forte. - Concordo.  - Lucca, tira essa cara de tristeza do seu rosto, não combina com você. 

- Eu não estou triste. - Murmuro, me sentindo desoladamente triste. 

Ouço o suspiro de minha mãe e essa já era uma indicação de que ela iria vir com mais um de seus sermões. Talvez eu não devesse ter ligado para ela três dias depois que Patrick me contou que iria embora. Por um momento, eu tive alguns minutos de lucidez e tudo o que não expressei na hora em que Patrick me contou, veio a tona. E a única pessoa que eu pensei em me acalmar foi minha mãe. Adiantou, mas esse momento de fragilidade disse mais do que qualquer palavra que eu tente dizer para ela agora. 

- Eu entendo que você está triste e sem noção do futuro. Vocês são recentes, além disso, você saiu de uma relação e pulou para outro muito rápido. Mas entenda, faça sua parte. Se sentir que deva esperar por ele, espere. 

- Em um ano pode acontecer muita coisa. - Murmuro encarando o tofu. 

- Claro que pode. E você só pode esperar para ver, pare de se martirizar. Se quiser eu pago suas passagens para ir vê-lo, porque ver você assim parte o meu coração. 

Sorrio quando noto que ela parecia estar prestes a chorar. 

- Para com isso, mãe! - Começo a rir, incrédulo que ela realmente estava chorando por mim. 

- Viu o que você faz comigo? Eu sou sua mãe, eu sinto muito pelos meus filhos. - Diz, secando o rosto.

- Até aqueles que não são seus favoritos e não te darão netos? 

- Preste atenção, você vai me dar netos, queira você ou não. Vá terminar esse prato aí, não esqueça de temperar. Dá para comer ainda. 

- Ok. Obrigada. - Ela me dispensa com um sorriso único de quem sabia o que iria acontecer nos próximos sete anos da minha vida. 

Coloco mais esforço em tentar refazer o mal feito, o resumo da minha vida. 

°°°°

Beije-me da forma como quer ser amado (EM BREVE NA AMAZON)Where stories live. Discover now