Capítulo 17- Não ressucitará dos mortos

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-Talvez...-comentou pensando no rumo em que suas palavras estavam destinadas-Todas as mulheres que Antônio namora?-debochou arracando risadas de ambos.

-Você pode ser um bom humorista,Jhon. Mas é um péssimo mentiro...-comunicou-Eu te conheço desde que eramos piralhos e desvendavamos os mistérios contidos nesse bosque. Você nunca me enganou e seja por isso que nossa amizade durou tantos anos...-confessou-Você sempre tendeu a se apaixonar pelas paixões de Antônio, por que talvez quisesse entender o motivo por qual ele as amava e não a você...

-O quê? Como...-seu murmúrio lamurioso se perdeu e dificilmente chegara todo em meus ouvidos.

-Antônio é explosivo, aje pela emoção do momento...Quando aconteceu entre vocês dois ele veio chorando até mim, talvez parte porque se arrependera ou porque uma parte sua havia gostado demais...Eu não ligo para o que sentem ou fazem, desde que isso não me pertube a noite, eu não me meto...

O silêncio constrangedor inundou o ambiente com tal força que minhas bochechas se esquentaram automaticamente. Christopher pigarreou algumas vezes e saboreou seu café cheiroso outrora.

-A floresta está muito calma...-refletiu ao amigo inquieto-Quase como silenciosa...

-Eu percebi...-comentou Jhon-Está chegando a hora novamente...

-E precisamos que Antônio volte...-comentou-Lhe darei mais alguns dias para se libertar do luto. O que foi feito, está feito! Júlia não ressucitará dos mortos, isso eu me certifiquei!-apontou quase como, soando, orgulhoso.

A camada de minha pele se arrepiou com a força brutal e frenética de suas palavras. Teorias se formavam com a força magnética que meus pensamentos em turbilhão se constituiam. Christopher seria capaz de matar alguém friamente e se glorificar? Eu não gostaria de descobrir o quão perigosos são...

E quanto segredos escondem...

Alguns minutos foram o suficiente para espantar o silêncio que inundara o ambiente, agora, recém coberto pelo vazio e o barulho que proporcionava dois homens com a testosterona elevada. O som do metal reverberando contra as cascas duras de uma árvore cobria meus ouvidos irritadiços e os raios solares iluminavam meu rosto sem cessar. Mesmo tampando-o com o lençol fino e permeável, o sono havia a muito tempo me abandonado.

Suspirei frustrada, levantando-me com os cabelos desgrenhados e possivelmente cheios de nó em direção ao cheiro de café fresco contra os cômodos. Meu estômago despertou automaticamente e logo me vi abrindo a geladeira a procura de alguma coisa comestível, revirando armários com as pontas dos pés contra o assoalho ainda frio pela noite.

Caminhei com um pacote de torradas e um xícara de café em direção aos sons à fora, abrindo a porta que servia como mosquiteira, avistando Jhon à alguns metros ao longe enfiando uma espécie de estaca de ferro com seu machado contra um grandioso tronco afim de quebra-lo ao meio e assim o fez. Seu peitoral extenso e frenético pelo exercício debatia-se ferrenho e meus olhos não deixaram de analiza-lo um segundo sequer, quando, o suor em pingos deslizavam por sua testa e pingavam sobre as sobrancelhas. Seus olhos negros devolveram o olhar, misteriosos como a noite e um sorriso ladino se apossou de seus lábios enquanto seu músculos se retesavam e dividiam-se com a força aplicada do instrumento contra o tronco.

-Ram...-um resmundo partiu do outro ao meu lado, mal-humorado-Bom dia...-comprimentou averiguando a minha fome desenfreada pelo kit ao qual minhas mãos carregavam.

-Eu estou com fome...-comentei de boca cheia dando de ombros-Espero que não se importe...

-Tudo bem, Megan. Sente-se...-ordenou dando batidinhas em sua perna. Revirei os olhos, mordendo mais uma das torradas e sentei-me-Ram...-resmungou novamente em sua própria língua primitiva. Suas mãos correram em meus fios espetados e começaram a destrançar o caminho feito a noite passada, quase em um carinho implícito.

Enquanto o barulho do metal se chocando cortava tudo aos quatro ventos, uma caminhonete enorme, azul-metálica trilhava o caminho obscuro entre o fim das árvores e o começo da inclinação da colina em direção a cabana. Me remexi inquieta e Christopher acordou de seu transe franzindo o cenho e encarando o mesmo ponto que eu.

Quando chegou próximo o suficiente para Jhon parar o que estava fazendo meus lábios sibilaram uma pergunta que silenciaria toda minha curiosidade desenfreda, no entanto, não ouve resposta para tal até que botas marrons e calças desbotadas em um azul escuro cruzassem o vão que a grandiosa porta escondia. Quando o reverberar do machado fora largado, conjunto à porta do carro, um homem loiro, com aparência da mistura entre anjo e demônio caminhou em nossa direção; a varanda. Seus braços lotados por tatuagens fizeram meus olhos se arregalarem e meu estômago protestar contra a comida.

Era ele.

O homem que invadira a cabana de Peter. Inconfundível. Mesmo estando de máscara e não sabendo seu rosto, seu corpo monstruoso repleto por riscos esfumados e em negrito gritavam em um alerta de perigo iminente.

Meus olhos alcançaram Jhon, abraçando-o apertado. E senti as mãos de Christopher apertando meus ombros e um calafrio se instaurou por todo meu corpo. Os três.

A arritmia de meus coração tompou meus ouvidos e minha respiração se perdeu no ar. A xícara presente em minhas mãos trêmulas persoadiu-se em cacos ao chão quando aquela noite voltou em um vislumbre, como se eu nunca tivesse saído da mira dos caçadores. E no entanto, estava convivendo com eles, então sabiam quem eu era?

Como era possível? Se eu estava a quilômetros de distância de seu rastro? Aquela camada gelatinosa ainda era uma incógnita, mas agora, de repente, aqueles três não eram. Eles poderiam me matar como mataram todos os meus amigos. Jenne, Thomaz, Peter...

Levantei-me no automático antes que a bile rasgasse minha gargante e como se estivesse em câmera lenta vi Jhon e o homem loiro me encararem e Christopher franzir o cenho preocupado com minha expressão talvez em puro choque ou espanto. Um misto dos dois, portanto. E meus pés correram para dentro da casa, antes que eu raciocínasse que precisava fugir sem olhar para trás.

De volta à Cabana (Disponível Por Tempo Determinado)Where stories live. Discover now