Corações desatentos

SUPONHO TANTAS COISAS, MAS NÃO SEI

Nós nos levantamos e nos despedimos na calçada. Eu estiquei a mão e ele se aproximou para me abraçar, numa confusão constrangedora. Acabamos caindo na gargalhada e percebi que a risada dele era meu mais novo som favorito.

⸺ Te mando mensagem.

⸺ Vou ficar esperando ⸺ disse enquanto dava aquela piscadinha que me derretia todo.

Fui para casa pisando em nuvens, se Bea me matasse por atrasar o jantar, morreria feliz.

***

Aquele fim de semana passou voando, fiquei trancado em casa fazendo trabalhos da faculdade e quando percebi, já era segunda novamente.

Decidi mandar uma mensagem para Alex, mas não gravei o número no celular, então lembrei da calça que usei na sexta, o guardanapo deveria estar no bolso. A encontrei no varal e vasculhei os bolsos à procura do que poderia ter restado, mas só havia um bolinho derretido e ilegível de papel. Queria chorar!

Na terça, cheguei na clínica pronto para pedir o número de Alex para Nora, assim, como quem não quer nada, mas ela não estava, Rafael lhe deu folga. Pensei em ir até o apartamento deles, cheguei a parar em frente ao portão do prédio, mas fiquei com vergonha e desisti. O que eu diria? "oi, perdi seu número na máquina de lavar roupa"? Ridículo!

Passei a semana esperando ver Alex sentado do outro lado da rua, como naquele dia, mas isso não aconteceu. Fiquei de mandar mensagem e não mandei, ele deveria achar que eu não estava interessado, mas estava, e só o vi duas vezes! Me sinti um idiota, realmente deveria ter ido atrás dele no apartamento, mas não fui e já era sexta novamente.

Cheguei em casa desanimado e, obviamente, Bea percebeu, ela não deixava nada passar despercebido.

⸺ Que cara é essa, maninho? Teve visita das crianças hoje?

Uma vez a cada 15 dias as professoras do ensino fundamental levavam as crianças para visitar a biblioteca, era um jeito de incentivar a leitura e eu achava muito legal, mas depois que iam embora, a sessão de gibis ficava em estado de calamidade pública e tinha que arrumar tudo sozinho.

⸺ Bom se fosse ⸺ respondi enquanto me jogava no sofá.

Bea sentou ao meu lado e contei todo meu drama adolescente a ela, que escutou atentamente. Esperava que me desse algum conselho, pois era muito boa nisso.

⸺ Caramba! A Nora arrasa mesmo nesse lance de cupido ⸺ disse rindo. Não era o que eu esperava ouvir e a olhei confuso.

⸺ Você ouviu todo meu drama e a única coisa que tem a dizer é isso? ⸺ perguntei abismado com a indelicadeza de minha irmã.

Ela riu ainda mais.

⸺ Henry, não seja tão dramático. Claramente esse Alex gostou de você, e você gostou dele ⸺ disse com um sorrisinho malicioso e apenas revirei os olhos. ⸺ Vai até lá e chama ele para ir naquela baladinha perto do campus.

⸺ Ah, claro. Vou chegar assim, do nada, depois de ter sumido por uma semana, e chamar ele para sair ⸺ ironizei.

⸺ Melhor do que ficar em casa chorando em plena sexta-feira a noite.

⸺ Ok. Eu vou! ⸺ disse suspirando e levantando do sofá. ⸺ Mas se não der certo, a culpa será sua.

⸺ Que a sorte esteja sempre a seu favor ⸺ disse, solene, e saiu correndo escada acima enquanto ria da minha desgraça.

Tomei banho, vesti uma roupa legal e caminhei até o prédio de Alex, pensando em como iria chamá-lo para sair, tinha certeza de que ele estava chateado comigo, pois eu ficaria, se fosse ao contrário.