Capítulo 15- Um de nós irá morrer

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A fome parecia não querer me abandonar e assim que meu prato já estava suficientemente limpo, o ronronar barulhento reverberou pelo ambiente e Christopher lançou-me um olhar acima das pestanas ruivas. O homem levantou-se pegando meu prato e surgiu com a porcelana quente novamente pela sopa presente. O caldo agridoce banhava minha papilas degustativas e meus olhos se fechavam sob a fumegancia do vapor em apreciação. No entanto, na terceira vez, quando já tinha ganhado a atenção de Jhon em admiração e contentamento, minha visão começou a se turvar e um sorriso preguiçoso se desabroxava. Meus olhos pareciam moles o suficiente como um puré de batata, prestes a desmanchar.

-Isso é muito bom!-comentei admirada em direção ao moreno recluso e taciturno-Me pas-s-sa a receita?-questionei, mas logo lembrou-me de quem eram e o que poderiam causar-me-Não!Obrigada!-levantei em um baque disposta e preparada para fugir daquela pequena cabana sufocante com dois homens enormes, porém, meus pés traidores me traíram e deixaram que a caminhada se perdesse em um tombo entre o encontro de minhas pernas. As palmas da mão foram rápidas o suficiente para agarrar-se ao pilar com farpas de madeira que protestaram contra meus dedos macios.

Ao olhar vislumbrei três Christopher e dois Jhon me encarando confusos. As sobrancelhas do ruivo se arquearam em direção ao moreno-O que você colocou na maldita sopa?-questionou corado pela furia que apossava de suas veias.

-Um pouco de vinho...-respondeu agitado-Talvez, algumas doses do meu wiskey envelhecido?-confessou parecendo notar apenas agora. O meu estado denotava a presença de álcool passando pelas veias, deparando-se com bochechas coradas e olhar perdido. Sorriso impecável e gentil, destinado a situação desconcertante, nunca à eles.

-Porra!-anunciou levantando-se e caminhando em minha direção ao notar que escorregava aos poucos em direção ao assoalho frio, contudo, mãos fortes frearam-me-Você já ficou bêbada antes?-questionou abismado.

-Não!-respondi em meio ao um fio de voz-Não sabia que era tão legal....-confessei sorrindo levando as mãos para sua grandiosa barba e perdendo meus dedos de vista. Seus olhos se arregalaram e a doçura de meu ser, como um terrível criança fazendo algo proibido, inundou Chritopher como um dilúvio, afogando-o em um mar vicioso e deslumbrante, até se afogar. Imediatamente, se afogando. Era o que seus olhos transmitiam, ao menos. Ou fosse o álcool coadjuvante de uma mente fértil dissoadindo a realidade.

-Venha, eu vou cuidar de você...-pegou-me sob seus braços fortes em direção as escadas à cima. Minhad mãos bagunçavam os fios ruivos dele, sedosos como um tecido fino, enquanto a outra vagava pelo ar abafado do segundo andar em desenho e caminhos imaginários. Meus dedos rocharam a madeira, enroscando em alguns furos ou teias de aranha-Não repita essa experiência novamente!-repreendeu passando pelas porta do banheiro, colocando-me sob a jato gelado de água, após mexer com a temperatura do chuveiro.

-Não!-tentei sair do box e relutar contra suas mãos, com a pele arrepiada sobre a blusa, mas Christopher agarrou-me empurrando-nos, ambos, em direção a torrente que caia do chuveiro-Christopher!-murmurei quando a água inudou meus cabelos e roupas secas, fiquei na ponta dos pés pois os dedos se retraiam contra o mármore gélido-Christopher...-ofeguei desistente encostando a cabeça contra seu peito e tentando encobrir o choro que corria livre-Me solte...-murmurei contra o tecido úmido-Eu quero voltar para casa...-desabafei inconstante, me entregando a corrente que nós cercava.

-Aqui será sua casa agora...-resmungou afastando-se para longe do chuveiro com seu corpo junto ao meu, grudados. Christopher passava seu calor corporal para meu corpo enquanto esticava uma mão até um dos armário e pegava uma toalha para embolar-me trêmula-Eu serei bom para você, prometo!-confessou olhando em meus olhos, fazendo meu corpo se retesar em estado de alerta. Ele não era confiável. E eu precisava conter meus sentimentos e desmontrar o mínimo que fosse-Será como da primeira vez...-um esboço de sorriso perpetuou seu rosto.

Esmagou minhas mechas de cabelo entre os dedos tirando o excesso de água presente e começou a desabotoar os botões do blusão e mesmo que tentasse recuar, poupei esforços quando a camisa caiu ao chão e o calor da toalha aqueceu minha pele exposta. Suas mãos apertaram contra cós de minha calça jeans molhada, arrancando-a de meu corpo e deixando que ambos os tecidos caíssem ao chão.

Suas mãos agararam meu braços me conduzindo para fora do cômodo em direção a porta de seu quarto no corredor embebido em escuridão. Meus passos marcavam a madeira após, deixando-a molhada e pingos caiam do meu cabelo avermelhado. O álcool ainda estava presente no meu corpo, mas o estado de desequilíbrio físico e mental havia se dissipado com o banho glacial.

O ruivo caminhou até a cômoda em um dos cantos do quarto rústico trazendo uma de suas roupas secas-Preciso secar seu cabelo...-comentou mais para si do que para mim de qualquer forma, estava entretida em qualquer coisa que não fosse sua presença sufocante-Não quero que fique resfriada...-murmurou me estendendo o blusão e caminhando para fora do quarto-Acho que Antônio pode ter um secador de sua antiga namorada por aqui...-avisou-me-Se troque, Meg, trarei sorvete de baunilha, ainda é um dos seus preferidos?-questionou com o olhar iluminado com as mãos apertando o batente do portal.

-Uhum...-reverberei movimentando a cabeça em sinal positivo. Espera, como ela soube? Meg? Franzi a testa confusa e deixei a toalha cair vestindo rapidamente outra de suas roupas, mesmo com a calcinha encharcada pela ducha, não arriscaria perde-la de vista. Liguei um dos abajures, deixando o quarto ser inundando pela penumbra de sua luz junto a Lua adentrando as persianas. Fechei meus olhos mínimamente para poder escutar o coração retubante da floresta junto ao meu e logo, Christopher atravessava a porta com um secador e um pote de sorvete com uma colher em mãos. Por quê se importar tanto assim, oras?

-Eu não deveria estar presa ou acorrentada em um porão neste instante?-debochei enquanto ele me chamava com uma das mãos livre para perto de uma tomada a encosta da lareira-Que tipo de sequestro é esse?-argumentei caminhando.

Um suspiro seu cortou o ar e suas mãos agarram as mechas quando o secador começou a seca-las. Os cabelos ruivos chegavam a bater contra minha cintura, despontados no entanto. Christopher os manuseava com maestria, preferenciamente a parte interna que ainda respingava em seu tapete.

Alguns minutos depois, antes que eu caísse de cara ao chão, tombada pelo álcool e inebriada por sono, o barulho insistente do secador sessou-se e dissipou-se cabana à dentro-Vá para a cama...-ordenou enquanto organizava o fio do eletrônico entre os dedos.

Puxei o lençol branco e me enfiei sob ele, aquecida, enquanto o ruivo me encarava atentamente como um falcão-Você vai dormir no chão, não vai?-questionei e vi uma de suas sobrancelhas se arquearem sob o escuro que pintava alguns cantos do quarto-Quer dizer, só tem uma cama....Eu não vou dormir com um desconhecido!-apontei-Posso dormir no chão se preferir. Eu respeito os mais velhos...-ironizei sorrindo encostando-me sob a cabiceira e vendo-o caminhar em minha direção e estender o pote para pega-lo.

-Coma e fique quieta!-murmurou, tomando espaço ao meu lado, me puxando sem nenhuma dificuldade para seus braços, entre suas grandiosas pernas. Mãos grossas começaram a trançar em duas partes meus longos fios, no momento em que  eu enfiava o sorvete à boca. Quando terminou por faze-las e minha boca já estava lambuzada pelo doce cremoso, o homem misterioso e esquisito puxou meu corpo contra o seu abraçando-nos, de forma a ficar com o rosto enfiado na curvatura de meu pescoço. Descansando?

-O quê?-questionei-Christopher você não vai me comprar com meu sorvete preferido!-anunciei-Acho que eu mereço a cama...-argumentei-Você me sequestrou, agora terá que arcar com as consequência! Farei de sua vida um inferno...-prometi ouvindo-o bufar e sorrir meramente.

Seu corpo se afastou do meu e presenciei quando o abajur se apagou para o homem puxar um dos travesseiros da grandiosa cama, que caberia suficientemente três corpos,  se deitando ao chão felpudo do carpete posto.

a domadora do lobo-mau?


De volta à Cabana (Disponível Por Tempo Determinado)Where stories live. Discover now