Capítulo 01 - Danilo

Começar do início
                                    

Abro meus olhos e me sento direito na cadeira. Todos os rostos estão inclinados na direção do meu avô, inclusive o meu. Ele só abre a boca nessas reuniões para pontuar coisas muito importantes que não podem ser resolvidas em particular com o responsável. Logo, seja lá o que estiver para sair daquela cabeça teimosa, não deve ser boa coisa.

— O Grupo Torres é pioneiro em construção civil, Presidente. — Argumenta Marcos, meu irmão mais velho, sentado do lado esquerdo do meu avô. — Independentemente das mudanças do mercado, nossa empresa ainda será a primeira opção no ramo.

— Besteira! — Vovô rebate. — Estamos ficando para trás e os números que Tales apresentou só confirmam o que estou dizendo. Essa empresa toda vai ruir se não pensarmos no futuro.

— O Presidente tem razão! — Tales mexe em alguma coisa no notebook. O slide muda e não consigo conter o sorriso quando vejo os dados da minha empresa projetados na tela. — A Eco Habitação tem tido excelentes resultados no ramo da construção civil sustentável.

— A construção civil sustentável custa caro, Tales, e acho que o problema aqui sempre foi o corte de gastos. — Marcos alfineta.

Ele nunca gostou da Eco Habitação e gostou menos ainda quando minha empresa cresceu o suficiente para se tornar relevante dentro do Grupo em apenas cinco anos de funcionamento. Ao contrário de Marcos, que está preso a ideia idiota de que empresas grandes não saem do mercado, eu penso que além de saírem do mercado, elas vão a falência muito fácil, portanto é necessário se reinventar todos os dias.

Enquanto meu irmão acha que minhas viagens ao exterior são perda de tempo e dinheiro, eu aproveito para conhecer as tendências em construção civil internacionais e trazê-las para a Eco Habitação. Tudo bem que talvez seja verdade que eu gaste um pouco além da conta nisso e faça mais do que apenas observar prédios quando viajo, mas é mero detalhe. O importante é que descobri que a construção sustentável é um excelente negócio, além de ser justamente o que faltava para o Grupo Torres sair da mesmice e começar a ser notado de novo pelo mercado.

— Para mim é muito claro que o Grupo Torres não pode mais continuar estagnado. Esta empresa precisa de alguém jovem e que pense nas coisas antes delas acontecerem. — Meu avô se apoia na mesa e se levanta devagar, puxando o microfone consigo, o que causa um barulho dos infernos.

— E qual seria sua sugestão de melhora, Presidente? — Meu irmão questiona.

— Está na hora de desocupar minha cadeira.

As palavras dele despertam uma série de murmúrios confusos e incrédulos pela sala de conferências. Sinto uma pontada forte na cabeça, bem acima do olho direito, e pisco algumas vezes para tentar encontrar o sentido daquilo tudo. Desocupar a cadeira? Ele não pode estar falando sério... Ou pode?

— Vô, o senhor... O que o senhor quer dizer com desocupar sua cadeira? — Marcos começa a gaguejar, pálido e assustado como se tivesse ouvido sobre a morte de alguém conhecido.

— Eu quis dizer exatamente o que eu disse. — Vovô afirma de forma severa. — A empresa não é mais uma pequena firma de empreita e eu não tenho mais juventude ou saúde para lidar com as mudanças que vêm ocorrendo no mercado. Entre vocês deve haver alguém que saiba o que fazer. — Ele passa os olhos por mim. Então se vira completamente para o slide no telão com a logo da Eco Habitação.

Ah, não! Ele não está blefando para deixar os acionistas em pânico. Meu avô quer mesmo se aposentar e, aparentemente, ele já me tem na mira como seu sucessor.

Faço um sinal agitado para uma secretária me trazer um copo d'água antes que eu vomite o uísque de ontem no chão da sala. Tantos dias durante o ano para meu avô soltar uma bomba dessas e ele escolhe justo hoje para dizer que não está mais a fim de presidir o Grupo. Logo quando estou com uma ressaca tão forte que me impede até mesmo de fazer um discurso decente.

Se a gente se casar domingo?Onde histórias criam vida. Descubra agora