Prólogo

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TRÊS SEMANAS.

Três semanas de pura aflição, ansiedade e preocupação. Arrependimento. Temor.

Três semanas sem dormir direito, apenas pensando no pior; o medo atingindo meu peito como um raio forte, um sentimento amedrontador de perdê-lo.

Vejo Alfredo nesse estado há três semanas. Justo ele, um homem sempre tão cheio de vida, com um sorriso largo e contagiante nos lábios, seus intensos olhos azuis brilhando e irradiando uma felicidade espontânea de dentro dele; justo ele, amante de seus percursos matinais e exercícios físicos, e gosta de se movimentar, de jogar futebol com Enzo. Agora simplesmente está incapaz de qualquer coisa e não pode realizar suas atividades favoritas. Não sorri, não gargalha, não brinca, não abre os olhos. Está dependente de cuidados e, até alguns dias atrás, nem respirava sozinho. Estaria morto se não fosse a ajuda das máquinas e de mãos humanas. As mesmas mãos humanas que salvaram sua vida, quase a arrancaram dele.

Há um pequeno sentimento de culpa dentro de mim; me incomoda, me machuca e me faz sentir um medo avassalador. Eu pondero, se não fosse meu plano de vingança contra ele, jamais o viria nessa situação. E eu não quero nem imaginar como será quando Alfredo despertar. Se despertar, minha mente apavorada acusa.

Meus olhos pesam de sono. Estou desconfortavelmente sentada em uma poltrona, quase dormindo, ouvindo o som irritante e constante das máquinas o monitorando. Levanto-me e ando pelo quarto tentando despertar o sono e não dormir. Ainda são quatro da manhã, meu turno só acaba às oito.

Em dois dias completa exatas três semanas que Alfredo está assim, e, orando baixinho a todos os deuses e santos, peço pelo seu despertar, pois se ele ficar mais um dia nesse estado, não sei se suportarei.

De repente, ouço um pequeno resmungo e miro Alfredo, abrindo os olhos vagarosamente. Uma faísca de esperança se irradia dentro de mim, meus olhos se enchem de lágrimas. Ele está acordando, e eu quase não posso acreditar nisso. Esperei ansiosamente por esse momento desde quando fomos alertados pela equipe médica de que, se seu coma perdurasse por mais de três semanas, provavelmente não acordaria nunca mais e estaria destinado a vegetar pelo resto de sua vida. "Oitenta e cinco por cento", disse o médico, na ocasião, sobre a possibilidade de Alfredo permanecer em coma para sempre. Essa possibilidade me amedrontou por todos os dias e fez meu coração disparar.

Como se todos os deuses estivessem atendendo às minhas fervorosas preces, Alfredo está despertando, e a alegria em mim não é comparável a nada. Eu quero somente abraçá-lo, chorar em seu ombro, dizer-lhe como me preocupei, como sua vida é importante pra mim. Mesmo depois de tudo que passamos.

Dou três passos largos até ele, eufórico, e fico ao seu lado, vendo-o despertar devagar. Seus olhos se abrem definitivamente, Alfredo olha ao redor, confuso e talvez desnorteado, tentando se localizar. Seus olhos azuis encontram os meus, e eu me sinto tão feliz em vê-los. Como nunca senti antes.

Durante os últimos vinte e um dias eu só temi o pior, por alguns dias imaginei e temi nunca mais ver sua íris azul a brilhar, ou seu bom humor emanando de suas veias, imaginei nunca mais ouvir sua voz ou ver seu sorriso malicioso no canto dos lábios. Isso me aterrorizava. Eu não queria perdê-lo, não dessa maneira. Mas, agora, vendo-o acordar, a esperança de que ele ficará bem renasce. Nunca em minha vida, nem mesmo quando ele foi embora para França e me deixou com um rasgo no peito, desejei tanto ver seu sorriso, sentir seu cheiro ou ouvir sua voz. Agora ele acorda, sinto que ficará bem. Pelo menos fisicamente. Ainda há notícias ruins para lhe dar.

Observo como seu rosto está pálido, e seus lábios, secos, enquanto ele me olha. O rosto em uma barba malfeita e espessa, envelhecendo-o sobremaneira, mas não tirando sua beleza peculiar e extravagante; os cabelos curtos cresceram, estão exatamente como ele costumava usar na juventude, quando nos conhecemos.

— Lí... via... — pronuncia finalmente com dificuldade.

Pouso minha mão sobre seu peito largo, subindo e descendo pesadamente em uma respiração ofegante.

— Oi... — sussurro com um pequeno sorriso. Seguro minhas lágrimas.

— O-nde... e-estou? — Sua voz, antes rouca e grossa, agora é fraca e entrecortada.

Respiro fundo e tento segurar sua mão.

— No hospital, Alfredo.

Seus olhos me encaram por alguns segundos, e ele parece confuso. Quase posso sentir a confusão dentro dele, se perguntando por qual motivo estaria em um hospital. Rezo a Deus para ele não se lembrar, por hora, da terrível tragédia caída sobre os ombros.


Amor à Segunda Vista 2 (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora