– Esse Heller está há mais de dez mil quilômetros daqui, e você mesma disse que ele não sabe nem usar um smartphone. Ele provavelmente vai passar mais tempo tentando se ajustar às duas décadas que ele perdeu do que usando o Enon dele para fazer mal a alguém.

– Shane, eu vim questionando tudo o que ele disse no nosso tempo em Ladiran. Ou até antes, o que ele disse que aconteceu ao longo dos livros. Tudo o que ele nos fez acreditar sobre a Terra sombra, Ladiran, ele mesmo, Hiles... Ele disse que Hiles não queriam voltar para a Terra e que ficavam desorientados ao chegarem em Ladiran, por isso iam para o lado claro e não seguiam o conselho dele de ficar pelo lado escuro, mas ele não parecia desorientado, fez o contrário de todo mundo indo para o lado escuro e passou anos planejando uma forma de voltar para cá para rever a família.

– Vai ver que os outros Hellers de Ladiran não eram tão apegados à família – Shane dá de ombros.

– O Raj matou o pai. Quão apegado ele pode ser ao Raj depois de ter sido assassinado pelo próprio filho? – questiono, tentando provar o meu ponto. – E mais do que isso, ele falava com carinho sobre a família. Será que ele sabe que o Raj o empurrou pra dentro do canal? Será que...?

– Baixinha, que diferença isso faz na sua vida? – Shane pergunta, me olhando pela primeira vez desde que essa conversa começou. – O Raj deveria ser a pessoa a se preocupar com isso, não você.

– Me preocupa porque o Raj disse que o pai tinha ódio de Encantadores e fez a cabeça dos irmãos mais velhos dele sobre nós. Fora que ele manipulou o Arthur e eu por meses. O Arthur por muito mais tempo, aliás, porque durante quase três anos ele entrava pelo menos uma vez a cada quinze dias na cabeça do Arthur, o fazendo escrever sobre Ladiran. E mais do que isso, você se lembra da prova do Professor Bollini que fizemos juntos?

– Você diz separados, porque você preferiu proteger o Jake a me contar a verdade.

– Separados porque eu amo vocês e não queria que o meu relacionamento com ele prejudicasse a amizade de vocês.

Shane volta a prestar atenção em seu jogo sem retrucar porque esse período longe da gente foi horrível para nós três e não gostamos nem de lembrar, que dirá falar sobre o assunto.

– De qualquer forma, você se lembra que o Arthur começou a escrever no livro dele no meio da prova e ficou com os olhos pretos? – pergunto.

– Claro. Foi bizarro.

– Pois é. Depois que eu parei para pensar sobre como os Hiles nos acharam e nos atacaram na faculdade pouco tempo depois disso acontecer, eu supus que essa pessoa que o "possuiu" tivesse ouvido o Professor Bollini falando sobre a prova de encantos porque na hora que ele ouviu isso, o Arthur parou de escrever. E se o pai do Raj tiver escutado "prova de encantos", passado o olho ao redor, visto que era uma sala de aula, gravado os rostos de todos nós, mandado algum sinal para os Hiles dessa dimensão, tudo isso antes de eu anular o Enon Hile da sala? Me pergunto se ele tem as mesmas habilidades que o Arthur ou se é da ordem dos intérpretes, mas Hile. Se ele consegue falar com Ladiran daqui e avisar para todo mundo que se eles quiserem voltar com 10 mil pontos de Enon para cá, eles só precisam...

– Haley. – Shane toca a minha mão, me impedindo de continuar. – Você está se preocupando com uma coisa que você nem sabe se é real. E mesmo que seja, o Arthur vai ficar sabendo de tudo o que estiver rolando, tanto aqui quanto em Ladiran, porque ele tem acesso às duas redes de comunicação, certo?

– Certo.

– Então bebe o seu vinho, esquece o pai do Raj e joga pra se distrair um pouco.

– Desculpa, Shane – digo, chateada. – Jogar pode até te ajudar a não pensar na Zoey, mas eu não consigo abstrair e relaxar sabendo que tem um Hile possivelmente com alguma habilidade excepcional e desconhecida em alguma parte do mundo e que conhece o meu rosto, o meu nome, o do Arthur e do meu pai.

Minha Pessoa Favorita - Livro 5 - Série EncantadoresOnde as histórias ganham vida. Descobre agora