Grace estendeu uma tigela com fatias perfeitas de toranja descascada. Ana nunca tinha visto a fruta servida daquela maneira, mas pegou um pedaço com uma mistura de curiosidade e medo de ofender. Quando mordeu, a doçura explodiu em sua língua, sem o toque amargo habitual da casca.
Ela cobriu a boca, surpresa.
__Está muito boa.
__Pega mais. - Grace sorriu e pôs a tigela no colo de Ana. Naquele dia a mãe de Christian estava usando uma camisa rosa e calça com estampa floral. Os óculos estavam apoiados no alto da cabeça num ângulo descuidado. __Pode pôr sal, se quiser. Fica gostoso.
__Não, obrigada. - Ana comeu mais dois pedaços antes de se obrigar a parar. Parecia uma coisa bem trabalhosa descascar e picar toranjas. Num esforço para manter as mãos ocupadas, apanhou uma metade da fruta e tentou copiar a técnica de Grace, sem deixar de notar o silêncio absoluto no cômodo.
A mulher observou tudo e fez um breve aceno.
__ Christian vai fazer bún riêu hoje. É muito gostoso. Ele já preparou para você?
Ana fez que não com a cabeça, sem tirar os olhos da fruta.
__Não, nunca.
Grace sabia que Christian andava dormindo na casa dela? Aprovaria aquilo?
__Quando a comida vai ficar pronta, mãe? - Janie deteve o passo ao entrar, então sorriu para Ana. __Oi.
Ela retribuiu o sorriso.
__Oi. Christian falou que sai em dez minutos. - Janie desabou numa poltrona bastante usada, jogando as pernas por cima do braço do móvel.
__Estou morta de fome. Só comi umas bolachinhas no almoço. Estou estudando desde as dez da manhã.
Ana estendeu a tigela com toranjas descascadas, enquanto Grace olhava feio para a filha.
__Você está ficando muito pálida. - Virando-se para Ana, perguntou: __Não acha?
Janie pegou a tigela e começou a devorar um pedaço após o outro. Ana ficou perplexa. A garota não sabia o quanto demorava para descascar e picar a fruta daquele jeito?
__Talvez só um pouquinho, - Ana sugeriu.
Grace falou alguma coisa em vietnamita com Ngoa.i, que lançou um olhar de desaprovação para Janie. Ana não entendeu, mas não parecia boa coisa.
__Obrigada por me jogar para as feras, Chi. Hai. - Um sorriso torto quase idêntico ao de Christian surgiu no rosto dela quando Janie deu uma piscadinha. O peito de Ana se derreteu.
__O que significa Chi . Hai?
Grace abriu um sorriso enquanto descascava as frutas.
Janie enfiou o último pedaço de toranja na boca.
__Quer dizer 'irmã dois'. Christian é meu Anh Hai, 'irmão dois'. Estou lá embaixo, no número seis. Sou a quinta, mas a contagem não começa no um. Acho que esse número é reservado para os pais, ou coisa do tipo. Enfim, é coisa do sul do Vietnã.
Um sorriso abobalhado apareceu no rosto de Ana, e seu coração começou a dar cambalhotas no peito. Ela adorou a ideia de ter o número de Christian. Aquilo os tornava um casal. Como os sapatos colocados perto da porta e as mãos trabalhando juntas no piano.
Janie deu risada e disse alguma coisa em vietnamita para a mãe e a avó. Elas olharam para Ana, deram uma risadinha e concordaram.
__ Christian anda bem felizinho, - Janie comentou. __É meio ridículo até. Só pode ser por sua causa.
YOU ARE READING
Acompanhante de Luxo
FanfictionJá passou da hora de Ana se casar e constituir família - pelo menos é isso que sua mãe acha. Mas se relacionar com o sexo oposto não é nada fácil para ela: talentosa e bem-sucedida, a econometrista é portadora de Asperger, um transtorno do espectro...
Capítulo 21
Start from the beginning