Os músculos de Ana se enrijeceram. Seu coração retumbava com força. Estava na hora. Ela só esperava não estragar tudo. Precisava dizer a coisa certa.

Janie murmurou alguma coisa em vietnamita, e a mãe ergueu os olhos. Seu olhar passou da filha para Ana.

Ana engoliu em seco e deu um passo à frente.

__Vim me desculpar por ontem à noite. Sei que fui grosseira. Eu não... tenho muito jeito com as pessoas. Queria agradecer por ter sido convidada para jantar na sua casa. - Ela estendeu as flores e os chocolates. __Trouxe para você. Espero que goste de chocolate.

Janie apanhou as trufas antes que a mãe pudesse encostar na caixa.

__Eu gosto.

Grace aceitou as flores e soltou um suspiro.

__Sobrou bastante comida de ontem à noite. Você deveria aparecer esta noite.

Ana olhou para o chão. Christian ficaria horrorizado se a visse na casa da mãe de novo.

__Preciso ir. Sinto muito por ontem à noite, de verdade. Mais uma vez, obrigada.

Ela se virou para ir embora, mas deu de cara com a avó miudinha de Christian sentada no sofá. A senhora fez um aceno de cabeça para ela, e Ana se embananou toda em uma mistura de mesura e cumprimento ao sair.

***

Christian entrou na academia e jogou a mochila no piso azul acolchoado, perto das outras.

Os praticantes no meio do recinto deram cinco passos para trás, passaram a espada para a mão esquerda e se curvaram.

__Olha só quem resolveu aparecer, - comentou o que estava mais à direita. A máscara escondia o rosto de seu primo, mas Christian sabia que era Steve pela voz e pelo nome bordado em branco no equipamento de treino preto. Além disso, Steve era uns cinco centímetros mais baixo que o irmão mais novo.

Khai fez um aceno com a mão enluvada e voltou a praticar os movimentos de ataque diante do espelho. Dez ataques rápidos na cabeça, dez no punho, dez nas costelas. E de novo. Mais dez ataques na cabeça... Quando Khai treinava, era pra valer. Não havia meio- termo. Seu foco e sua determinação eram impressionantes. E fazia Christian se lembrar de Ana. Ele soltou um suspiro pesado.

__Nunca vejo você aqui de sábado. O que está pegando? - Steve perguntou.

__Queria treinar um pouco, - Christian falou, coçando a orelha. Em geral ele passava os sábados correndo e levantando pesos — coisas que podia fazer sozinho, porque não queria olhar para a cara de ninguém depois do que acontecia nas noites de sexta. Naquele dia, porém, não aguentaria ficar sozinho. Sabia que passaria o tempo todo pensando em Ana. Depois de uma noite e parte de um dia refletindo, ainda não sabia como terminar tudo sem magoá-la. Mas precisava fazer aquilo. E depressa. Era melhor ligar para ela assim que acabasse o treino para marcar um encontro. Tinha que fazer aquilo cara a cara.

__Veste o equipamento, então, - Steve falou. __A aula começa em uma hora. O professor está de folga, então quem perder vai ter que dar a aula das crianças.

Era o incentivo ideal. Criancinhas brandindo espadas de bambu era uma visão horripilante. Seria de pensar que os menores seriam menos perigosos, mas eram os piores. Corriam descontrolados pela academia, como furacões, acertavam golpes por baixo da armadura por acidente. Não tinham a menor noção. Eram como Ana em eventos sociais.

E Khai.

Enquanto punha o equipamento, os olhos de Christian acompanhavam os movimentos do primo, que praticava seus ataques de forma metódica, dez de cada vez. Sempre o mesmo número de repetições, sempre na mesma ordem. Se Ana aprendesse kendô, na certa faria a mesma coisa. Depois da noite anterior, Christian percebera que havia muito mais semelhanças entre ela e Khai do que a princípio imaginara. O primo nunca percebia quando tocava em questões delicadas. Era terrivelmente sincero, criativo de um jeito todo próprio e...

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