"Cresce Catarina! Isso é sua responsabilidade, ela te colocou no mundo e é assim que você retribui? Como você dorme à noite? Você viu como está sua mãe? Ela está horrível, claro que isso é sua culpa. É seu trabalho cuidar dela" Dispara Renata, parecendo alta e poderosa como sempre.

"Bom, se estou sendo tão horrível com ela, por que ela não vai morar com você? Ah, porque você só quer parecer a salvadora da pátria e não fazer porra nenhuma sobre isso, porque então você teria que assumir a responsabilidade pelo fato de não fazer merda nenhuma para sua própria mãe e só precisar de alguém para culpar." Eu grito, já ficando impaciente – é sempre a mesma coisa, eu já estou exausta disso. Eu desligo antes que ela tenha a chance de responder.

Imediatamente coloquei meu celular no modo silencioso, porque eu sei que ela vai ligar de volta tentando dar a última palavra.

Olho para o Chico, que está dormindo ao meu lado no sofá, e o cutuco suavemente. "Vem vida, vamos dormir no quarto"

Chico nem se mexe, só continua intacto igual uma estátua.

Acho que vou ter que fazer isso da maneira mais difícil.

Eu me levanto do sofá, colocando meus braços embaixo dele e prendo a respiração enquanto o levanto.

Chico simplesmente parece um peso morto, eu vou indo com ele no colo para o meu quarto e ele parece uma geleia esparramada no meu braço.

Quando o coloco na cama, meu braço está quase formigando com o quão pesado ele é.

Vou ao meu guarda-roupa e vasculho para pegar um jeans e uma camiseta em vez da camisa manchada e da calça de pijama que eu estou usando.

Estou tentando ficar calma, mas não está funcionando, minha pele parece que está arrepiando e meus olhos estão começando a queimar, eu quero gritar.

Eu quero dar um soco em alguma coisa.

Eu quero tirar esse sentimento de mim.

Mas eu não quero surtar.

Eu apenas mordo minha bochecha enquanto me troco e engulo essa raiva pra dentro de mim.

Ainda não consigo entender o que já fiz para que as pessoas sejam tão terríveis comigo, para me tratar do jeito que me tratam – Minha mãe, minha irmã, meu ex namorado – parece que nunca me livro disso.

Eu acho que é realmente minha culpa.

Se não foi minha culpa, por que isso continua acontecendo?

Eu limpo meus olhos rapidamente, uma vez que estou vestida e sinto aquela dor profunda no meu peito.

Por que sou tão fácil de machucar? Eu realmente queria conseguir lidar mais fácil com isso.

Todas essas pessoas que deveriam ser as que me amam incondicionalmente são sempre as que mais me machucam, e não entendo por que, porque tudo que fiz foi tentar fazer a coisa certa.

Nunca é o suficiente.

Eu nunca sou boa o bastante.

Olha o que minha própria mãe faz, o jeito que ela fala de mim. As mentiras horríveis que ela inventa para conseguir aquela atenção que ela gosta, sem um pingo de empatia pelo que eles poderiam fazer comigo ou como me fariam sentir.

Dou um beijo na cabeça de Chico antes de sair do quarto e fechar a porta atrás de mim; sentindo meu coração martelar no peito, tentando tossir o aperto na garganta enquanto pego as chaves do carro e o celular. 

Eu saio pela porta da frente e a tranco atrás de mim, fazendo meu caminho em direção ao meu carro antes de abrir a porta do motorista e subir no assento.

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