Capítulo 5

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DEAN

Nunca levei um tiro, mas, ainda sim sinto que doeria menos do que isso. Eu preferia ser baleado a fazer o que estou prestes a fazer. Deixo mais um beijo na testa de Izzie, me certifico que a limpei da melhor maneira que pudesse sem acordá-la e que ela vá ver o bilhete onde reafirmo mais uma vez que a amo antes de partir. O fato de ter quebrado a promessa que fiz a Tom, não me faria prolongar e quebrá-la ainda mais. Antes de ir até Mathias, passo no quarto que mantemos trancado desde sua partida. O espaço ainda tem seu cheiro, do qual inalo com peso na consciência, com vergonha por ter olhado em seus olhos e mentido. Mentido sobre os sentimentos nada fraternais que tenho por sua filha e que jamais me envolveria desse jeito com Izzie. Tom me encara com seus olhos gentis do retrato gigante na parede, acima da cabeceira, com todos nós por perto, sorridente e orgulhoso. Foi em minha primeira luta. Um ano após me resgatar do lar miserável em que vivia, um ano que mostrou que eu merecia mais, que eu tinha sim um pai e uma família que me amava.

— Você esteve certo em várias coisas, pai, mas, o outro está na mais importante. Eu sou fraco. Me perdoa! — peço diante a imagem, de joelhos, não fazendo nada para impedir as lágrimas — Eu quebrei com a promessa. Eu cedi aos meus desejos. Não só desejo, eu a amo, a amo muito antes de você ter me feito prometer que ficaria longe e não a faria sofrer. Por favor, me perdoa! Me perdoa!

Passos no corredor me fazem voltar aos meus pés tão rapidamente que quase caio, não por estar envergonhado, a verdade, é que não me envergonhava nem do que a acabará de fazer com Izzie há pouco, mas, não poderia correr o risco de ser ela lá fora. Se Izzie me visse assim, não sossegaria até contar e ela me faria ficar ao seu lado, eu não devia ter confessado meus sentimentos, no entanto, não fui capaz de me deter, ela me deixaria ir com mais facilidade, senão soubesse. Eu só fazia merda. Agora, teria que partir a fazendo crer que nada daquilo significou nada para mim, quando foi a coisa mais perfeita que já fiz, que já presenciei.

— Por que está chorando?

Meu alívio não dura muito quando a porta se abre, mas, é melhor do que ser a mulher da minha vida.

— Quebrei a promessa!

No mesmo segundo tenho as mãos de Mathias sobre meu pescoço. Nós tínhamos a mesma altura e quase o mesmo tipo de corpo, então não estava sendo nenhuma dificuldade para ele me apertar, me socar depois de permanecer com às mãos ali até me ter lutando por ar. Não devolvo, não me esquivo quando o segundo ou terceiro retorna. Paro de contar, só deixo a dor fluir e ele se der por satisfeito. Que é quando meus olhos estão quase fechados de tão inchados, e ele pode ter quebrado meu nariz.

— Você é um filho da puta!

— Eu sei — digo com alguma dificuldade — Vou embora. Tem que cuidar dela, mas, se acontecer alguma coisa, tem que me avisar. Eu venho, resolvo e volto a desaparecer. Tem minha palavra e vou cumprir dessa vez.

Mathias me observa ainda com raiva.

— Também a amo, Dean! — esbraveja, cheio de revolta — Posso cuidar dela sozinho! — assinto levemente, dói — Por que fez isso?

— Vê-la todos os dias, sentir seu cheiro, o som de seu riso, suas caretas, suas manias, seus xingamentos e provocações, ouvir sobre seu dia, ou simplesmente se sentar ao lado dela em silêncio e não poder dizer que a amo ou tocá-la, dói mais do que a surra que me deu. Dói mais do que qualquer surra que meu pai tenha me dado. Dói aqui, Mathias — toco o espaço que abriga meu coração — E agora, que eu sei que ela também me ama, que eu me declarei, não há volta. Izzie me conhece, vai saber quando eu disser que menti, que foi apenas no calor do momento. Então, eu vou ficar e irei fazê-la sofrer, como nosso pai disse. É melhor que ela chore um pouco agora, ao invés de eu quebrar de maneira imensa seu coração no futuro. A amo tanto que não me importo se serei infeliz até meu último dia por ter que ficar longe dela, se isso significa que ela vá ser feliz. Talvez um dia, quando ela tiver alguém que vá lhe dar o mundo, eu possa voltar. Nós dois possamos nos resolver e ela me permita ficar de longe. Que nós dois também possamos nos resolver. Um dia você também vai ter que deixá-la ir. E, vai doer, amigo, mas é necessário.

Grande Promessa (CONTO) - CONCLUÍDO Where stories live. Discover now