Harry não respondeu e passou seus braços envolta dela em um abraço, então Gwen sentiu uma tontura tomar conta de seu corpo, deixando o copo com o líquido vermelho cair e Harry a segurou para que não caísse também.

(•••)

Quando abriu os olhos, Gwen não conseguiu ver nada. Ela estava envolvida em um breu escuro com os braços presos a uma cadeira de madeira e os cabelos suados sobre o rosto.

— Gwen? — Uma voz baixa chamou pelo seu nome.

Ela reconheceu imediatamente aquela voz e sorriu em alívio, virando sua cabeça para vê-lo mesmo que não pudesse.

— Peter — ela soltou com um sorriso —, que bom que está bem.

— O que faz aqui?

— Vim te procurar.

— Não deveria ter vindo, agora está na mesma situação que eu.

— Como eu poderia deixá-lo? Você é uma das pessoas mais importantes na minha vida, Peter.

— Eu era. — Ele soltou uma risada fraca. — Eu sou um idiota, faço tudo errado e não mereço vocês.

— Peter, sem você nós não existimos. Você é tudo o que faz o mundo ficar bom e é meu melhor amigo.

— Chega disso, por favor, eu vou vomitar. — Uma luz forte se acendeu e Harry apareceu. — Que bom que acordou, Gwen.

— Por que está fazendo isso, Harry? — Ela questionou, tentando manter os olhos abertos com a luz forte. — Você não é assim.

— Você já percebeu que todos dizem isso para aqueles que eles julgam ser os vilões? — Harry se sentou em uma cadeira na frente deles. — Não que eu seja o vilão, claro que não, mas me colocam nessa posição desde que eu decidi me vingar do Homem-Aranha, e olha só eu encontro três dele. Me pergunto como isso é possível.

Gwen olhou para Peter (TH) com o canto do olho e viu ele com arranhões e sangue seco grudado pelo rosto. Ele nem conseguia mover a cabeça direito.

— Eu entendo a sua dor, perder um pai deve ser horrível, mas o Peter não tem culpa. Nenhum dos três tem e isso não é justo.

— Você nem estava aqui! — Ele gritou, assustando ela. — Não faz ideia do que eu senti e injusto é não vingar o meu pai!

— Eu conheci você, sei que é gentil — ela tentou novamente.

— Mas eu não conheci você. — Ele puxou a mochila de Gwen e tirou o traje que estava escondido. — Eu não sei bem qual é seu alter ego, Gwen. Eu achei que isso era para um festa a fantasia... você e a Mary Jane me enganaram direitinho.

— Não pense que eu sou fraca porque eu sou nova nisso e aqui — ela respondeu, arrumando sua postura na cadeira, cansada de implorar. — Eu não conheço você, é verdade, mas eu sei bem quem você é, Harry. Você acha que vai bater o pé como uma criança mimada, gritar um pouco e assustar todo mundo. Eu não estou assustada e meus amigos também não estão. Eles vão pegar você, assim como já aconteceu antes em outra realidade.

Harry soltou uma risada e jogou o traje dela no chão, então se aproximou a colocou as mãos na cadeira dela, sem desviar o olhar por um segundo.

— Você pensa que é forte porque usa um traje feito de tecido de algodão penetrável a água e que rasga facilmente. Por que tinha que se meter nisso? Não era melhor deixar os adultos cuidarem de tudo?

Os braços de Gwen estavam presos na cadeira, mas suas pernas estavam livres, então ela não pensou duas vezes antes de chutar o meio das pernas de Harry. Ele gritou de dor e se afastou com as mãos no local em que estava dolorido, praguejando Gwen.

— Gwen... — Peter (TH) chamou, deixando a cabeça cair com cansaço para o lado.

— Eu sei de algo que te faz temer — Harry falou ainda arfando de dor e se aproximou de Peter —, ele é a sua fraqueza, não é?

Harry fechou o punho e desferiu um soco em Peter (TH) que já estava fraco na cadeira. Sangue escorria de sua boca e ele estava muito fraco para protestar.

— Não! — Ela pediu com voz embargada, mantendo os olhos em Peter. — Por favor.

— Ah. — Ele sorriu.

— O que você quer?

— Eu já tenho um aranha, preciso dos outros dois.

— Você não tem chances contra eles.

— Sozinho talvez não.

Ela pensou por alguns segundos antes de arregalar os olhos e abrir a boca.

— O seu pai — concluiu com incredulidade. — Ele não estava morto?

— Estava, graças ao Homem-Aranha. Eu não sei o que está acontecendo aqui, mas ele voltou novinho em folha e deve ser porque vocês estão aqui.

Só poderia haver uma fissura no multiverso causando todas aquelas coisas, ou a volta do pai de Harry era algo sobrenatural. Ela acreditava na primeira opção e sabia que todos estavam correndo perigo em dobro. Gwen não deveria ter ido ali, deveria ter escutado Peter (AG) mas não seria como a outra Gwen e salvaria seu amigo.

— Tudo bem, eu faço o que quer.

— Ótimo. — Ele sorriu. — Eu vou comer alguma coisa e pegar o seu celular, enquanto isso o "outro Peter" pode se recuperar.

Harry saiu e fechou a porta, então Gwen se arrastou sob a cadeira para chegar mais perto de Peter.

— Ei — ela chamou —, vou nos tirar daqui.

Peter olhou para ela com os olhos quase fechados e sorriu sem mostrar os dentes, sem acreditar naquilo.

Suas mãos estavam amarradas juntas atrás da cadeira, mas apertadas o suficiente para que não pudesse se mexer. Gwen havia se arrependido de muita coisa e não faria metade daquilo se estivesse em sua realidade, mas precisa sair dali sem chamar Peter (AG), então fechou uma mão envolta da outra e empurrou com força um polegar contra o outro.

Gwen não poderia gritar de dor, estava mordendo o lábio inferior com tanta força que sentia o gosto do sangue em sua língua.

— O que está fazendo? — Peter questionou com voz baixa.

— Vou me soltar daqui — respondeu com voz trêmula.

— Espera — ele arregalou os olhos ao olhar para ela —, não faça isso.

— Eu prefiro sair com um dedo quebrado do que morta.

— Eu faço isso então.

— Eu não sou uma criança, Peter. Você está machucado, apenas fique quieto.

Respirando fundo, ela colocou mais força e fechou os olhos ao escutar o barulho do osso quebrando. Que sensação horrível e a dor pior ainda. Os novos "poderes" de aranha lhe deram mais força e só por isso conseguiu quebrar o próprio dedo.

— Meu Deus — arfou de dor evitando fazer barulho.

Suas pernas até ficaram moles com a dor, controlando a tremedeira puxou a mão da corda e observou seu dedo torto com uma careta dolorida, ficou muito feio.

— Pronto. — Ela suspirou, soltando a outra mão com cuidado.

Enquanto Peter (TH) estava de olhos fechados, Gwen aproveitou para colocar o traje jogado no chão e correu até ele, soltando as cordas que o amarravam.

— Como vamos sair? — Peter (TH) agarrou nela.

— Vamos pular, confie em mim.

Peter (TH) não sabia que agora ela tinha habilidades como ele, mas confiava nela e correu para tomar impulso, fechando os olhos ao pular da janela do último andar. Deu para sentir alguns pedaços de vidro rasgando sua pele, mas a adrenalina era tanta que Gwen nem sentiu a dor. Agora ela se pendurava em uma teia enquanto agarrava Peter para que ele não caísse. No fim do dia, ela havia salvado o Homem-Aranha e não o contrário — mesmo que sob imprevistos e um osso quebrado.

¹ 𝐌𝐔𝐋𝐓𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐄 ⋆ 𝑃𝑒𝑡𝑒𝑟 𝑃𝑎𝑟𝑘𝑒𝑟Where stories live. Discover now