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"Algum ritmo em comum fez-nos encontrar. Algum ritmo em comum fez-nos conversar."


🅐🅛🅖🅤🅜 🅡🅘🅣🅜🅞

𝓙asmim já estava cansada de toda a pressão constante que recebia, de seus dias monótonos e repetitivos. Muitas vezes se via beliscando o próprio corpo para ter certeza de que não era um robô, como todos pareciam julgar.

Estava cansativo viver, e, até as coisas que mais tinha prazer em fazer, como pintar, estavam perdendo a graça.

No fim de seus dezesseis anos, a única coisa que sabia fazer era se dedicar à sua arte quando restava um tempo, e esse era exatamente o problema: não lhe sobrava tempo. Sua mãe dizia ser falta de administração, que se parasse de perder tempo dormindo de madrugada, ou em suas redes sociais, teria horas de sobra.

A grande questão era que o único momento em que lhe restava para fazer o que desejava era nas altas horas da madrugada, geralmente com temperaturas mais frias, apesar de estar no nordeste do país. Isso estava acabando com sua saúde, ela sabia, mas não havia nada a ser feito. Afinal, a adolescente já havia tentado mudar, mas não obteve sucesso.

Jas se denominava a Cinderela brasileira, mas com a adição de duas crianças, para além de empregada, ser babá.

Seus pais trabalhavam o dia todo, e quando ela não estava na escola, estava em casa, já que não podia sair com os amigos, pois era "perigoso" demais. Talvez tenha sido esse um dos motivos pelo qual seu círculo íntimo diminuiu extremamente nos últimos meses.

Apesar de tudo, não culpava os progenitores, ao menos não depois da experiência que tiveram com Matias, seu irmão mais velho, que não estava mais entre eles.

Sufocada, dia após dia, ela fazia suas tarefas domésticas, controlando as gêmeas que não davam uma trégua. Quando lhe restava um tempo, era para realizar os trabalhos da escola e organizar seminários.

— Paola, se você não voltar aqui com essa porcaria de sorvete, irá ver! — Ela gritava, exaurindo a paciência com a gêmea número um.

Se soubesse que seria a mãe das meninas, não teria ficado tão feliz e entusiasmada quando sua mãe engravidara seis anos antes. Não que ela não as amasse, mas não era justo carregar o fardo de ser mãe sem ter gerado uma criança. Aquilo beirava a loucura e todos sabiam disso, inclusive Dani, sua progenitora.

As férias de fim de ano infelizmente estavam chegando ao fim, mas Jasmim agradecia por suas irmãs terem retornado à escola primeiro do que ela, dando-lhe um pouco de paz nas tardes em que fazia seu papel de Cinderela, sem a parte do príncipe e dos felizes para sempre, aparentemente.

A jovem terminava de preparar o café das irmãs, que estavam prontas e sentadas à mesa. Era sempre a mesma coisa, a rotina se repetia constantemente, o que esgotava suas emoções e vontade de viver, algo que poderia ser alarmante, devido ao seu quadro de depressão há cerca de três anos.

Na noite anterior, encarando os jasmins de sua parede — obra dela —, Jasmim traçou um plano que lhe colocaria de castigo pelo resto da vida.

Ela teria um dia, longe de tudo e de todos. Iria à praia, passar o dia inteiro lá, mesmo que só tivesse o dinheiro das passagens de ônibus — por mais que não soubesse como pegar um —. Necessitava saber como era viver, mesmo que apenas por vinte e quatro horas.

Com um biquíni preto e detalhes azuis, que combinava perfeitamente com a pele levemente bronzeada, mas que nunca teve coragem de usar, a jovem só colocou um vestido solto por cima e pegou os óculos de sol.

Um Dia | 24 horas [COMPLETO]Where stories live. Discover now