Capítulo 1

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       É mais uma daquelas manhãs nubladas

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       É mais uma daquelas manhãs nubladas.

       Eu não costumo gostar delas. São frias, sombrias, como se o mundo tivesse resolvido não acordar. Não nos dá ânimo de seguir o dia. Dá vontade de voltar pra cama.

       Fico observando as nuvens carregadas no céu enquanto caminho, ouvindo os ônibus barulhentos passarem pela estrada e a galera esperar no ponto de ônibus. Pobres trabalhadores que têm de estar de pé logo às seis da manhã... pobres trabalhadores que não tiveram o privilégio de nascerem ricos.

       E eu me incluo neles.

       Solto um suspiro, já cansada de andar, e ajeito a mochila nos ombros, indo para o canto da calçada enquanto um morador de rua passa ao meu lado com um carrinho de tranqueiras. Então desvio meu olhar para os folhetos pregados nos postes, notando um em azul que chama minha atenção.

       "O OUTRO LADO APROVA NOVOS CARREGAMENTOS FUTURÍSTICOS; ESTRANGEIROS QUESTIONAM O MOTIVO DO BRASIL AINDA ESTAR DIVIDIDO".

       Abaixo, observo a foto exagerada do folheto jornalístico, com elevadores que mais parecem tubos de metal espalhados pelos comércios e estradas que se estendem pelo ar, como se fossem pistas dos carrinhos da hot wheels. Um mundo completamente contrário do meu. Um mundo do qual eu nunca tive acesso.

       Olho por mais alguns instantes para aquelas estradas esquisitas, sentindo aquela raiva da desigualdade retornar, antes de enfim aumentar o passo de novo. Só mais alguns minutos de caminhada e eu chego à escola. Só mais um ano estudando e eu termino essa merda. Só mais um pouco... só mais um pouco.

       Porém, sou obrigada a parar quando ouço um som estranho, distante. Se parece com o estralo de um rojão. Ué. Olho ao redor, procurando pistas, mas não vejo nada fora do comum. Apenas pessoas andando e carros passando.

       Bom, então tá.

       Mal dou um passo para frente novamente quando outro estralo soa, e mais outro. Só que, dessa vez, não tenho dúvidas do que se trata.

       Não são rojões.

       São tiros.

       Demoro um pouco para processar a informação, pois nunca vi isso acontecer antes. Nunca presenciei algo assim. Nunca nem pensei que fosse estar perto de algo desse tipo.

       Merda. Será que é um assalto? E se for um assalto grande? E se me pegarem de refém? E se algo acontecer comigo?

       Outro tiro explode pelo ar, este mais perto e mais alto, me fazendo pular de susto. Olho ao redor com mais rapidez, tentando identificar a origem pra ver se consigo chegar à escola com segurança. De início não vejo nada, até que o que parece ser um caminhão grande e aberto surge na estrada, andando em alta velocidade, com uma quantidade gigantesca de pessoas em cima dele. Elas estão gritando e levantando as mãos para o alto.

The Other SideWhere stories live. Discover now