Lembranças...

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E quando já estavamos sentados no sofá, tomando uma taça de vinho, me perguntei;

Porque será que ele ainda está aqui? Sempre esteve ao meu lado, sempre cuidou de mim, sabe como me sinto. Não quer namorar, sei lá, olhando de canto dá pra ver ele me olhando, meio sorrindo. Claro que já teve seus namoricos por fora. Umas nem vi, outras bastava eu chegar perto para ele soltar a mão, ou sair de perto, ou mudar a forma de tratar. Eu também já tive os meus, que sempre me falavam coisas do tipo, " esse seu amigo parece um cachorro bravo", ou, " não posso te abraçar que ele me olha feio", ou eu acho que está apaixonado por você".

- Vai falar ou não? Acho que vou ter que dormir aqui, seu sofá é bem fofinho, se eu esperar muito tempo, vou pegar no sono, e só amanhã de manhã. - Tudo bem, vamos lá...

Fechei meus olhos, sentindo o tempo regreçar na minha mente;

-Me lembro do frio que fazia, das folhas voando nos degraus da escada. Eu estava atrasada, subi correndo até a porta de entrada, grande com duas partes, ao abrir dei um esbarrão em alguém;

- Me desculpa, como sou desastrada,- me abaixei pra pegar as folhas, quando nossas mãos se tocaram,- Me desculpa, como sou desastra...

As palavras morreram na minha boca, quando olhei para ele com seus olhos verdes, pele bronzeada, um tanto forte, e estava me olhando com um sorriso atraente, meio curvado só nos cantos da boca. Claro que como toda adolescente idiota eu corei na mesma hora, e desviei meu olhar.

- Acho que você não vai conseguir entrar, já fecharam as portas das salas e... Saí correndo....

E duas semanas depois eu já estava sonhando acordada, mal dormia a noite, ficava olhando pro teto do meu quarto, imaginando se tivesse sido de outra forma. Ria sozinha também. No pátio da escola ficava como uma boba sorrindo pra mim mesma, já que não tinha amizade nenhuma por sei lá, eu era diferente dos outros. Sempre gostei de música, já tocava nessa época. Lembro de uma vez que eu fiz amizade com uma menina, Julia. Conversavamos bastante, ela era descolada, só falava de meninos, filme, e revista. Um dia ela foi em casa, pra fazer um trabalho da escola, assim que viu meu piano, pediu pra mim tocar, depois de tudo foi no meu quarto,mostrei meus livros, meus Cds de música erudita, achei estranho ela sair com pressa de casa. No outro dia a desgraça tava feita. Saiu falando pra toda a escola que eu era louca, parecia uma velha, e mais um montão de coisas. Daí pra frente, só ficava com meus livros mesmo.

Então me levantei, peguei minha bolsa, e fui indo pra biblioteca, tinha acabado de ler "O Diario de Uma Flautista". Já fazia quase uns quinse dias, tinha que devolver, pagar multa e depois de uma bronca, pegar outro.

Vou descrever como me senti ao chegar lá, com roupa de escola, tipo nada a ver, cabelos presos e sem perfume. Detalhe ,muito importante, eu prendia meus cabelos porque tinha preguiça de pentear eles de manhã. E além do mais, ninguém gostava de mim mesmo;

Foi aí que vi ele, quase surtei, queria correr de volta pro pátio, mas ele já tinha me visto. Estava tão lindo, de calça jeans escura, blusa azul escura, que realçava o verde dos olhos, e aquele sorriso meio torto. Acontece assim, você se arruma e ninguém te olha, ou fala com você, aí você se veste igual uma louca, sai sem tomar banho, não escova os cabelos, e vem um cara lindo e sorri pra você. Quase pirei na hora.

- Olha só, eu não sabia que você era uma leitora.

Sorri, e ele retribuíu também, então fui meio atarantada a procura de livros, sentindo seu olhar nas minhas costas.

- Louis. - Desculpe, o que você disse mesmo? - Me chamo Louis, e estou no último ano, e você? - Giovanna, estou no segundo ano. - É um livro muito bonito esse, eu jã li duas vezes, embora o público feminino leia mais.

A Música Da Minha VidaWhere stories live. Discover now