Capítulo 02 - Apenas Um Lembrete

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Quando finalmente aquela prova e as aulas terminaram, Vanessa e Guilherme saíram do prédio da faculdade e alcançaram as ruas, o sol forte do dia a obrigando a colocar seus óculos escuros. Guilherme apenas ria dessa sensibilidade dela a claridade.

— Obrigada – agradeceu. Sabia ser educada quando queria e reconhecia a ajuda que ele lhe deu, não só naquele dia — Você sempre salva a minha pele aqui na facul, Guilherme. Sinceramente não sei o que dizer...

— Só me chama de Gui – pediu com uma expressão divertida.

— Ok, Gui! – Vanessa revirou os olhos por detrás das lentes escuras, mas um sorriso brotou em seus lábios. Gostava dele, de sua gentileza e paciência consigo, só lamentava o fato de vê-lo quase que exclusivamente na faculdade, então nunca conseguia demonstrar como era agradecida pela atenção e amizade do rapaz de cabelos negros e olhos castanhos honrosos.

— Vamos comer algo no Subway? – convidou e notou de imediato que Vanessa deu dois passos vacilantes, deixando a mochila cair no chão e a amparou preocupado — Vanessa?!

Por um momento sua cabeça rodou e Vanessa sentiu seu ombro esquerdo doer um pouco acima da clavícula, enquanto tudo escurecia. Ouvia ao longe a voz de Guilherme a chamando, mas não era como se conseguisse falar alguma coisa ou mesmo raciocinar direito. A cicatriz em sua pele queimava como se estivesse sendo marcada a ferro em brasa e a dor foi tanta que ela sentiu o ar faltar em seus pulmões e o mundo se dissolver a sua volta...


Na mais completa escuridão. Era assim que se encontrava dentro daquele quarto de piso e paredes acolchoadas, que embora fossem de um branco que lhe doía os olhos, agora era de uma negritude perturbadora, já que não havia nenhuma fonte de luz. Não sabia há quanto tempo estava ali nem quantos dias se passaram desde que foi presa na "solitária", só via alguém quando vinham alimentá-la e banhá-la e não era como se facilitasse as coisas para eles. Sabia que precisava sair daquele lugar, mas como o faria, ainda não tinha ideia.

Com uma respiração profunda, fechou os olhos, já que não fazia diferença no meio daquele negrume, mas sentiu todo o seu corpo tensionar quando escutou um resfolegar baixo, mas animalesco. De imediato soube: estavam ali. Mais uma vez eles estavam ali, por ela. Sua visão focou em um espaço à frente, a sua direita, por puro reflexo, já que não podia ver nada na escuridão profunda... Estava, mais uma vez, totalmente envolvida pelas trevas. E quando pensava em trevas, não era à noite a que se referia. Sua audição se aguçou e ela pode ouvi-los se movendo nas proximidades da parede oposta.

Começou como uma risada baixa, que aumentou de volume, mostrando-se macabra e sádica. Não pertenciam a humanos, de forma alguma! Aquelas coisas emitiam sons que pareciam formar palavras em um idioma antigo que não compreendia, mas instintivamente sabia que falavam dela com um gosto aterrador. Os demônios conversavam como se observassem um objeto de extrema beleza e valor e percebeu que estavam, no mínimo, em um grupo de cinco, já que conseguia discernir o tom de cada um deles com perfeição.

— Por que não calam a boca e vão embora? – sua voz demonstrava toda a raiva que sentia, mas como resposta conseguiu apenas mais risadas deleitosas e não naturais.

Seu coração começou a bater mais rápido, mas ela tentou controlar o ritmo de sua respiração, pois não queria mostrar que estava com medo. Seu corpo se encontrava paralisado de encontro à parede acolchoada, sentada sobre o tecido macio e por mais que quisesse se mexer um pouco, não conseguia, pois a camisa de força mantinha seus braços juntos ao seu tórax e restringia seus movimentos. Precisava se concentrar, ficar em alerta e tentar sobreviver a mais um ataque dos demônios que a perseguiam desde a morte de sua mãe.

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⏰ Last updated: Nov 19, 2021 ⏰

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