Capítulo 25 - Clara

Start from the beginning
                                    

— O que foi?

— Mabel vai precisar dar continuidade ao tratamento, parece que mesmo sem o câncer ela terá que fazer quimio e radioterapia.

Talvez seja esse o motivo de ele estar estranho, então. Entendo que a saúde da irmã dele seja algo preocupante, e ele tem todo o direito de estar triste e assustado.

— O problema é que o tratamento que o médico sugeriu é nos Estados Unidos. Ela e Bárbara terão que ficar mais ou menos um ano lá, durante todo o processo.

— Não tem aqui? Por que elas precisam ir para tão longe? Não é perigoso? — indago, ansiosa de imaginar Bárbara passando por tudo aquilo com a mãe outra vez.

— Até tem, mas esse estudo específico tem um bom prognóstico para as possíveis recidivas. Então ela optou por ir para lá.

É isso. Ele está devastado porque a irmã vai embora, e com razão. Eu também iria ficar se Bianca, por mais doida que ela seja, decidisse ir para fora ter o bebê dela em outro país.

— Caramba! — É a única coisa que consigo dizer.

— É. — Ele fica quieto por mais algum tempo, parece pensar no que falar, e odeio que ele tenha que se sentir dessa forma. — O problema é que eu não consigo deixar as duas. Não consigo deixá-la sozinha.

Franzo a testa. Não estou conseguindo entender aonde ele quer chegar.

— Eu devo ir junto, Clara. Devo ir junto com as duas. — Sua voz sai quase como um sussurro.

Só então ele me encara, cabisbaixo, como se pudesse falar através do olhar.

— Mas... e a empresa? Como...? — gaguejo, nada ainda faz sentido para mim.

— Vou conversar com o Enrico ainda, fiquei sabendo de tudo hoje. Disso, sobre a parceria... enfim, muita coisa para processar.

Miguel passa uma das mãos no rosto, inconsolável. Quero abraçá-lo, mas algo me impede, porque eu também estou sentindo meu coração quebrar em pedaços. Sinto que estou prestes a perdê-lo logo agora que o encontrei...

— Parceria? Mas não deu certo? — questiono, confusa.

Ele suspira, pesaroso. Será que tem outra notícia tão ruim quanto ele ir embora da minha vida?

— Ah, Clara, vamos deixar para conversar depois do jantar. É melhor. Hoje é véspera de Natal, sua família está nos esperando...  — solta, meio nervoso.

— O que aconteceu, Miguel? Você sabe que sou ansiosa...

Ele parece tomar fôlego para falar. Já estamos andando há uns vinte minutos, ou seja, quase chegando à ponte Rio-Niterói, para a casa da minha mãe.

— Eu ainda não defini algumas coisas, preciso primeiro pensar com calma, tem muita coisa em jogo...

— Do que você está falando? — questiono, esforçando-me para entender.

— Eles querem levar a LifeSports com eles para alguns campeonatos lá fora...

Tento parecer empolgada, mas Miguel faz sinal com a mão, informando que ainda não havia concluído.

— E um deles é o US Open.

Continuo sem saber o que ele quer falar. Não sei se rio, se choro, se comemoro. Que merda de suspense é essa?

— Se eles me colocarem lá, não posso te patrocinar, porque a minha marca estaria ligada à dele. E ele já patrocina outros atletas.

E, então, minha ficha cai.  Ele está me abandonando em todos os aspectos possíveis. Ele está me deixando na mão no momento mais importante da minha carreira. Eu poderia lidar com a ausência, claro. Agora, com isso? Depois de tudo o que fiz para ajudá-lo? Fingi um relacionamento, menti para minha família, fiz fotos com ele para que a empresa pudesse chegar onde ele queria, e agora sou descartada como se fosse nada. Como se o contrato tivesse encerrado.

Jogo de sorte: um romance por contratoWhere stories live. Discover now