Capítulo 1

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"...ouça sempre seu coração. Ele tem as respostas que procuramos ao redor."

Joana

Olho através das grades do portão, buscando qualquer sinal de movimento na residência, liguei para minha tia antes de desembarcar em Santino, combinamos de nos encontrar em frente à sua casa que, por sinal, continua da mesma forma que me lembrava.

Um jardim pequeno e modesto decora a entrada, apesar de ela nunca estar por aqui, devido ao trabalho na fazenda de Águas Claras, o lugar não ficou com a impressão de abandonado.

Bato palmas uma segunda vez, subo na ponta dos pés, como se isso me fizesse ver melhor o que já é evidente. Não tem ninguém lá dentro.

Passo a palma na testa suada, o sol castiga minha pele, mesmo usando uma regata e short, o ar abafado e o calor não diminuem a sensação de estar fritando em plena calçada.

Arrisco um olhar sobre o ombro e miro a praça da cidade, quando era pequena, meus pais me mandavam para cá passar uma semana das férias escolares, lembro-me de correr e brincar muito neste lugar.

— Tarde! — uma voz masculina cumprimenta muito próximo a mim.

— Ah, oi. Tarde, seu guarda. — Encaro o uniforme alinhado do homem.

Ele não parece ser muito mais velho que eu, seu corpo magricelo chega a ficar engraçado dentro da farda, lembra um personagem de filme de comédia e não uma autoridade local.

procurando alguém? — Sinaliza com o queixo em direção à casa.

— Sim. Minha tia.

— É sobrinha da dona Tetê? — Sua voz sobe uma oitava.

— Não. Da Dolores. Meu pai é irmão dela.

— Ah, bão. Ela nunca aqui, mas a inquilina dela trabalha na lanchonete da Carlota, a duas quadras daqui. Se quiser, posso te mostrar onde é.

— Carece não. Combinei de encontrar ela aqui. Prefiro esperar.

— Veio de visita?

— Sim. Mais ou menos isso. — Aperto os lábios.

— Santino não tem muita coisa pra fazer, mas o cinema daqui tem melhorado muito.

— Aqui tem cinema? — Enrugo as sobrancelhas.

— Tem, mas é pequeno. Nada comparado com esses de cidade grande.

— Já é alguma coisa. De onde venho só tem mato, vaca e cavalo.

— Então vai gostar daqui. Pelo menos, temos carros e bicicletas.

Fico na dúvida se foi uma tentativa de piada, muito malfeita, ou se ele estava sendo sincero. Cruzo os braços em frente ao corpo, olhando em todas as direções, sem saber o que dizer.

— Nem me apresentei. Sou Josias, guarda com honraria da cidade.

Ele estende sua mão na minha direção, aceito o cumprimento, que vem forte e agitado para mim. Quase desloca meu braço no chacoalho exagerado que dá.

— Muito prazer. Sou Joana. — Solto minha mão do seu aperto o mais rápido possível.

— Nome bonito. Sabe, Joana, você vai ouvir falar por aí de mim.

— É mesmo?

— Sim. Salvei a inquilina que mora aqui, há uns meses. Foi um sequestro seguido de roubo de carga viva. Eram tantos bandidos, tiroteio, a coisa ficou feia, mas no fim das contas, a mulher foi salva.

[Degustação] Na Pegada do Patrão - Livro 3Onde as histórias ganham vida. Descobre agora