Viktor Orlov é tudo o que eu jamais serei: rico, exuberante, poderoso e inesquecível. Ele também é meu vizinho há mais de dois anos, mas nem por isso sabe da minha existência.
Eu, no entanto, alimento uma paixão platônica por ele desde o dia em que...
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Louca, Aurora... você é louca... completamente louca. Insana em níveis inexplicáveis...
Cantarolo em pensamento, mas não paro de colocar minhas roupas na pequena e única mala que tenho. Eu não possuo de fato nada do que é preciso para uma viagem como essa. Meu melhor e mais grosso casaco certamente não será capaz de me proteger do frio de Moscou. Quando aterrissarmos ainda será outono lá, mas não tardará para que o inverno chegue e eu certamente congelarei com essas roupas.
Mas até que isso aconteça, Viktor certamente terá descoberto a minha mentira e terá me mandado diretamente para a cadeira. Como serão as prisões da Rússia? Melhores que as daqui? Ah, eu duvido. Espero que a embaixada americana seja capaz de me ajudar caso necessário.
— Ei, Orion... saia daí — exaspero enquanto Orion anda sobre as minhas roupas dentro da mala. — Saia, gato teimoso.
Ele não me obedece, na verdade, me afronta ao se aconchegar ainda mais e terminar deitado dentro da mala; pronto para um cochilo. Preciso interceder e tirá-lo da mala, deixando-o ao chão enquanto a fecho. Ao mesmo tempo, Mika coloca um dos meus batons na boca. Corro para roubá-lo dele, segurando o bebê no colo antes que ele tenha a brilhante ideia de colocar o rabo de Orion na boca também.
Só estou com esses dois — bebê e gato — juntos há seis minutos, e eles já foram capazes de roubar todo o meu fôlego.
Com Mika amparado em meu quadril, tiro a minha mala do colchão e ergo a sua alça, enroscando o meu casaco nela. Suspiro, olhando as horas em meu celular. Eu não posso demorar muito. Quanto tempo alguém levaria para descer do oitavo andar ao térreo e voltar? Provavelmente uns quatro ou cinco minutos, eu já demorei o dobro disso. Estou em apuros, alimentar mentiras é algo muito difícil.
Puxo a minha mala até a saída, fazendo Mika rir quando corro até a porta. Aprecio que um de nós esteja achando tudo isso divertido. Deixo a minha mala ao lado da porta, na parte externa do apartamento, e volto para o meu quarto em busca de Orion.
Eu luto para enrolá-lo em seu cobertor favorito, uma tarefa árdua quando estou com um dos braços ocupados por um bebê risonho. Mas, eventualmente consigo, e saio apressadamente do apartamento. Me olhando nas paredes do elevador, noto o quão engraçada essa cena é, mas não tenho tempo de rir. Preciso encontrar uma hospedagem para Orion e garantir que ele esteja bem, em segurança enquanto me aventuro em terras russas.
Eu aperto o botão do sexto andar, fazendo malabarismos com Orion e Mika, desejando que o elevador seja mais rápido que o usual. Quando as portas se abrem, esgueiro-me para fora do elevador e sem titubeios aperto a campainha da senhora Mary. Estou a ponto de confrontar meu inimigo de quatro patas, o Pinscher raivoso, mas Mary é minha única esperança. Eu não conheço mais ninguém que possa cuidar de Orion para mim. Talvez Francesco, porém, ele mora do outro lado da cidade.
— Aurora... — Senhora Mary suspira ao abrir a porta. — Que surpresa.
— É... — Exalo também, sentindo-me culpada por todos os convites para o chá que ela me fez e eu recusei.
