Em casa, mais precisamente no closet, após o banho, procuro uma roupa que passe certa seriedade mas que seja de casual. 

Conheço bem Martín e sei que se for de modo formal, na primeira oportunidade ele vai me importunar. 

Acabo escolhendo por uma calça estilo jogger preta de um tecido liso e levemente fino, uma regata cinza e uma blusa de tricot azul acinzentado de mangas longas, nos pés, calço um par de tênis baixos na cor branca. 

Penteio os cabelos, deixando-os soltos, já que passaram o dia todo amarrados. Passo um batom leve e um rímel, buscando uma bolsa. Umas gotinhas de perfume completam o visual e eu me observo no espelho. 

— Tenha calma, Julieta. É apenas um jantar, seja forte e respire. — Digo tentando me encorajar. 

Sento na cama, fazendo alguns exercícios de respiração. Preciso me acalmar. 

Martín é o tipo de cara que me deixa sem jeito, julgando minhas ações, me importunando, ele sempre conseguiu me desconcertar, mas dessa vez não vou entrar na onda dele. Seja forte, Julieta! 

Depois de sairmos de casa, eu e o vovô demoramos cerca de quinze a vinte minutos para chegar na mansão dos Pallavicini. 

A mansão, assim como a nossa, é muito grande, porém com um ar mais rústico e antigo, na nossa, o vovô sempre procura modernizar, deixando tudo com um ar diferente.  

— Enrico! Julieta!  — Domênico Pallavicini nos saúda e nos cumprimenta com um abraço assim que entramos no hall. 

— Domênico! — meu avô o abraça feliz, ambos são amigos desde a infância, é muito bonita essa relação deles. 

— Julieta, Como você está linda! — Donatella diz me tirando um pequeno sorriso e me abraçando logo em seguida. 

— Como vão? — Pergunto olhando ao redor, apreciando a bela vista que é a mansão por dentro. 

— Muito bem, sentem! — Ela nos guia até a sala de estar — Martín já está descendo — a mulher sorri misteriosa — Hoje ele foi à empresa, se colocou a par de tudo, chegou bem cansado e acabou se atrasando. 

Ele sempre se atrasa. Penso, buscando controlar a minha vontade de revirar os olhos.

— Vocês estão com fome? — Domênico pergunta rindo —  Hoje teremos Arancinis, Risotto de pescados, polpettone e de sobremesa para a minha querida Julieta… — Ele faz suspense me olhando e eu sorrio sabendo ser a minha sobremesa favorita —  Tiramisú! 

— Olhem só! Tudo para a querida Julieta! — Martín diz rindo descendo as escadas.

Ele passa por meu avô, o cumprimentando com abraço forte, diz algumas palavras em seu ouvido e ambos riem. Tudo isso em menos de um minuto, mas para mim, acontece tudo em câmera lenta. 

— Como vai, Juli? — Martín  me abraça brevemente e eu retribuo. — Ainda compacta, né? — Ele junta as mãos encenando e eu tenho vontade de bater nele! 

— Oi, Martín! — Digo rude — Sai fora daqui! — O empurro de leve e ele sai rindo. 

— Esses meninos! — Domênico sorri. — Vamos jantar? Tudo já está pronto, cheiroso e eu,  cheio de fome!

— Claro, tudo pensado para a Julieta! Eu venho de longe, dez horas de viagem e quem ganha o jantar? Ela! — Martín resmunga rindo indo em direção a cozinha e nós o acompanhamos, meu avô e seus pais rindo do drama dele. 

Após o jantar, todos voltamos para a sala de estar, acompanhados por uma taça de licor de amaro, entretanto, eu me mantive apenas na minha sobremesa, que como o Domênico disse, é a minha favorita.

— Você nem gosta de doces, né? — Martín que por algum motivo que eu não sei qual, sentou ao meu lado, para me importunar, é claro. 

— Não vou nem te responder. — Digo apreciando o sabor adocicado e suave do Tiramisú. 

— Bom garotos, vamos logo ao assunto. — Meu avô olha para Domênico que afirma com a cabeça — Nós nos encontramos hoje com objetivo firme de expansão.  Julieta e eu já havíamos conversado sobre a expansão que queremos fazer na América, certo? — Ele me olha e eu afirmo.

— Certo, vovô. — Sussurro. 

— Por isso, conversando com Domênico e Donatella, decidimos fazer essa expansão de maneira conjunta. Eles serão nossos sócios e apoiadores em todo projeto. 

Nossa que maravilha! Faz alguns meses que eu e vovô vínhamos conversando sobre isso, porém ambos estávamos receosos, pois precisávamos de sócios. Sou gerenciadora majoritária da Delvecchio's de toda a Europa, não teria meios de ir para América. 

Nossa maior preocupação era como fazer essa possível expansão sozinhos e saber que nossos amigos confiaram em nós e nos apoiam é muito bom. 

— Entretanto, já estamos em idade um tanto avançada. — Donatella diz baixinho e sorrindo olhando para Domênico, que segura suas mãos de modo apaixonado. — Por isso, conversamos com Martín e decidimos que vocês dois vão estudar todo o projeto e juntos irão expandir a Delvecchio's. 

Oh, não! Sinto meu coração acelerar… o Projeto de expansão tem um período de no mínimo um ano! Vamos ter que conviver todo esse tempo juntos?  

Sinto vontade de discutir e negociar, mas estudei muito para saber que isso é o certo, eles sabem e eu também sei. Martín é um bom profissional, muito justo e honesto. Porém ele é casado com a vida e eu com o emprego. Ele vai ficar me importunando dia e noite, e eu sinto que o silêncio que eu tanto prezo acabou de acabar. 

Olho ao redor e percebo que todos estão me olhando, como se esperassem uma resposta minha sobre o assunto. Repenso buscando meios de mudar essa decisão, mas sei que é o certo a se fazer. 

Além disso, conviver com o Martín não pode ser tão horrível assim. Preciso crescer, pelo menos com a mente, porque o corpo…

— Entendo, pensando sobre isso, é o melhor a se fazer.  — Suspiro levemente para que não percebam a minha leve frustração. 

— Então acredito que todos estão de acordo? — Domenico olha para Martín e para mim. 

— Sim— Digo buscando um tom firme. 

— Sim. — Martin diz e eu o miro, percebendo seu ar duvidoso. 

Tenha calma, Julieta! Não pode ser tão difícil assim.  Penso e repito como um mantra. 

Uma CEO inalcançável.Where stories live. Discover now