[Outro chute]
B: Sério, juro por Deus que tua próxima historinha vai ser do dia que a mamãe Bia flagrou tua mãe no restaurante com a ex psicopata dela, e elas terminaram. Aí, sim, tu vai ser apresentada ao conceito de tombo que dói mais do que um chute na costela.
A carioca mudou de posição novamente, aguardou uns segundos e, como não sentiu mais nada, respirou aliviada.
B: Agora, sim, a gente começou a falar a mesma língua, né, pequena terrorista? – Acariciou a barriga, finalmente conseguindo acrescentar doçura ao sorriso e olhar.
Mas tudo se desfez quando, outra vez, ela olhou de lado e encarou o vazio da cama.
Respirou fundo, alcançou o celular no móvel lateral e espantou-se quando percebeu que a tela já marcava mais de duas da manhã.
Torceu os lábios, refletiu um pouco mais e soube imediatamente que só o que lhe competia era mesmo a rota da humildade, e principalmente da autocrítica.
Por isso, levantou da cama e, sem se preocupar nem em calçar os chinelos, caminhou imediatamente para o outro cômodo.
Sentou no chão e por alguns segundos se manteve apenas observando. Sentiu vontade de atenuar o incômodo dos sacodes de sua autocrítica com o conforto de abraçar os joelhos, mas o tamanho de sua barriga de trinta e duas semanas já não lhe permitiria.
Frustrada por mais essa razão, só lhe restou mesmo cruzar as pernas e, nessa posição, ficou mais um tempo com o olhar fixo no pouco que revelava a discreta iluminação fornecida pela luminária infantil, que girava e projetava nas paredes as figuras dos elementos do fundo do mar que Bento tanto gostava.
Quando sua hiperatividade não pôde mais ser contida, Bianca finalmente esticou o braço e, depois de fechar o punho e vacilar mais uma vez, acabou se rendendo e levando sua mão aos cabelos castanhos.
O movimento foi gentil e delicado, mas não impediu o susto.
R: No-nossa! – Reagiu erguendo o tronco imediatamente e tentando formular uma frase completa – Aconteceu alguma coisa?
B: Shhhh! – Levou o indicador direito aos lábios e continuou aos sussurros – Tá tudo bem, cuidado pra não acordar o molequinho.
R: Não aconteceu nada mesmo? Tá sentindo alguma coisa? – Emendou o interrogatório.
B: Tô sentindo, sim... – E sabendo que não cabia qualquer demora no esclarecimento, emendou logo:
– Tô sentindo muito a sua falta na nossa cama.
Rafa levou a mão aos cabelos, apertou os olhos e pareceu precisar de uns instantes para conseguir dissipar o susto e a aflição que sentiu.
R: Com a graça de Deus tá tudo bem! – Soltou o ar devagar e virou o rosto de lado para encontrar o olhar acanhado e tão cheio de expectativas de Bianca, que foi mais clara ainda.
B: Eu vim te buscar, volta comigo para o nosso quarto?
R: Eu acabei pegando no sono aqui com o Bento. – Terminou de erguer o tronco com o apoio das mãos espalmadas, olhando para o filho.
Bianca tinha total convicção de que aquilo era apenas uma mentira cordial contada por Rafaella naquela altura da madrugada, quando os ânimos já estavam mais baixos, porque o certo era considerar que a mineira não teve a intenção mesmo de voltar voluntariamente para o quarto.
Não polemizaria, porém, pois seu objetivo era apenas reconduzir a esposa ao ninho delas.
E para fazer isso, tentou se levantar, mas esqueceu do peso extra e do formato diferente de seu corpo que, combinados, fizeram-lhe pagar o pequeno mico de não conseguir concluir o movimento.
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Cinco Dias (RABIA)
FanfictionQuando o isolamento não deixa outra alternativa a não ser dar vida ao que se tentou evitar e mascarar, mas que de fato tem força suficiente para mudar a nossa vida.
[BÔNUS 4: CINCO DIAS DE SOL]
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