O começo

42 6 2
                                    

O celular vibrou e começou a emitir um irritante som. Você tateou entre os travesseiros,

almofadas e cobertas até encontrá-lo e desligou o alarme. Podia ter colocado na soneca...

Mas hoje era um dia especial e não tinha motivos pra continuar na cama.

O quarto que você morava agora, em um daqueles prédios que os donos alugam pra

estudantes, era pequeno. Sua cama, de solteiro, dividia espaço com o armário, e seus pés

ficavam embaixo de uma das prateleiras. O resto do quarto era uma mesa grande o

suficiente pra que você tivesse que escolher entre trabalhar no notebook ou usá-la pra

comer. Mas a coisa mais difícil de lidar até agora era o banheiro. Não era pequeno, mas não

tinha a tradicional limitação de um box e era muito estranho tomar banho no mesmo espaço

que a pia. Como diria sua mãe, ossos do ofício. Ir para a Coreia era um sonho e você arcar

com esses detalhes.

Depois de finalmente levantar e tomar banho, você decidiu que ia fugir da dieta e comer um

bolo. Desceu os 4 andares correndo e foi em uma das únicas confeitarias que conhecia. A loja

era de um casal de senhores muito gentis, que elogiaram seu coreano mesmo com uma

pronúncia ainda bem travada.

— Dona Lee, bom dia! — você se curvou, sorrindo pra senhora que estava arrumando os

bolos na vitrine. O forte eram as encomendas, mas eles também tinham bolos a pronta

entrega.

— Bom dia, menina. — os olhinhos dela sumiram atrás do sorriso.

— Eu quero o bolo mais gostoso que você tiver!

— É seu aniversário?

— Ah, não. Hoje eu comemoro uma semana aqui. — por algum motivo, suas bochechas

coraram. Parecia um motivo bobo pra comemorar.

A senhora Lee meneava a cabeça enquanto ia até a outra ponta da vitrine e apontava um

pequeno bolo. Parecia simples, suficiente para uma ou duas pessoas, coberto por

chantininho em tons pastéis, recheado com frutas vermelhas e geleia. Era perfeito.

— Pode embrulhar, dona Lee? Acho que vou até o Rio Han.

— Vou embalar bem pra você! — ela levou o bolo e entrou na cozinha.

Um outro cliente entrou e você deu espaço pra que ele pudesse olhar os bolos. O senhor

Lee veio atendê-lo e você o cumprimentou silenciosamente.

— E você, menina? Já conseguiu se ajeitar?

— Encontrei um bom lugar, aqui perto! Não sei como vou fazer pra não gastar todo meu

futuro salário aqui!

— Consiga um bom emprego e eu lhe dou um desconto!

— Torça por mim, tenho uma entrevista hoje a tarde.

— Estou torcendo!

A senhora Lee voltou trazendo uma bonita embalagem quadrada e você a seguiu até o

caixa. O cartão ficava colado na parte de trás do seu celular. Podia até não parecer muito

seguro, e ia ser bem complicado perder o celular e o cartão ao mesmo tempo, mas era

PossibilitiesOnde histórias criam vida. Descubra agora