0.2 Abóboras e Saudade.

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"Estou com saudades. De verdade" Minha voz é trêmula e Din fica mudo do outro lado da linha.

"Você sabe que eu também, meu amor" Nunca costumamos nos chamar por apelidos amorosos, escutar isso da boca dele me faz sorrir.

"Seu amor está te esperando aqui. Então volte logo. Vamos comer doces e aproveitar o Halloween. Por favor"

Din ri, e quase posso imaginar ele segurando meu rosto entre as mãos e me beijando. Gostaria que isso acontecesse.

"Eu sairia correndo se pudesse" Nós rimos e ele suspira. "Você promete que vai dormir?"

Eu cruzo os dedos.

"Prometo" Minto. Tenho planos para hoje.

Escuto uma voz grossa chamar por ele e sei que é o chefe que está comandando o grupo de veterinários que estão com Din. Eu mordo os lábios, mas pelo menos hoje ele estará aqui.

"Eu acho que preciso ir." Sua voz parece triste e eu faço um som de afirmação. Também estou triste. "Você sabe que eu te amo, Lory."

Quase abraço o celular, mas percebo que isso seria passar dos limites.

"Eu também te amo." Sinto como se um peso saísse de minha garganta e um alívio enorme me invade. "Muito."

"Muito." Ele faz som de beijo e eu começo a rir.

"Você beijou o celular?" Ele ri comigo.

"Talvez eu tenha feito isso. Às vezes acordo abraçando o travesseiro de noite achando que é você. Estou perdendo a cabeça." Meu rosto esquenta e é bom saber que não sou a única.

"Hoje eu serei seu travesseiro." Din ri, mas sei que ele ficou tímido. "Até mais tarde."

"Até mais tarde, Lory."

Então ele desliga e eu coloco o celular na bolsa, finalmente me sentindo bem depois de dias. Eu desligo a caixinha de som e me preparo para enfrentar as ruas decoradas de Fog City.

Não irei dormir.

Chegando na portaria, James, o porteiro, acena para mim com um sorriso gentil. Eu retribuo, observando que não tem nenhuma decoração de Halloween no prédio. Mas quando chego a rua, me surpreendo. Ainda é bem cedo, mas tudo já está arrumado.

Várias casas estão totalmente decoradas, e acho isso tão incrível que gostaria de ser criança novamente para pegar doces. Eu ajeito minha bolsa no ombro e aprecio o sol morno em minha pele. Gosto do som que as folhas secas fazem quando piso nelas, e logo estou me sentindo relaxada.

Essas duas semanas que estou sozinha estão sendo um tanto complicadas. Comecei a entrar num ciclo vicioso de acordar, sair para faculdade, voltar para casa e dormir. Assim, sempre. Agora estar sentindo o ar fresco pela manhã é muito confortável.

Entro no mercado refrigerado perto de casa. O ar gelado do ar condicionado gela minhas bochechas e odeio isso. Tem poucas pessoas, talvez em busca do mesmo que eu.

Vou atrás de gelatinas coloridas, doces e pipoca de microondas.

- Precisa de ajuda? - Um funcionário indaga e eu nego com a cabeça.

Mas de repente, minha visão fica meio turva e uma tontura horrível me domina. Sinto mãos em meus braços e então respiro fundo.

- Você está bem? - O garoto, que parece ter uns dezessete anos, pergunta preocupado.

Eu molho os lábios, ainda deixando-o me segurar.

- Acho que sim.

Ele me faz sentar na cadeira do caixa e coloca a mão em minha testa.

Você, Nós e o HalloweenOnde histórias criam vida. Descubra agora