— Eu acredito nisso. — a voz dela saiu trêmula e parecia tão afetada quanto eu. Mas eu podia ver nos olhos dela... algo mais. Algo escuro, misterioso.

— Algum problema?

Eu estava sendo muito ousado?
Em algum momento ela iria perceber que não era uma boa ideia onde estávamos chegando e desistir?
E onde estávamos chegando?
Merda. Que tipo de homem eu era que nem mesmo sabia o que estava fazendo?
Daisy, eu nunca pensei em beijar uma mulher -não não- eu nunca conversei com uma, fora a minha própria mãe, e agora eu estou começando a me convencer se devo ou não ter relações sexuais, mas em toda minha vida eu só toquei em pessoas quando elas estavam mortas.
Droga, até em minha mente isso saiu errado.
Eu não toquei em pessoas mortas. Eu toquei... mas não de uma maneira como eu quero tocar nela.
Ainda pior.

Ah, droga.

— Problema? — ela perguntou, e eu percebi que ela estava fingindo tranquilidade.

— Sim, Daisy. — esperei pacientemente, querendo e não querendo saber.

— Não. Nenhum problema. — rápido demais, sem nenhum piscar de olhos.

Ela estava escondendo alguma coisa.
Talvez eu estivesse agindo rápido demais. Poderia ser um problema. Sim, eu estava animado com a perspectiva de que eu podia ser mais normal do que eu pensava, e toda a descoberta da atração, mas eu tinha que me concentrar em meu propósito principal : Escapar.
Embora parecesse muito confortável onde eu me encontrava, e talvez aquilo fosse também uma armadilha, percebi pela primeira vez.

Fomos tirados de um cubículo sufocante e colocados naquela casa como um premio quando na verdade não se passava de outra prisão. Ainda estávamos sendo enganados, roubados de nossa liberdade e sem condição de ditar nossas próprias vontades.

Eu não queria estar aqui. A presença de Daisy me distraiu da realidade da situação, e aquilo eu não poderia aceitar. Era perigoso, e muito inteligente eu tinha que admitir.

Eu tinha que botar a cabeça no lugar, e parar de agir como um adolescente.

Porra. Aquela era a primeira vez que eu me condenava por agir como um.

Parte de mim ficava feliz por isso, ao mesmo tempo que revoltado.

Eu estava uma bagunça completa.

— Já está tarde... —olhei ao redor mas lembrei que não havia relógios com uma careta— provavelmente.
Acho que o mais inteligente — seja inteligente, seja inteligente — é encerrar a noite e dormir. Não sabemos o que vai acontecer amanhã, e depois do que aconteceu, nosso plano vai ter que ser mudado.

— Mudado? — ela perguntou bobamente, e a testa dela se enrugou.

— Agora estamos aqui em cima — expliquei— não precisamos de um plano tão elaborado assim. Provavelmente iremos escapar mais cedo do que pensávamos. Você, acima de todo mundo deve querer isso, então temos que nos organizar.

Levantei do sofá a contra gosto.

Pernas idiotas, me obedeçam.

— Precisamos de uma grande noite de sono.

Falei enquanto me afastava dela, sem olhar para trás.
Eu não queria correr o risco de me arrepender e continuar onde parei. Eu não queria me fazer de idiota completo.

Mas enquanto eu colocava distância entre nós, eu sabia que o que eu não queria, era descobrir algum sinal negação nos olhos dela.

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"Eu, acima de todas pessoas devia querer escapar."

O filho de Jeff the killerWhere stories live. Discover now