Quando dei por mim estava caído no meio da rua. Poucos meses para curar um vício de quatro anos para mais, que grande besteira, é óbvio que não ia funcionar. Eu não sou nada sem aqueles remédios do centro de reabilitação, eu não resisto quando não os tenho entrando em mim. E agora, que estou sem eles e sem S/n tudo ficará mais impossível. Mais sem nexo. Eu a perdi, antes mesmo de tê-la por completo.

Quando estava chegando nas páginas finais do diário sequer tinha mais lágrimas para deixar cair, já havia gastado todas. Encontrei uma foto, com um bilhete colado em cima. Peguei-a com as mãos tremulas, acariciei a imagem S/n, congelada, desejando que ela se mova. Que me xingue. Que saia dali. Que volte.

Diversas frases que S/n escreveu voltam em minha mente e se encaixam perfeitamente no que estou sentindo. Ainda que em um contexto diferente. Uma delas, do primeiro dia, descreve com perfeição o dia de hoje.

"Hoje foi só o primeiro de muitos dias em que tua ausência será sentida, é como se existisse um vazio em todos os lugares para onde olho, falta algo. Falta você".

A fé que ela colocou em mim, a esperança, a certeza de que eu ia me curar faz com que me sinta a pior das pessoas. Copiando novamente uma das frases de S/n, pedi a mesma coisa que ela meses atrás. Pedi que me confortasse.

"Preciso de você aqui, preciso olhar em seus olhos e ter a certeza de que tudo ficará bem".

Respirei fundo e decidi ler o que estava escrito na página em que encontrei a foto. Para que?! As lágrimas voltaram com tudo, somente com uma frase.

"Obrigada por ser um guerreiro. Por ser forte."

A frase seguinte me mostrou que agora sim eu perdi tudo, eu perdi o único motivo pelo qual poderia lutar novamente contra as drogas.

"Quando queremos algo podemos conseguir, só basta ter alguém que acredite em nós, apoiando-nos".

Então, como em um passe de mágica, as lembranças ficaram turvas e uma nuvem negra se colocou sobre elas. Frases doloridas, de magoa, de raiva, retornaram.

"Eu achei que você podia mudar, que você queria fazer isso pela gente...".

Fechei os olhos com forca querendo espantar os pensamentos. Porém eles somente ficavam mais claros.

"Eu não tenho condições de conviver com uma decepção como você".

Uma decepção é isso que eu sou para S/n agora. É isso que eu sou para mim mesmo.

POV S/N

O percurso até o Brasil foi longo, tive tempo para pensar em coisas que, na realidade, não queria. Lágrimas vinham e iam. Constantemente. O filme não mais conseguiu prender minha atenção. Quando pousei tive a certeza de que agora sim, acabou. Respirei fundo, peguei minha bolsa e desembarquei. O ar quente tocou meu rosto. Fui tomada por um sentimento estranho, me sentindo perdida, como se aquele não fosse mais meu lugar.

Até que avistei minha família. O choro foi inevitável quando abracei minha mãe, toda a saudade reprimida voltou, sentir seu perfume materno me acalmou. O mesmo ocorreu com minha irmã que está enorme. E com Riley e Nailea.

- Você cortou o cabelo. - acusei Riley, secando as lágrimas enquanto a olhava.

Nailea: Só cinco vezes. - debochou, rindo. - Meu Deus, olhe só para você Stewart, parece uma modelo. - segurou minhas mãos. - Com essas roupas chiques.

- São seus olhos. - brinquei, sorrindo.

Karen: Meu amor, você está linda. - me abraçou novamente. - Queremos saber todos os detalhes da viagem.

 𝘁𝗵𝗲 𝗲𝘅𝗰𝗵𝗮𝗻𝗴𝗲 ! 𝗽𝗮𝘆𝘁𝗼𝗻 𝗺𝗼𝗼𝗿𝗺𝗲𝗶𝗲𝗿Where stories live. Discover now