Droits des travailleurs.

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— Uma mulher como eu? — ergui as sobrancelhas. — Você vai me levar lá então?

— Não, tenho assuntos a resolver. Peça ao Arthur.

Ultimamente, tudo se resumia a essa frase e, para ser honesta, Arthur era o único a fazer coisas para mim, então eu balancei a cabeça e olhei para o homem na minha frente esperando ele abrir a porta.

Lá dentro, o cheiro de cigarro estava forte, nunca cairia minha ficha de que eles fumavam tanto. Os homens estavam em volta das mesas discutindo algo que eu não me dei ao trabalho de ouvir, no momento só estava focada em saber como chegar no lago.

Encontrei Arthur sentado ao fundo, com um copo de uísque na mão observando todos os outros brigando. Era um milagre ele não estar no meio da confusão.Ele tinha um quê dramático apesar de tudo.

— Pode me levar no lago onde vocês estavam atirando? — indaguei sem rodeios ao chegar perto dele.

— O que quer fazer lá?

— Acho que perdi algo, então quero ver se ainda está por lá.

Ele se levantou.

— Vai ser melhor do que ficar assistindo a esses malucos — bebeu o resto do uísque e bateu o copo na mesa, se levantando em seguida. 

— Ah, leva uma pá — sorri.

Arthur foi durante todo o trajeto perguntando se iríamos enterrar alguém e aquilo me assustou, mas não falei nada. Ele parecia ficar alegre conversando sobre mortes.

O lago estava como exatamente como no dia de todo o acontecimento, e não demorou muito para que começássemos a procurar a única coisa que me dava esperança de voltar para casa.

— Você é cheia de mistérios, espiã. — ele ainda me chamava assim, mas agora como um apelido. — O que estamos procurando?

— Uma pedra branca e brilhante.

— Quanto você vai me pagar por esse trabalho manual? Não costumo ficar cavando buracos atoa.

— Pensei que ia ser de graça — sorri observando-o cavar. — Posso te pagar uma bebida.

Ele fez uma careta.

— Quero um terno. Sei que o Tommy está te pagando bem.

— Se você achar essa pedra, hoje mesmo eu saio daqui, Arthur. Mas antes vou falar com o Thomas para usar o meu pagamento inteiro no seu terno.

Ele enganchou a pá na terra úmida e se encostou nela, me observando.

— Isso tem a ver com as coisas loucas que você falou no galpão? — indagou curioso e eu assenti. — O que você realmente é, Gale?

Eu adoraria responder a essa pergunta com clareza, mas ele não acreditaria em nada e ainda me chamaria de louca.

— Só não sou daqui e não sei como cheguei aqui, mas eu ainda vou descobrir.

Ele balançou a cabeça e voltou a cavar.

Passamos a manhã inteira cavando diversos buracos na mata do lado do lago e nenhum brilho sequer vimos. Talvez eu tenha cogitado errado mais uma vez.

Quando voltamos à cidade, todos os Shelbys presentes na casa de Polly nos olharam de cima a baixo. Estávamos sujos de terra, suados e cansados. Infelizmente eu ainda teria de contar dinheiro o resto do dia.

Fui até a sala onde Michael estava e sentei ao lado dele, em silêncio ele me entregou um bolo de dinheiro e comecei a contar. No entanto, minha cabeça estava em um lugar totalmente diferente, minha verdadeira casa.

Será que Matteo ainda procurava por mim ou sentia minha falta? Será que os policiais exibiam alguma foto feia minha nos jornais?

— Gale. — Thomas surgiu na porta. — Preciso falar com você.

Levantei-me e saí da sala, andamos em silêncio até o andar de cima onde adentramos um quarto e ele fechou a porta. Observei-o acender um cigarro e sentar-se em uma das poltronas de couro vazias.

— Amanhã vamos em uma corrida de cavalos e preciso que você me acompanhe, então pegue uma roupa bonita com alguém e me encontre no canal às dez e meia da manhã.

— Ada não pode ir com você? Amanhã é o meu dia de folga.

— Ela é minha irmã e além do mais, você não tem dia de folga, só quando eu deixo você ficar em casa.

— Direito dos trabalhadores você nunca ouviu falar, não é? — dei risada.

— Não estou brincando. Esteja amanhã lá sem falta.

— Sim, senhor — bati continência sorrindo, mas Thomas não era de rir.

E com isso saí do quarto deixando um sorrisinho bobo escapar dos meus lábios. 

Coração Negro | Thomas ShelbyWhere stories live. Discover now