Mas essa harmonia familiar não durou muito. Eu estava com fome, estava ficando louco e histérico com tudo a minha volta. Eu estava achando estranho quando comia e a sensação de vazio continuava em meu sistema digestivo. Minhas gengivas latejavam, meus dentes formigavam e nada dessa sensação ir embora. Quando questionei eles sobre isso, me explicaram que eles não mordiam humanos de forma alguma, pois eles não achavam justo tirar vida de inocentes para saciar seu "monstro interior" como eles chamavam. No momento não entendia, mas quando ouvi eles falarem sobre morder humanos, uma vontade súbita de sair e cravar meus dentes em alguém sucumbiu qualquer outro pensamento que estivesse em minha mente e assim eu fiz.

Fugi de casa e passei oito meses fora. Nesses oito meses deixei meu lado animal e monstruoso me dominar por completo ,matei todos que me deram vontade e suguei até a última gota de sangue que havia dentro daqueles corpos. Mas em uma noite, vi dois rapazes andando juntos e conversando, nessa hora me animei e senti meus dentes arderem para matá-los, mas na hora que ia atacar eles se beijaram. Na mesma hora senti uma força não humana me dar um empurrão para trás e então meu lado racional começou a agir. Como flashes em minha mente, lembrei de quando eu já fui como eles, pensei em quantas vezes o meu melhor amigo já não quis me matar e não o fez por me amar genuinamente, algo que para nós era muito difícil e então senti pela primeira vez em tempos, compaixão.

A partir desse dia não consegui mais morder ninguém. E por favor não se engane ou me ache fofo por isso, ainda sinto vontade de matar vinte e quatro horas por dia e estou constantemente em uma luta interna entre meu demônio interior e eu. Voltei para casa, pedi perdão a minha família e desde então comecei a caçar animais com eles para saciar um pouco minha fome sobre os humanos. Então eles tiveram outra conversa comigo, falaram que eles se mudam constantemente para poder "viver normalmente" já que todos nós tínhamos aparentemente dezessete anos, que foi a idade em que fomos mordidos. Quando somos mordidos nossa aparência permanece e não mudamos nada fisicamente nunca mais. Estou com a mesma face que tinha a 95 anos atrás, tanto eu quanto minha família.

Minha família biológica achou que eu tivesse morrido e para o bem deles deixei que eles continuassem achando isso. Vi de longe meus pais morrerem de velhice e minha irmã...bom ela morreu no massacre onde eu também deveria ter morrido. Nós nos mudamos constantemente, vimos a sociedade evoluir para pior e melhor, presenciamos cada mudança e cada evolução tecnológica que o tempo proporcionou. Começamos a forjar uma vida de adolescentes de terceiro ano à quarenta anos atrás e continuamos até hoje, porque essa foi uma boa forma de nos infiltramos na sociedade já que com nossa aparência nunca conseguiríamos empregos ou conseguiríamos ficar em um mesmo lugar por demasiado tempo sem levantar suspeitas. Estamos nessa cidade nova faz dois anos, no primeiro ano apenas nos certificamos de conseguir registros escolares falsos (de novo) e novos documentos para podermos nos encaixar e seguir com nossa vida de mentiras.

Agora estamos à três meses na nova escola que se chama Monrow High, uma escola pública clássica com nada de diferente de todas as outras milhares que já frequentamos. Aqui em Monrow estamos vivendo bem tranquilamente já que não estou falando de uma cidade grande, aqui é calmo e bem pequeno, então cada movimento precisa ser bem calculado para não levantar nenhuma suspeita sobre nós. Apesar de não ser difícil para nos infiltrarmos já que todos os humanos daqui são um bando de alienados que não se importam com nada além dos próprios narizes.

Oque, aliás, eu não estou reclamando.

Eu nunca me apaixonei por ninguém, talvez na vida humana...mas faz tanto tempo que nem me recordo. Sou gay, sim um vampiro gay, já tive relações sexuais com homens em minha "vida" nova e hoje com a tecnologia consigo comprar camisinhas que esquentem meu membro, já que ele é gelado --literalmente-- como um defunto e por incrível que pareça ainda funciona normalmente, até consigo ejacular e sentir prazer mas meus espermatozoides não conseguem gerar vida. Por ser vampiro me proibi de ter relações sexuais porque percebi que o prazer que sentia no sexo era na verdade vontade de matar meu parceiro.

Após meu lanche rápido na floresta voltei correndo para minha casa que também ficava entre as árvores e matagal da cidade, escolhemos fazer a casa lá para podermos ser mais "livres" e não precisarmos fingir que somos humanos todo o tempo.

- Voltou? - Questionou meu irmão que já sentiu minha presença.

- Sim .- Disse sem muita animação.

- Sabe que consigo sentir suas emoções certo? - Disse ele chegando mais perto de mim com os braços cruzados. Ele consegue sentir as emoções das outras pessoas, é o "dom de vampiro" dele.

- Sim Niall, eu sei. - Revirei os olhos.

-Não revire esses olhos para mim Harry! Sabe que só faço isso por me preocupar com você.- Disse repreendendo a minha pessoa.

- Niall não precisa se preocupar comigo, não somos crianças por favor!- Exclamei já farto dessa preocupação desnecessária. Não gosto que invadam meu espaço pessoal, detesto quando ele vem me sentir, me sinto violado.

- Ei ei que barulheira é essa aqui?

- Nada Zayn. - Falei indo em direção a cozinha.

-O de sempre Zayn, o Harry fingindo que está bem! - Disse a última parte gritando para que eu ouvisse.

-Niall deixe ele, se ele não quer falar não seja mal educado.- Zayn disse tentando impedir que eu e ele tivéssemos qualquer discussão. Esses dias estava bem chato e mal humorado, não compreendia o porque mas também não queria saber.

- Harry? - Ouvi alguém me chamar.

-Olá Amélia.

- Discutiu com o Niall de novo? - Disse se sentando ao meu lado na mesa.

- Na verdade estou evitando discussões então apenas sai de lá.- Disse sem fazer muito caso. Amélia era a namorada de Niall, também era vampira e já era da família desde a época em que fui mordido.

- De qualquer forma, o Liam pediu para avisar para você que ele não vai caçar amanhã.- Ela falou já se levantando da mesa.

- Como? - Liam era sempre o meu parceiro de caça, hoje eu fui sozinho porque não planejava caçar mas fiquei com fome...

-Ele não irá caçar, está fazendo uma viagem para falar com o conselho sobre algo... -Disse com certa dúvida em seu tom de voz.

-Tudo bem, amanhã não iremos para escola certo?

-Iremos sim, vamos caçar a noite. Já que o Liam não vai com você vamos todos juntos para não ficarmos faltando tanto, até porque pode levantar suspeitas e vão querer "falar com nossos pais."- Disse rindo a última frase.

Ri nasalado e não falei mais nada com ela. Entendendo meu recado ela se retirou da cozinha e me deixou só. Liam é o marido de Zayn e também está conosco desde a época que o Niall me transformou. Liam é como o pai do grupo, sempre cuida de nós e eu criei uma forte ligação com ele porque ele me ajudou muito quando fiquei com abstinência de sangue humano. Nossa família é incrível e eu amo todos eles. Mesmo que eles me irritem e incomodem bastante não conseguiria ficar sem eles. Amanhã será um longo dia, mas nada de novo já que sei todos os assuntos ensinados de cor.

Como não sinto sono ou cansaço, apenas saio com os meninos pela noite para conversar e correr nas madrugadas geladas, mas como hoje estava sem vontade de sair em grupo então fui sozinho. Me despedi deles e corri para floresta. Voltando as 07:54 da manhã fui me trocar para ir para a escola, não tomo banho porque não cheiro mal ou se quer cheiro a algo, para disfarçar sempre ponho uma colônia qualquer. Sinto que hoje será um longo dia...

Blood Type [L.S] EM REVISÃOWhere stories live. Discover now