Complicações

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Dois dias.

Depois de quase quatro meses de treinamentos e protocolos, faltam dois dias para a viagem. Ou pelo menos faltavam. Problemas de conexão com a NASA e manutenções a fazer no foguete. Tudo dando errado.

– Filha – Minha mãe me chama da porta de meu quarto na base. – Está tudo bem?

– Bem é uma palavra muito forte, mãe. Eu estava tão animada e então...

– Nós iremos, ok!? Tudo no seu tempo Nessa, é melhor adiarmos um pouco para fazermos uma viagem segura do que irmos depressa e termos algum problema no caminho.

– Eu sei, mãe. Eu sei. – A respondo e volto a olhar para o computador. Ash diz que logo estaremos prontos. Diz que em menos de uma semana iremos. Não acredito nele.

Ano passado passei dois meses tendo as mesmas aulas que passei cinco meses tendo esse ano, e no final não fomos. Minha mãe disse que eu não estava preparada e a conexão não estava tão boa com a Terra. Adiou para esse ano.

Odeio por tanta expectativa nas coisas e no final dar errado. E se não formos? E se eu nunca mais ver meu pai? E se eu nunca visitar a Terra?

Nem meus avós eu conheço. Não conheço minha família. Vídeos chamadas e trocas de mensagens não contam, isso não se compara a um final de semana acampando com mamãe e papai e uma mesa cheia com toda a família no natal, igual eu vejo nos filmes.

Penso que nunca terei um irmão ou irmã. Tenho medo de meus pais se separarem por causa da distância, por causa da porcaria de um universo que os separa. Literalmente um universo.

Tenho medo, também, de que se eu for para a Terra, acabe tendo algum problema para me acostumar. Mas, ao mesmo tempo, meu sonho são esses problemas.

Não me importo de passar meses na NASA apenas aprendendo sobre o planeta e fazendo exames para checar minha saúde. Eu quero isso, eu sempre quis, então não seriam essas pequenas coisas chatas que me desanimariam.

O garoto da Terra | Vinnie HackerWhere stories live. Discover now