Capítulo Dez

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Refiz meus passos por todo o caminho de volta ao palácio após me despedir de Erick. A conversa com ele trouxe a certeza de que todos estavam escondendo algo de mim. Cecília era a noiva do arquiduque, mas nenhum dos dois demonstravam interesse no relacionamento e não tinham o habito de se encontrarem. Até mesmo as trocas de cartas cessaram. Ambrose passava o dia confinado no seu escritório e mesmo assim sua presença recaia sobre os servos como uma sombra que os seguiam a cada passo que davam dentro palácio.

Todas as coisas que ouvi sobre o Diaval antes de entrar no palácio soavam falsas e verdadeiras em simultâneo. Ele tinha todos sob controle, não havia uma única pessoa que não o temesse, que não implorasse pela vida com todo o fervor diante dele. Quais categorias de castigos ele infligiu para causar tal terror? Lembrei-me instantaneamente do servo com o rosto rasgado. Não havia possibilidade dele ter feito aquilo, ou havia? E quanto a jovem criada que me pedira ajuda? Seu rosto nunca mais foi visto desde então... Será que...

Balancei a cabeça em furiosa negativa. Não, não quero pensar que esteja morta, porque esse pensamento traz outras três perguntas mais assustadoras...

Por que, por quem e como?

Subi o lance de escadas contando degrau por degrau na tentativa de ocupar minha mente com qualquer outra coisa, falhando a cada vez que um servo passava por mim, evitando qualquer categoria de contato físico ou visual. Ao menos, eu não estava mais sendo intimidada. E essa era outra coisa que me intrigava. Por qual razão os servos eram tão extremos na sua forma de agir? César era o único que tinha um comportamento razoável, em contrapartida, os demais agiam como se uma corda estivesse amarrada ao redor dos seus pescoços. Em alguns momentos ficavam tão rígidos quanto estátuas, amedrontadas e até um pouco paranoicas. Já em outros, — geralmente longe de mim e do arquiduque — eles passavam uma impressão mais relaxada. O que me fazia crer de que de alguma forma, eu estava inevitavelmente conectada com a maldição de Diaval Ambrose.

E no final da escada, nada disso fazia sentido algum. Era como se eu tivesse recebido peças de diferentes quebra-cabeças, nenhuma delas se encaixam. Mas uma coisa era certa, cada pessoa que vive nesse palácio estava guardando um segredo e cabia unicamente a mim, desvendá-los.

Mas por onde começar?

— Senhoria Mabel — Hanna me chamou antes mesmo de eu entrar no corredor que levava ao meu quarto.

— Senhorita Hanna? Estava me procurando? — respondi, enquanto me aproximava dela.

— Sim, o arquiduque deseja que vá até o escritório dele — disse sem rodeios. Sua fala direta era algo que eu considerava ser um dos grandes charmes da serva pessoal do arquiduque, essa característica sem dúvida deve ter se formado com a convivência com o seu mestre.

— Sabe para qual fim? — perguntei, me sentindo ansiosa. Ele era a última pessoa que eu gostaria de encontrar agora.

Ela negou com um aceno de cabeça, e disse:

— Eu não questiono as razões do meu senhor, apenas sigo suas ordens.

— Incondicionalmente? — questionei, olhando profundamente em seus olhos.

— Incondicionalmente — Ela ergueu o queixo e me encarou de volta. — Sugiro que atenda ao chamado do senhor Ambrose. Tenho outras coisas para dar atenção agora.

— Farei isso — respondi, assistindo ela ir embora.

Deixei que meus pés me guiasse pelos corredores até que estivesse atravessando a ala do Ambrose. Não havia nada de novo nas paredes desnudas de quaisquer decorações, no piso limpo e brilhante, nas luminárias suspensas nas paredes e janelas com suas extensas grossas cortinas e às três grandiosas portas fechadas. Tudo permanecia igual. O quarto, o cômodo selado pelas correntes e por fim, o escritório. De fato, não havia nenhuma novidade, no entanto, uma energia diferente pairava no ambiente, uma sensação de formigamento que me deixava inquieta. Algo naquele quarto fechado parecia gritar para que eu o explorasse, descobrisse todas as coisas que eram cuidadosamente guardadas em seu interior até que não existisse nenhum segredo que eu não soubesse. Até eu ter todas as respostas.

Persona - A Maldição de AmbroseWhere stories live. Discover now