Capítulo 34

4.3K 525 51
                                    


Eu não conseguia parar de me mover. Todo meu corpo parecia estar sob o comando de uma força maior. Olho para o relógio e depois para a porta. Provavelmente vim fazendo o mesmo movimento a cada segundo, assim explicaria o porquê o relógio não adiantava. Poderia estar quebrado? Quem tinha um relógio velho desses no século XXI? Eu morava com três pessoas altamente ligadas à internet...  

- Pelo amor de Deus Lucca você está me deixando tonta e esse cachorro não para de latir com você se mexendo assim. - Olivia segura o pequeno cachorro e tenta acalma-lo. Desvio dos olhos julgadores dela. 

Eu havia preparado tudo. Patrick estava avisado que iriamos sair e todos os compromissos foram cancelados pelos próximos dois dias. Eu nunca fiz algo assim, eu não me considero bom em fazer surpresas. Logicamente falando, havia 50% de chances dele odiar. E se isso acontecesse eu até poderia culpar Katy, afinal foi ideia dela, mas eu teria a outra metade da culpa e ficaria com a rescisão de me sentir péssimo. 

Surpresas me deixavam ansioso. Minha mente borbulhou a semana toda sobre como Patrick reagiria. Embora notasse que Patrick era carinhoso, não parecia ser romântico. E se ele achasse que eu exagerei? Não adiantava comparar nossa relação com outras porque Patrick era um homem, e não adiantava agir como se nós dois ser homens me fizesse saber o que ele gostaria em um encontro. Droga. Namorar homens podia ser mais estressante do que namorar mulheres. 

- Por que o vegano não para de latir? - Tony surge em seu famoso pijama das meninas super poderosas. 

- Lucca está igual uma mulher traída esperando o marido chegar para checar se o cheiro da amante estará no colarinho. - Olivia resume. 

- Se ele te trair vai ser olho por olho e dente por dente. Voltamos ao tempo de Jesus. - Levando meu dedo do meio para Tony e ele me espelha. 

- Odeio vocês. - Murmuro. - Você principalmente. - Dessa vez me dirijo à Olivia. 

- Seu ódio é como sérum para a minha pele. - Antes que eu pudesse responder a porta se abre revelando a pessoa que eu mais queria ver. 

- Oi, boa noite. - Patrick nos surpreende com seu lindo sorriso. - Estão esperando alguém? Por que estão todos na sala? 

- Lucca quer checar o seu colarinho. - Tony murmura a caminho da cozinha. 

Patrick toca sua camisa e me encara desentendido. 

- Vem, eu preciso conversar com você. - Puxo Patrick escadas acima. 

°°°

- Você vai me contar o porquê do suspense? - Patrick sorria, parecia alegre enquanto o carro nos levava para o nosso destino. 

- Não é suspense, eu te falei, nós vamos sair. - Dou uma rápida olhada ao meu lado, Patrick optou por o seu usual estilo: todo de preto. Ele nem se esforçou e parecia lindo. Eu tive que pensar por meia hora para escolher o que vestir. Isso dizia muito sobre como eu estou hipervalorizando esse encontro. - Afinal, você não poderia usar outra cor? Um azul? Um vermelho? Qual o seu problema com as cores? Você é daltônico? 

- Respira Lucca, é só um encontro. - Assim que sinto sua mão na minha perna, sobe o desconforto no meu estômago. 

Que droga, eram assim as famosas borboletas? 

- Vocês são gays? - A voz do motorista me expulsa da bolha egocêntrica a qual me distraia. Patrick pressiona um pouco sua mão na minha perna e eu fico tenso. Quais as chances de enfrentar meu primeiro ataque homofóbico logo no primeiro encontro?

- Somos. - Digo sem pensar muito. 

Poderíamos dizer que não, afinal, nós não éramos gays. Mas do que adiantaria, massagear uma sigla apenas para alguém não se sentir desconfortável? Eu estava preparado para tudo, eu fiz judô! 

- Algum problema? - O tom de Patrick foi extremamente neutro e ao mesmo tempo intimidador. 

- Não, claro que não. Por favor, não me entendam mal! Meu filho se assumiu faz alguns dias. Eu não estou sabendo lidar muito bem, ele só tem dezessete. - O alívio que senti foi tão significativo que meus ombros desmancharam para baixo. Automaticamente seguro a mão de Patrick, que ainda estava sobre a minha perna. 

- Não tem idade para se identificar, o que importa é que ele se sentiu confortável para se abrir com você. Nessa idade se quer apenas que os pais os aceitem, que possam prover um lugar seguro no qual eles possam ser o que quiserem, sem se esconderem. Acredite, já será ruim o suficiente para ele aqui do lado de fora. Eu imagino que não esteja sendo fácil para o senhor, mas pense em como não está sendo fácil para ele também. O medo deve ser algo constante para ele, mas o pior, e o mais doloroso, seria se você o recusasse. Por favor não faça isso, ele precisa do seu apoio. 

Meu coração aperta com as palavras sinceras de Patrick. Não era difícil ver que eram palavras de um garoto que não teve a mesma sorte. Lembro-me do que disse  acerca do seu relacionamento com o pai. Sua experiência lhe dá toda a certificação de fala. 

- Você tem razão garoto. Meu filho é o meu mundo, eu só quero o melhor para ele. - A voz do motorista soou desconfortavelmente triste. 

- O melhor para ele é ter o seu apoio e respeito por quem ele é, dê tempo ao tempo, você vai entender. - O motorista abre um sorriso simpático para nós ao olhar pelo retrovisor. 

- Se ele crescer parecendo um rapaz adequado como você, eu terei feito algo bom nesse mundo. - Patrick apenas acena. 

E eu esqueci todo o meu drama pessoal anterior. Eu tinha um cara incrível ao meu lado. Iria fazer essa noite valer a penas para nós dois. Um sentimento estrangeiro assenta-se no meu peito me dando uma imagem clara, eu quero fazer Patrick feliz. Que ele sorria para mim e goste da minha companhia. 

Era isso. Patrick Taylor seria meu. 

Beije-me da forma como quer ser amado (EM BREVE NA AMAZON)Where stories live. Discover now