Último Dia

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As pessoas sempre me empurravam nos corredores. Me olhavam com se eu fosse uma lixeira fedorenta, e aquilo me incomodava. Não fiz nada para merecer todo aquele ódio, nem sequer sei o motivo de o ter.

Mas tenho certeza que não é por causa das minhas medalhas em skate ou meus troféus em basquete, afinal isso já não está na moda, hoje em dia você só precisa nascer bonita para chamar a atenção.

Nunca tive nenhum amigo verdadeiro, os que tive largaram-me na primeira oportunidade.

Desde que entrei para a universidade tenho sido apelidada de "A vaca feia". Costumam-me chamar isto, pois não tenho o corpo das populares e os meus pais sempre foram pobres, então havia vezes em que andava com a mesma roupa durante uma semana.

Até á nona série toda a gente gostava de mim, mas muitas fofocas acabaram surgindo na boca do povo e mentiras absurdas eram ditas sobre mim. A maior parte das pessoas começaram a acreditar nos boatos falsos e eu, sem ninguém a acreditar em mim, desenvolvi problemas de saúde mental graves.

Hoje é o último dia de aulas, depois de anos de estudo. Eu não costumo acordar muito cedo, mas isso não me impede de passar uma base e um pouco de blush.

Entro na universidade e vou para a sala da primeira aula, que é, matemática. Sento-me numa das cadeiras do fundo, tiro o meu caderno e rabisco uma lista de ideias de coisas para fazer depois da escola, quando chegar em Los Angeles.

Sim, eu vou para Los Angeles. Andei a poupar dinheiro durante cinco anos, só para conseguir mudar de país. Iria começar uma nova vida lá. Ainda pretendo tornar-me gerente de uma empresa, mas se conseguir vaga numa equipa de basquete eu nem sequer penso duas vezes.

Esse é um dos meu sonhos, sempre fui uma grande jogadora e quero continuar a ser, mas desta vez na WNBA. Já imaginaram a cara de todas estas pessoas quando vissem nas notícias que outra brasileira havia entrado na WNBA.

"Bom dia alunos!" o professor Pedro diz entrando na sala. "Antes de começar a vos mostrar o filme que prometi, queria agradecer a todos, sem exceção, por este ano incrível. Foi muito bom trabalhar ao vosso lado, espero que tenham aprendido muito e quero que conquistem todos os vossos sonhos quando saírem por esta porta. Prometem-me?"

"Sim." poucos responderam, a maior parte nem estava a ouvir.

Passo o resto da aula fazendo os meus apontamentos, enquanto ouvia o filme que estava a dar.

O sinal não demora a tocar, então como todos os outros dias, decido ir logo para a sala. A próxima aula era a de artes, confesso que essa era a minha matéria favorita, e também a que eu me saía melhor. A professora não era das melhores, mas era fácil de aturar.

Tiro uma maçã da mochila e começo a trincá-la, estava na última mordida quando o sinal entoa por toda a sala e os alunos começam a entrar. Podia ser só impressão minha, mas havia mais três alunos do que nas aulas anteriores.

"Olá, alunos! Hoje, como é o último dia não vos vou dar muito trabalho. Quero que peguem num papel e desenhem o que vocês quiserem." Altos suspiros foram ouvidos por toda a sala, e com razão. Porque é que temos de dar ás mãos no último dia de aulas? Para passarmos as férias a cuidar dos calos?

O tempo não demora a passar e logo estou a sair da sala. A entrada estava cheia de pessoas, todas elas entusiasmadas pra sair daquele hospício.

Demoro um pouco a entrar no refeitório, mas logo que consigo, vou buscar a comida e sentar-me na mesa mais vazia do lugar.

Olho de relance para a mesa das populares e vejo que estão todas a olhar para mim. Agarro a minha mochila com força, passo a mão no cabelo e saio daquele lugar. Ainda não tinha acabado de comer, mas o choro começava a ocupar os meus olhos.

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⏰ Last updated: Jan 23, 2022 ⏰

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Homicide - Jaden HosslerWhere stories live. Discover now