Eu não preciso de motivos para te odiar

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Eu nunca fui tão feliz e triste ao mesmo tempo.

Minha mãe e meu irmão viajaram a negócios e minha avó decidiu ir junto, me deixando sexta, sábado e domingo sozinha!

Essa é definitivamente a parte feliz. A parte triste é que Sarah também tem compromisso. Ela vai passar o fim de semana com as tias, então ja sei que não vou poder ficar na casa dela, e não curto ficar em casa sozinha.

Tentando ver pelo lado bom, posso ficar a maior parte do tempo com o grupo, agora que estamos ensinando o JJ a ler letra cursiva (sim, letra cursiva).

– Meu Deus JJ! Não é tão complicado! – Pope diz, já sem paciência.

– Não entendo o motivo de eu ter que aprender essa merda, eu não preciso saber ler. – JJ grita irritado.

– JJ pelo amor que você tem a minha saúde mental, para de falar merda!!! – Cloe diz.

– Gente, isso é complicado pra ele ok? – Digo tentando acalmar o caos. – Vamos pegar leve.

– Não tem o que pegar leve Lia – Kie fala e John B completa: – Ele só é burro mesmo.

– Burro é a puta que te pariu John bosta! Eu só não preciso disso. – JJ joga o lápis no Pope e cruza os braços.

– Agora não consigo te defender, parece uma criança fazendo birra. – Digo.

– Não preciso de defesa, preciso de um baseado.

– Desisto. – Todos suspiramos em uníssono. E então caímos na gargalhada por termos falado juntos.

Quase no finalzinho da tarde, por volta de umas quatro horas, decido ir ver Barry, já faz basicamente uma semana que não o vejo.

– Tudo certo bro, volte sempre. – Barry diz dando dois tapinhas no ombro de um cara, muito bonito aliás, que termina de fazer uma compra com ele.

– Quem era? – Pergunto interessada.

Então escuto uma gargalhada de dentro da casa vindo para a varanda. Ah não. Rafe. Conheço muito bem essa risada.

– Você tem um dedo podre hein? – Rafe diz tentando me provocar.

– E se eu tiver? Idai? Está puto por você ser tão podre que nem eu te escolheria? – Acho que tentei soar inteligente mas acabei me rebaixando.

– Rafezinho ta com ciuminho? – Barry fala.

Acho que é a primeira vez que vejo esse cara sem palavras. Depois de algum tempo a unica coisa que rafe foi capaz de dizer foi:

– Calem a boca.

Decidi apenas beber. Beber, beber e beber até ficar bem bêbada. Mas não usei nada, diferente de Rafe.

– Preciso fazer algumas entregas, não se matem enquanto não estou aqui. – Diz Barry. – Se alguém aparecer ou se Rafe te pertubar, você sabe atirar e sabe meu número. – E então me da um beijo na testa e sai, eu sei, parece estranho em vista de quem ele é e o que faz, mas viramos amigos, o que posso fazer?

– Sou tão perigoso assim? Pra você ter que se defender? Uau, não sabia que te afetava tanto. – Rafe está me provocando pois estou bêbada, e todo bêbado fala merda. Infelizmente, a maioria dessas merdas são verdadeiras.

– Vai se fuder Rafe, eu te odeio tanto que poderia te matar apenas com a força do meu ódio.

– Você me odeia sem motivos, pequena.

– Eu não preciso de motivos para te odiar, Rafe Cameron.

– Mas eu gostaria de saber pelo menos um, imagino que tenho o direito. – Ele está tentando tirar algo de mim. E merda, ele vai conseguir.

– Quando eu tinha nove anos e você estava completando doze, fui à sua festa de aniversário. - Começo a falar, que se foda, se ele quer saber UM dos motivos, aqui vai. 

- Nunca entendia o por quê de você sempre me chamar, sendo que eu te odiava e você nem ligava para mim. Naquela época você ja me chamava de pequena, e era por isso que eu mais te odiava. Eu não ligava se você perturbasse eu ou a Sarah enquanto a gente brincava, aquilo era irritante mas eu podia lidar.

Rafe fica intacto me vendo contar a história.

– E então nessa festa de aniversário, eu, Sarah e Kie fomos até você te chamar para brincar. Você estava sozinho em um canto e EU tive a ideia de te chamar, era seu aniversário, você não deveria estar quieto em algum canto. Te chamamos para brincar de casinha e você ficou super concentrado ouvindo as regras, você ia brincar, mas ai dois amigos seus apareceram. Kie disse que eles também poderiam brincar, e imagino que talvez eles quisessem, mas quando a Sarah disse que você seria o papai e eu a mamãe, parece que você surtou. – Meus olhos se enchem de lágrimas mas não irei chorar com Rafe aqui.

– Você disse, exatamente com essas palavras: "Essa é uma brincadeira tosca de menina, eu não preciso disso. E eu nunca na minha vida, seria o 'papai' de uma brincadeira estúpida, ainda mais com a Merlia sendo meu par. Você é patética, criança e pequena. Eu nunca ficaria com alguém como você."

Rafe me olha com os olhos cheios de lágrimas, mas não consigo imaginar que esse homem sinta alguma coisa além de amor próprio. Provavelmente é por causa das drogas, sei la.

– Minha mãe tinha me dito para não ser sua amiga naquele mesmo dia – Continuo a história – Mas eu tinha nove anos, Rafe, NOVE ANOS! Eu era só uma criança. E eu gostava de você. Você era legal com sua irmã quando ninguém estava perto, e eu via como seu pai te tratava mal. Você sempre tentava ser legal com as garotas que davam em cima de você, e sempre foi inteligente. Eu acreditei que poderíamos ser amigos, foi uma tolice de criança, e, quando você disse aquelas palavras, eu nunca mais me permiti ver bondade em você. - Me sinto tola porem mais leve por ter contado. Vendo agora parece uma coisa estúpida, mas que na época realmente me afetou.

O irmão da minha melhor amiga | Rafe CameronOnde as histórias ganham vida. Descobre agora