Capítulo 8 - Miguel

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Ela para antes de continuar. E eu sei exatamente qual será o restante da frase.

— É câncer? — pergunto, com a voz falhada, sentando-me ao seu lado e segurando sua mão.

Mabel deixa uma lágrima cair e confirma com a cabeça. Eu não posso acreditar. Não quero acreditar que estou passando por isso outra vez. Sinto meu corpo inteiro tremer e engulo a saliva com dificuldade. As lembranças dominam minha mente, tento afastá-las porque quero ser alguém forte para minha irmã, mas não sei por quanto tempo consigo.

— Câncer de mama, estágio 2. O médico quer operar, vamos fazer alguns exames e ver qual será o procedimento.

Tento digerir as informações, sem muito sucesso. Dou um abraço apertado em Mabel, deixando que ela chore tudo o que tem que chorar, mesmo sabendo que eu gostaria de estar fazendo o mesmo e não posso.

— E a Barb? Ela sabe? — pergunto da minha sobrinha que, apesar de ter apenas seis anos, é muito esperta.

— Não. Ela acha que estou trabalhando. Vou contar em breve.

Confirmo com a cabeça, meio inconformado com o universo. Como algo assim pode acontecer em um período tão curto com as pessoas mais importantes da minha vida? Parece um castigo!

— Agora, vamos mudar de assunto, chega de tristeza! — Mabel fica de pé, enxugando o resto. — Quero saber tudo sobre a tenista.

Sorrio para ela e, dessa vez, quem está com o sorriso desanimado sou eu. E, de repente, nada mais parece fazer sentido, nem a empresa, nem o contrato internacional e muito menos a tenista com a qual em um romance de mentira. Só quero que Mabel fique bem.

***

Acordo pela manhã com um lembrete de Enrico, informando que preciso ir ao clube onde Clara joga assinar o contrato de patrocínio. Minha cabeça está bem longe de qualquer coisa que não seja a minha irmã. Passei a noite revirando as memórias, o passo a passo com o tratamento da minha mulher, buscando o que eu posso ter deixado passar ou em que momento a perdi, porque não quero e não posso perder mais alguém.

Tomo um banho rápido, visto uma blusa social azul marinho e uma calça preta, calçando os sapatos o mais depressa possível para não me atrasar. Saio de carro e passo primeiro na empresa, para buscar Enrico, que é advogado também, o que ajuda nesses momentos. Meu sócio entra com um sorriso empolgado no rosto e dá de cara com minha expressão nitidamente carrancuda.

— Ih, esse humor logo pela manhã? Sorria porque vamos assinar o contrato da vitória hoje! — ele fala, animado.

— Meu humor ultimamente anda sendo o menor dos meus problemas. — Acelero o carro assim que ele entra.

— O que aconteceu? Ainda é por causa da tenista e das fotos?

— Não. Alguns problemas com minha irmã.

Enrico fala um "hum" desanimado, mas acho que percebe que não quero falar sobre o assunto. Chegamos ao clube onde Clara joga em menos de dez minutos e me surpreendo ao notar que está lotado.

— Tem algum evento hoje aqui? — questiono Enrico.

— Acho que tem jogo.

Estacionamos nos fundos, onde fica o estacionamento da direção do clube, e caminhamos até o prédio principal, evitando as quadras, que estão com as arquibancadas lotadas.

— Pelo visto as pessoas gostam mesmo de Tênis por aqui... — Enrico comenta, percebendo a multidão.

Confirmo com a cabeça, mas não olho muito. Entro no prédio e pegamos o elevador até a sala de Adrian, que nos espera sozinho dessa vez.

Jogo de sorte: um romance por contratoWhere stories live. Discover now