Ela para antes de continuar. E eu sei exatamente qual será o restante da frase.
— É câncer? — pergunto, com a voz falhada, sentando-me ao seu lado e segurando sua mão.
Mabel deixa uma lágrima cair e confirma com a cabeça. Eu não posso acreditar. Não quero acreditar que estou passando por isso outra vez. Sinto meu corpo inteiro tremer e engulo a saliva com dificuldade. As lembranças dominam minha mente, tento afastá-las porque quero ser alguém forte para minha irmã, mas não sei por quanto tempo consigo.
— Câncer de mama, estágio 2. O médico quer operar, vamos fazer alguns exames e ver qual será o procedimento.
Tento digerir as informações, sem muito sucesso. Dou um abraço apertado em Mabel, deixando que ela chore tudo o que tem que chorar, mesmo sabendo que eu gostaria de estar fazendo o mesmo e não posso.
— E a Barb? Ela sabe? — pergunto da minha sobrinha que, apesar de ter apenas seis anos, é muito esperta.
— Não. Ela acha que estou trabalhando. Vou contar em breve.
Confirmo com a cabeça, meio inconformado com o universo. Como algo assim pode acontecer em um período tão curto com as pessoas mais importantes da minha vida? Parece um castigo!
— Agora, vamos mudar de assunto, chega de tristeza! — Mabel fica de pé, enxugando o resto. — Quero saber tudo sobre a tenista.
Sorrio para ela e, dessa vez, quem está com o sorriso desanimado sou eu. E, de repente, nada mais parece fazer sentido, nem a empresa, nem o contrato internacional e muito menos a tenista com a qual em um romance de mentira. Só quero que Mabel fique bem.
***
Acordo pela manhã com um lembrete de Enrico, informando que preciso ir ao clube onde Clara joga assinar o contrato de patrocínio. Minha cabeça está bem longe de qualquer coisa que não seja a minha irmã. Passei a noite revirando as memórias, o passo a passo com o tratamento da minha mulher, buscando o que eu posso ter deixado passar ou em que momento a perdi, porque não quero e não posso perder mais alguém.
Tomo um banho rápido, visto uma blusa social azul marinho e uma calça preta, calçando os sapatos o mais depressa possível para não me atrasar. Saio de carro e passo primeiro na empresa, para buscar Enrico, que é advogado também, o que ajuda nesses momentos. Meu sócio entra com um sorriso empolgado no rosto e dá de cara com minha expressão nitidamente carrancuda.
— Ih, esse humor logo pela manhã? Sorria porque vamos assinar o contrato da vitória hoje! — ele fala, animado.
— Meu humor ultimamente anda sendo o menor dos meus problemas. — Acelero o carro assim que ele entra.
— O que aconteceu? Ainda é por causa da tenista e das fotos?
— Não. Alguns problemas com minha irmã.
Enrico fala um "hum" desanimado, mas acho que percebe que não quero falar sobre o assunto. Chegamos ao clube onde Clara joga em menos de dez minutos e me surpreendo ao notar que está lotado.
— Tem algum evento hoje aqui? — questiono Enrico.
— Acho que tem jogo.
Estacionamos nos fundos, onde fica o estacionamento da direção do clube, e caminhamos até o prédio principal, evitando as quadras, que estão com as arquibancadas lotadas.
— Pelo visto as pessoas gostam mesmo de Tênis por aqui... — Enrico comenta, percebendo a multidão.
Confirmo com a cabeça, mas não olho muito. Entro no prédio e pegamos o elevador até a sala de Adrian, que nos espera sozinho dessa vez.
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Jogo de sorte: um romance por contrato
RomanceMiguel Bellini é o famoso viúvo CEO da LifeSports, a maior empresa de itens esportivos do país. O mistério que cerca sua vida pessoal nunca foi desvendado pela mídia, que sempre teve muito interesse, por ele ser um dos caras mais cobiçados do mundo...
Capítulo 8 - Miguel
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