Capítulo 2

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Depois daquele primeiro dia de aula, eu contava os dedos para voltar à escola, por dois motivos: Drey e And — apelido carinhoso que me atrevi a colocar sem ele saber —, quando minha mãe me viu, se assustou. Eu não estava me reconhecendo, era estranho, até ontem eu queria fugir disso tudo e hoje, vinte e quatro horas depois, eu estava louco pra voltar. O fato de nunca ter gostado de alguém era meio constrangedor, mas acho que isso estava mudando, gostar de uma pessoa que você nem conhecia era possível? Acho que sim, afinal são sempre admiráveis as pessoas que nós não conhecemos muito bem. Mais uma vez eu estava pronto para ir ao colégio, meu humor estava ótimo — de verdade —, o que era bastante estranho.

— Mas eu nem te chamei. — disse Luci assustada, ela olhou as horas em seu celular e fez uma expressão de impressionada.

— Não precisa! — digo me olhando no espelho. — Já estou de pé.

Eu não estava me reconhecendo, acho que minha mãe também estranhou o meu jeito, eu não tinha essa disposição nem pra tomar banho, imagina ir para o colégio de manhã cedo.

— Que bom — ela soltou um sorriso irônico —, menos uma coisa para eu fazer, afinal sou uma mãe bastante ocupada e meu filho nem merece, mas sou mãe né...

— Mãe, sem drama de manhã cedo, por favor! — disse eu rindo, olhando para ela.

Por alguns segundos me pego pensando em And, meu Deus, eu não poderia gostar de um garoto, não mesmo! Minha mãe, no mínimo, berraria comigo por tal ato, pois para ela aquilo não era um verdadeiro amor e sim apenas um ato de pecado. O tempo estava nublado, nenhum sinal de sol, ou seja, perfeito para dormir. Dou mais uma risada sem motivo e mais uma vez minha mãe entrou no meu quarto.

— Vamos, filho? — ela olhou a tela do seu celular, um arrepio se estendeu por todo meu corpo, era tão legal e estranho ao mesmo tempo.

— Já deveríamos estar no carro! — disse pegando meu celular que estava carregando. — Não posso me atrasar!

O.k., eu admito! Era algo novo para mim. Uma sensação nova se estendia por todo meu corpo, como um choque elétrico que me causava frio na barriga. Poderia ser meio hipócrita falar que eu estava gostando de Anderson, não era um sentimento forte e seguro como nós vemos hoje em dia nas novelas ou nos livros, mas era algo que me fazia bem e eu não queria reprimir isto, mesmo sabendo que devia. Entramos no carro, felizmente minha mãe havia desistido da ideia de pegar ônibus, acho que foi o sufoco de ontem. Coloquei meus fones e abri a janela, o tempo frio soprava em meu rosto, era algo delicioso, parecia que o vento estava dizendo "tudo vai ficar bem", era algo bom de sentir... Minha mãe parecia incomodada com meus sorrisos idiotas, não era como se fossem sorrisos de pessoas que estavam apaixonadas, eram apenas sorrisos. Sorrisos lançados ao vento com apenas um pensamento: ver aquela pessoa.

Eu nem sequer sabia a sexualidade do garoto, por mais que ele fosse heterossexual ou não, eu ainda conseguia imaginar a gente juntos. Loucura? Claro, mas poderia ser real. Nada é impossível, só precisamos de fé e ir atrás do que queremos. O fato de eu não ser assumido atrapalhava tudo e a pior parte era ouvir minha mãe dizer "quando vou conhecer sua namorada?", isso era horrível! Assumir-me não estava em meus planos, talvez eu nunca faça isso, eu simplesmente vou ter minha casa e sair da casa da minha mãe, pelo o fato dela ser bastante religiosa, qualquer chance dela amar ter um filho gay era de zero vírgula zero. Então o que me restava era aceitar a droga da minha vida.

Chegamos a meu colégio e desci do carro em silêncio, Drey estava lá me esperando com um sorriso lindo no rosto, provavelmente eu não fui o único que acordei de bom humor naquele dia, abracei ela com força, seus braços eram aconchegantes, eu estava amando ser amigo daquela garota. Fomos caminhando lentamente até a outra entrada, todo mundo parecia ter encontrado sua turma, menos eu e Drey. Talvez nós dois fôssemos a nossa própria turma. O vento ainda frio avisava que poderia cair chuva, o que não era má ideia.

Antes do FimOnde as histórias ganham vida. Descobre agora