𝙲𝚊𝚙í𝚝𝚞𝚕𝚘 𝚇𝙸𝙸 - 𝔄 𝔇𝔬𝔫𝔷𝔢𝔩𝔞

22 3 0
                                    

F̲r̲a̲n̲ç̲a̲, ̲ ̲2̲2̲ ̲d̲e̲ ̲m̲a̲i̲o̲ ̲d̲e̲ 1430

꧁Joanna꧂


                𝓓escemos as escadas correndo, na medida que a Louisa podia.
Ela me guiou até a cozinha, e foi aí que percebi que nunca tinha ido para esse lado do palácio.
As portas são abertas, e vejo um tumulto de pessoas. Na cozinha tem mais gente do que eu imaginava. Duas senhoras estão enchendo panelas com água e colocando no fogo, enquanto uma moça um pouco mais velha que eu está limpando a mesa.

-— O que houve? — pergunto.

Começo a sentir um nervoso. Já sinto que não quero participar do que está para acontecer aqui. Louisa segura na minha mão, aí que percebo que estava saindo da cozinha.
Então Felicia aparece com uma criancinha no colo. A criança ruiva está com a cabeça apoiada no ombro dela, é como se já estivesse sem vida. A barra do vestido de Felicia foi rasgada e amarrada na mão direita da criança.

— Põe ele aqui! — Lou falou.

Espantei quando percebi que ela estava falando português.

— Ele perdeu muito sangue. — Felicia fala aflita.

A criança é colocada sobre a mesa e logo Louisa se aproxima dela tirando o pano ensanguentado da pequena mão do menino. Ela franze a testa, e isso deixa Felicia preocupada:

— Ele vai ficar bem, não é?

— Vai. — Louisa fala. — Ele vai ficar bem... É só o dedo mindinho... Bom, foi um acidente grave, mas ele pode viver sem ele.

— Não foi um acidente. — Felicia fala.

— O que? Você tem alguma coisa a ver com isso? — pergunto.

— Não! — Felicia se vira pra mim. — É claro que não. O nome dele é Hian. O pai dele é abusivo.

— É por ele que você sempre está indo na aldeia? — Louisa pergunta.

Felicia faz silêncio, mas depois balança a cabeça dizendo que sim.

— Como você o conheceu? — pergunto.

— Ele pede comida na aldeia direto. Já é muito conhecido por lá. — Felicia responde. — Depois eu conto direito.

— Mesmo que tivesse o outro pedaço eu não conseguiria reimplantar. — Louisa analisa a mão do garotinho. — causou graves danos ao tendão, o que impossibilita a reconstrução. E está bastante inflamado, acho que não é um corte recente.

— Foi o pai dele. — Felicia resmunga. — Escroto do caralho!

— Felicia... — Louisa suspira.

— Me falaram lá na aldeia que o cara é dono de terras, tem um pequeno rebanho de ovelhas e cabras, pode sim sustentar essa criança. — Felicia coloca as mãos na cintura.

Enquanto isso Louisa se prepara para limpar o ferimento e dar pontos.

— E a mãe? — Lou pergunta.

— Dizem que ela foi comprada quando ela era pequena, e já tem um ano que ela desapareceu. — Felicia falou. — O Hian fala dela de um jeito estranho.

— Talvez seja porque você está aprendendo francês. — digo.

— Não, é aí que está a coisa. — Felicia olha para mim. — Ele fala português, o nosso português muito bem.

— Português brasileiro? — sussurro, tentando evitar que mais alguém ouça. E Felicia confirma com a cabeça. — Como isso é possível?

Louisa passa um pouco de álcool no nariz da criança e ela desperta olhando para os lados e só para quando encontra Felicia.

𝕰𝖚 𝖙𝖊𝖓𝖍𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘𝖆𝖑𝖛𝖆𝖗 𝕵𝖔𝖆𝖓𝖆 𝕯'𝖆𝖗𝖈Where stories live. Discover now