04 | A arma do crime

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O tom de voz de Sophia era decidido - como nenhum dos dois adultos jamais a tinha escutado falar - e havia uma determinação tão grande em seu olhar que ela poderia inventar a mais falsa das mentiras e ninguém ousaria duvidar.

— Não me importo se gostam ou concordam com as minhas escolhas. Vão ter que respeitadas elas — concluiu.

— Essa é a sua condição? — Heitor se encostou na cadeira. A garota assentiu. — Sem negociações?— Ela negou, fazendo o homem abrir um sorriso. — Quem diria, está se tornando uma mulher de negócios. Está se tornando uma Howard.

— Isso é um sim?

— Bem vinda a empresa, Sophia — Georgina piscou para a filha, levando a xícara branca de porcelana até os lábios.

Os cantos dos lábios rosados de Sophia se curvaram para cima, ela pegou um morango de dentro da vasilha de cristal antes de deixar a varanda. Se sentia incrivelmente mais confiante depois daquela conversa, como se finalmente estivesse no comando da sua própria vida.

A garota pegou a sua mochila, a qual deixou jogada no sofá da sala, antes de seguir para a entrada da casa. Não escondendo sua surpresa quando abriu a porta e deu de cara com Ben, que estava prestes a tocar a campainha.

— S — o garoto murmurou com um sorriso — E bom te ver.

— Pelo visto voltou da casa do seus avós — ela comentou, não muito animada com a informação.

— É, eu voltei ontem a noite — Ben assentiu, levando as mãos até os bolsos da sua calça social preta. — A gente pode conversar?

— Tenho que sair...

— Prometo que vai ser rápido — ele se adiantou em dizer, acrescentando sobre o olhar sério da loira: — Por favor.

— Tem um minuto.

Sophia cruzou os braços em frente ao corpo, encarando o garoto à sua frente, que precisou respirar fundo antes de começar a falar.

— Olha, esses dias que passei na casa dos meus avôs me ajudaram a perceber o que você tentou me dizer o verão todo: eu fui um verdadeiro babaca pé no saco — Ben deu de ombros — E sinceramente, não entendo como não me deu um soco.

— Vontade não faltou em alguns momentos — admitiu, fazendo o garoto sorrir.

— Eu realmente não queria ser o cara escroto que todo mundo odeia, é só que... — ele negou com a cabeça — Gosto de verdade de você, e acho que eu só queria que você olhasse para mim como olha para o Maybank.

Ben desviou o olhar para os próprios pés, fazendo Sophia entreabrir a boca surpresa com as palavras dele, afinal, aquela com certeza não era a conversa que esperava.

— E eu ainda gosto de você, muito, mas entendi que nunca vou ser o cara que você procura em meio a multidão, que faz seus olhos brilharem ou suas bochechas corarem. É o Maybank, por algum motivo que eu desconheço. Tô aprendendo a lidar com isso.

O moreno encolheu os ombros. Ele ergueu o olhar outra vez, voltando a encarar a garota, que agora tinha sua cabeça encostada na porta entreaberta.

— Acha que tem alguma chance de me perdoar por tudo que rolou no verão?

E por um segundo ela pensou, e foi sincera quando respondeu por fim:

— É claro que te perdoe.

Depois de tudo que havia acontecido e em meio a tudo que acontecia, Sophia não via motivos para guardar ressentimentos de alguém que parecia arrependido. Além do mais, estava cansada de ficar brigando, e pelo menos a quedinha de Ben por ela seria um assunto a menos com o qual precisaria lidar.

Golden Eyes ☀️ OBX 2Where stories live. Discover now