Capítulo cinco, sobre consequências

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São o resultado de qualquer ação – ou falta dela.

Acontecem para mim, acontecem para você, e aconteceriam para o humano irritante um dia – embora eu não goste de ser incluída na afirmação anterior.

E por um motivo simples.

 As minhas tinham um leve toque infernal, se é que você me entende.

 Assim que decidi voltar para aquele lugar parecido com o céu, eu já sabia o que – ou quem – me aguardava.

O que, claro, não diminuiu a vontade de vomitar que tive quando o vi.

-Sabe o que você fez, McQueen? – a voz absurdamente irritante de Jason furou meus ouvidos com uma precisão infernal. – Ou melhor, o que deixou de fazer?

-Eu tenho perfeita consciência das minhas ações, Jason. Agora cale a boca antes que eu decida me tornar inconsciente e virar um soco na sua cara.

Com Jason era assim.

Gentileza se trata com gentileza.

A questão é que o infeliz tinha razão.

Em um trabalho como o meu, falhas não são exatamente permitidas. Então deixei que ele falasse – o que não significava que eu fosse ouvir e muito menos absorver todo o sermão que vinha por ali.

-Sabe quem teve que buscar o bêbado da moto? – ele continuou, no tom provocante, quase cuspindo as palavras na minha cara.

É claro que a resposta era óbvia, mas eu deixei que ele continuasse se sentindo poderoso. Ele gostava disso, mesmo. Se sentir poderoso.

Sentir. 

Porque ele não era.

-Eu, McQueen.

-E você fez isso?

-Claro. Era o que tinha de ser feito.

-Ótimo. Problema resolvido.

Senti a mão dele segurar meu pulso quando eu me virei.

Segurar forte demais, apertar.

Ele estava querendo esmagar meus ossos, ao que parecia.

-Você acha que vai ficar por isso mesmo? – ele perguntou entre os dentes quando eu me virei, impaciente.

-Por quê? O que você vai fazer? Se espernear? Me bater?

-Contar ao Gregory, talvez.

As palavras dele foram como ácido derramado numa placa de ferro.

Corroendo meu cérebro e todas minhas terminações nervosas.

Lenta e impiedosamente.

Gregory.

-Você não teria coragem.

Ele soltou meu pulso com um movimento exagerado e sorriu de lado – do jeito que eu odiava, como vocês devem se lembrar.

-Experimente fazer isso outra vez e eu não vou ser tão bonzinho.

  

E eu faria.

E ele não seria.

  

Àqueles que não estão familiarizados, Gregory para nós é o equivalente a um chefe para os humanos.

Um bem mal-humorado.

Daqueles que não se deve desobedecer.

E que quer sempre mais, mais e mais.

Uma consideração sobre ele:

Fique longe.

  

Fiquei esperando o inútil do Jason ir embora.

Apesar de presunçoso, ele não era idiota. Ele não se atreveria a incomodar Gregory com uma coisinha daquelas. Não com uma ficha como a dele.

  

Sobre a ficha de Jason Walbrick:

Era bem extensa.

Não era o que poderia se chamar de perfeita – aliás, bem longe disso.

Guardava a chave da minha pior consequência.

 

E por enquanto, é o bastante.

Quando ele se juntou a James e ficou a uma distância bem considerável de mim, eu voltei ao meu lugar habitual.

O lugar de onde eu ficava observando os humanos.

Chatos e previsíveis.

Ou não.

Naquele dia eu tinha ganhado uma nova diversão.

Uma diversão estúpida e frágil.

Com potencial, é verdade.

Mas ainda assim, irritante e humana.

Que tinha o nome com letras faltando demais e que ia me causar problemas.

E é só.

O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora