São o resultado de qualquer ação – ou falta dela.
Acontecem para mim, acontecem para você, e aconteceriam para o humano irritante um dia – embora eu não goste de ser incluída na afirmação anterior.
E por um motivo simples.
As minhas tinham um leve toque infernal, se é que você me entende.
Assim que decidi voltar para aquele lugar parecido com o céu, eu já sabia o que – ou quem – me aguardava.
O que, claro, não diminuiu a vontade de vomitar que tive quando o vi.
-Sabe o que você fez, McQueen? – a voz absurdamente irritante de Jason furou meus ouvidos com uma precisão infernal. – Ou melhor, o que deixou de fazer?
-Eu tenho perfeita consciência das minhas ações, Jason. Agora cale a boca antes que eu decida me tornar inconsciente e virar um soco na sua cara.
Com Jason era assim.
Gentileza se trata com gentileza.
A questão é que o infeliz tinha razão.
Em um trabalho como o meu, falhas não são exatamente permitidas. Então deixei que ele falasse – o que não significava que eu fosse ouvir e muito menos absorver todo o sermão que vinha por ali.
-Sabe quem teve que buscar o bêbado da moto? – ele continuou, no tom provocante, quase cuspindo as palavras na minha cara.
É claro que a resposta era óbvia, mas eu deixei que ele continuasse se sentindo poderoso. Ele gostava disso, mesmo. Se sentir poderoso.
Sentir.
Porque ele não era.
-Eu, McQueen.
-E você fez isso?
-Claro. Era o que tinha de ser feito.
-Ótimo. Problema resolvido.
Senti a mão dele segurar meu pulso quando eu me virei.
Segurar forte demais, apertar.
Ele estava querendo esmagar meus ossos, ao que parecia.
-Você acha que vai ficar por isso mesmo? – ele perguntou entre os dentes quando eu me virei, impaciente.
-Por quê? O que você vai fazer? Se espernear? Me bater?
-Contar ao Gregory, talvez.
As palavras dele foram como ácido derramado numa placa de ferro.
Corroendo meu cérebro e todas minhas terminações nervosas.
Lenta e impiedosamente.
Gregory.
-Você não teria coragem.
Ele soltou meu pulso com um movimento exagerado e sorriu de lado – do jeito que eu odiava, como vocês devem se lembrar.
-Experimente fazer isso outra vez e eu não vou ser tão bonzinho.
E eu faria.
E ele não seria.
Àqueles que não estão familiarizados, Gregory para nós é o equivalente a um chefe para os humanos.
Um bem mal-humorado.
Daqueles que não se deve desobedecer.
E que quer sempre mais, mais e mais.
Uma consideração sobre ele:
Fique longe.
Fiquei esperando o inútil do Jason ir embora.
Apesar de presunçoso, ele não era idiota. Ele não se atreveria a incomodar Gregory com uma coisinha daquelas. Não com uma ficha como a dele.
Sobre a ficha de Jason Walbrick:
Era bem extensa.
Não era o que poderia se chamar de perfeita – aliás, bem longe disso.
Guardava a chave da minha pior consequência.
E por enquanto, é o bastante.
Quando ele se juntou a James e ficou a uma distância bem considerável de mim, eu voltei ao meu lugar habitual.
O lugar de onde eu ficava observando os humanos.
Chatos e previsíveis.
Ou não.
Naquele dia eu tinha ganhado uma nova diversão.
Uma diversão estúpida e frágil.
Com potencial, é verdade.
Mas ainda assim, irritante e humana.
Que tinha o nome com letras faltando demais e que ia me causar problemas.
E é só.
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O homem que me chamava de anjo [FINALIZADA]
ParanormalEu poderia dizer que essa é uma história com um final feliz. Uma história de amor, talvez, e então você se importaria em lê-la. Mas não. E não, simplesmente porque eu não estou aqui para te agradar, e sim para reunir o que sobra da minha memória fra...