—não me recordo o nome da sua mãe meu senhor—confesso.

—Azula minha senhora.

—obrigada.

—não há de que.

—me perdoe, não foi meu intuito meu senhor, é que ontem estava passando mal.

—eu entendo.

—seu pai não virá?

—meu pai não faz mais parte da família.

—não?

—não.

Isso parece sério, nunca ouvi ninguém pronunciar essas palavras porque só os antigos desertores faziam esse tipo de coisa, mas isso não ocorre a mais de cem anos desde os primeiros casamentos, em algum momento quando surgiu a lei, muitos homens abandonaram suas mulheres e vice e versa, o que em nossa antiga sociedade era chamado de divórcio, extinto é claro.

—meu pai abandonou minha mãe depois do meu nascimento, sou o quinto filho dela, ele foi desertado e abandonado a sorte ao lado da mulher com quem escolheu viver no deserto de Viniet.

—mas é quase impossível sobreviver naquele deserto—respondo bem chocada.

­—deve ser por isso que o enviaram justamente para lá—o olhar dele está duro.

Virgo tem um pai desertor.

—não faz diferença—Virgo garante enquanto olha para nossas mãos juntas—minha mãe é a pessoa mais forte que conheço, ela nos criou com a força que nos guardou em seu útero, somos três homens e duas mulheres.

—e quanto a família da mulher com quem ele a traiu?

Estou curiosa confesso.

—era minha tia, irmã da minha mãe, meu bisavô descobriu que ambos tinham um caso extraconjugal e não houve como evitar a sentença de deserdação para ambos—Virgo explica muito calmo, mas está pensativo—foi algo que trouxe vergonha e sofrimento para minha família, mas acabou quando eles foram embora.

—imagino que lhes trouxe muita dor meu senhor—estou ainda sem acreditar.

—soube que é formada em História, imagino que saiba que nós não podemos ser imparciais.

—foi do seu avô a decisão de desertá-los?

—foi do Estado Majoritário e do conselho supremo de ministros.

—seu avô não pode votar porque era familiar nem sua mãe.

—sim, porque esta é a Lei Suprema.

E todos nós sabemos que é nosso dever respeitar muito mais a lei do que as vontades de nossos semelhantes.

—o conselho não poderia sentenciá-lo a morte então ele foi condenado a ir para o Deserto de Viniet com as roupas do corpo e uma saca de comida, um animal e cobertores, o mesmo foi dado a minha tia Pandora.

—eu nunca imaginei que ainda houvessem casos de deserdação de pessoas em Navie—confesso.

—algumas coisas que acontecem no ministério não podem ser divulgadas a todos por diversos motivos, não pela vergonha, mas porque isso arruinaria a imagem dos ministérios e do Estado diante das pessoas, mas sou ensinado a falar a verdade.

—eu entendo, estudei sobre as normas de divulgação e atos públicos, eu compreendo neste sentido—é o mais lógico crer nisto—mas e quanto a Olívia?

—o que quer saber sobre Olívia?—ele solta a minha mão e olha para o lado—é uma prima, um afeto da adolescência.

—nutre amor por ela—concluo e me irrito com esse descaso—meu senhor não seja grosseiro, apenas quis saber sobre ela, acho que seja relevante para que nos conheçamos melhor.

Virgo me encara todo sério, me levanto e começo a me afastar para o rumo da cozinha, mas sou impedida, ele segura meu pulso e me puxa, volto para trás e caio basicamente em seu colo.

—Olívia foi alguém com quem cresci e desenvolvi um grande afeto, mas como acredito que saiba ela já foi sentenciada a se casar com alguém e eu com você—explica ele enquanto bufo de raiva—e é muito bom que saiba que eu não gosto da sua postura.

—nem eu da sua—respondo entre dentes.

—você deve saber que eu não sou um homem que admite que passem por cima das minhas decisões, eu não gosto de ser confrontado e você parece adorar isso—ele fala com o rosto à centímetros do meu—entenda que eu não admito essa postura sua, você é curiosa e atrevida.

—não preciso da sua permissão para nada—respondo secamente—por algum acaso é meu dono? Não gostaria de colocar correntes em mim e me prender em uma gaiola para que o obedeça ministro?

—nunca faria isto com você—pragueja e solta meu pulso, depois ergue a mão e toca meu pescoço, me arrepio toda e meu coração continua a saltar no peito.

—não lhe dei tal liberdade ou permissão—estou falando a força.

—você me deve respeito—exige.

—ou o que? Vai me atacar com a sua capa?

—já beijou alguém na vida?

—não sou educada para beijar, sou educada para obedecer.

Virgo toca minha bochecha e pressiona os dedos em minha nuca, então ele pousa os lábios sob os meus e me rouba um beijo rápido, um roçar de lábios enquanto a ponta de sua língua toca meu lábio superior deixando-o úmido, ele se afasta e eu o encaro chocada, ergo a mão e limpo os lábios com as costas da mão, Virgo sorri, me irrito e saio de seu colo, fico de pé, cruzo os braços me afastando dele.

—ótimo—diz ele—agora nos conhecemos melhor.

—beija todas as mulheres que conhece ministro?

—eu nunca beijei nenhuma mulher na boca—responde ficando de pé—se é que posso te chamar de mulher.

Me afasto depressa rumo a cozinha, querendo me esconder, sentindo-me incerta e nervosa, sei que não deveria, sei que é um atrevimento, mas Navie, o que foi isto?




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AI SOCORROOO 

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