02 | 𝐉𝐉 𝐌𝐀𝐘𝐁𝐀𝐍𝐊

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⏤ O que tá fazendo aqui? Você trabalha amanhã. ⏤ a voz tão baixa partiu seu coração em pedaços.

⏤ Eu sei que algo aconteceu. Vim no mesmo instante. ⏤ aconchegou as mãos nas próprias coxas.

Mais silêncio. Pra quem gostava tanto de falar e jogar piadas, JJ se afunda numa quietude tão grande que lhe revira o estômago.

⏤ Nada aconteceu. ⏤ afirmou.

⏤ Não mente pra mim. ⏤ você rebate.

Seu melhor amigo nega com a cabeça e se levanta, pela primeira vez, se virando para olhar em seus olhos. A cena te fez querer vomitar. Teve que segurar para seus olhos não embargarem pelas lágrimas que insistem em vir.

Uma boa parte da pele facial de JJ estava arroxeada. O lábio carregava um corte feio, assim como na sobrancelha e na sua maçã direita do rosto. Os olhos, sempre tão azuis e vivos, estavam apagados. Apagados pelo medo e a angústia, sentimentos esses que fazia tempo que ele não mostrava pra você. JJ é o tipo de cara que usa o humor e as piadas pra esconder a solidão da alma. Isso pode ser tão benéfico quanto maléfico pra ele mesmo. Já conversaram diversas vezes sobre isso, mas ele usa o mesmo argumento de sempre.

Quem demonstra o que sente é fraco.

⏤ Você... ah, meu Deus, JJ. ⏤ quase se lamenta.

⏤ Não tenha pena de mim ⏤ ele te cortou. ⏤ me sinto um idiota.

Você nega com a cabeça, estendendo a mão pra tocar em seu rosto de maneira leve. Acaricia os machucados que mesmo estando feios, pareciam já ter sido cuidados. Ele estava tão acostumado com esse tipo de situação que já sabia exatamente o quê fazer para não criar uma infecção nos machucados. Isso é problemático em tantos níveis, você pensa.

Não quer fazê-lo se sentir um idiota, nem que ele pense que está com dó. Então abaixa sua mão para a dele, acariciando o dorso da mesma num gesto de carinho.

⏤ Vem. ⏤ o puxou sem pressa.

Ele franze a testa confuso, mas confia em você como ninguém. Por isso não hesita em levantar com cuidado da cama e te seguir pela casa, seja lá para onde você estava o levando.

Com alguns passos, vocês chegam até o banheiro. Você estende o braço para ligar o chuveiro e mede a temperatura com os dedos, vendo se estava mesmo boa para uma ducha de madrugada. Não queria que ninguém ficasse resfriado.

Vendo como JJ te encara confuso, você dá um sorriso mínimo.

⏤ Minha vó me dizia que um banho quente resolve tudo.

Suas palavras tiraram a expressão perdida de JJ no mesmo momento, dando lugar à uma surpresa. Ele não se lembra de uma única vez que alguém lhe ofereceu algo simples como um banho quente para acalmar os ânimos. Sempre eram álcool, erva ou sexo. Às vezes, drogas mais sérias, mas nem sempre ele aceitava.

Você guia as mãos para a barra da regata cinza de JJ, a mesma que você retirou com cuidado e deixou de lado. Não pede pra que ele tire a bermuda, talvez ele não tivesse conforto o suficiente pra ficar seminu na sua frente, mesmo que fossem amigos de longa data. Você coloca mechas de seus cabelos atrás das orelhas e empurra Maybank levemente pra debaixo do chuveiro, que obedece sem pestanejar. A água quente bate em sua pele e seus olhos se fecham. A ducha aos poucos seu estresse, a tristeza, a angústia e a frustração pelo ralo à baixo. Enquanto isso, o silêncio completo só era interrompido pelo som das gotículas do chuveiro caindo sobre o corpo do loiro e também no chão. Eram poucas vezes que o garoto se sentiu confortável assim.

𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 𝐇𝐎𝐓.Onde histórias criam vida. Descubra agora