O Coração Gelado de Cinderela

5°| Outra visão

°• NANDA •°

   _ Ela te odeia, Peter! - exclamei enquanto olhava para as prateleiras preenchidas de livros. - E agora me odeia também, porque você me obrigou a falar a verdade para Elle. 

  _ Não me lembro de ter colocado a minha espada na sua garganta, Nanda. - ele rolou os olhos com o seu maravilhoso humor sarcástico.

  Ignorei sua fala e me concentrei em achar o livro de Elle. Uma missão quase impossível, já que a biblioteca é imensa. Peter se sentou no chão, cansado e frustrado.

  _ Por qual motivo o livro estaria em uma biblioteca pública mesmo? - perguntou. Suspirei e me preparei para explicar pela quinta vez.

  _O primeiro lugar que procurariam seria nos icebergs. Pelo menos foi o que a Rainha Miranda disse. 

  _ Os icebergs, claro. - ironizou - Por quê, simplesmente, não chamar de lojinha onde vende coisas?

  _ Lojinha onde vende coisas? - repeti enquanto ria incrédula - Certo, levanta e vêm me ajudar que ainda falta muita...

  Interrompi minha fala quando Peter gritou de dor. Olhei assustada para ele, que se encontrava com a mão na testa e de olhos fechados. 

  _ Peter? - toquei seu ombro receosa. Ele abriu os olhos repentinamente, me fazendo encarar seu brilho lilás intenso. No mesmo instante eu soube o que estava se passando. - Vá agora!

  Ele se levantou rapidamente e correu até se perder do meu campo de visão. Meu coração foi substituído por um misto de ansiedade e preocupação, no entanto só serviu de incentivo para continuar a busca fervorosa pelo livro que nos servirá como um manual de instruções para voltarmos para casa. Mas mesmo assim, o pensamento do que podia estar acontecendo ainda me assombrava.

  Elle estava em perigo.

°• PETER •°

  Corri para longe da biblioteca. Meu coração pulsava descompassadamente, embora a dor tivesse sido momentânea. Maldita forma de alerta "Elle está em pergio". Eu praticamente viro uma sirene. 

  As ruas estavam movimentadas, já que era horário de almoço, então vez ou outra eu esbarrava em alguém. A casa de Elle não era muito longe da biblioteca, quando se ia pela floresta. Meu peito ardia implorando por fôlego e minhas pernas estavam prestes a ceder. Curvei-me para frente com as mãos no joelho e puxei todo fôlego, olhei para o lado e me deparei com a estufa abandonada. Eu estava perto. Voltei a correr, ignorando todo o limite que meu corpo opunha.

Elle foi a minha vida inteira. Eu nasci para protegê-la. Ela é minha única missão.

  Avistei a traseira da mansão, a janela de Elle estava aberta e eu não ia correr o risco de encarar a personificação da madrasta má de Cinderela... Se bem que ela pode ser o motivo dos meus pulmões estarem pegando fogo. Escalei a árvore e esguerei-me para dentro do quarto bagunçado de Elle. Abri uma fresta da porta e verifiquei se tinha alguém na casa, mas estava tudo silencioso.

  _ Elle? - gritei saindo do quarto. Recebi outro grito como resposta. Um grito repleto de pavor.

  Corri para o local de onde o grito veio e me deparei com uma porta trancada. Me afastei e depois me lancei contra ela diversas vezes, mas não parecia fazer efeito. Respirei fundo, tomando controle de mim e estiquei minhas mãos em direção a porta. Senti a força passando por entre meus braços e se concentrando em meu punho, então com um soco a porta se desfez em pedaços. Com o embalo do soco eu entrei cambaleando no quarto. A cena era vergonhosa e ao mesmo tempo nojenta: Elle estava apenas de sutiã chorando compulsivamente embaixo de um animal prestes a tirar as calças. O ódio tomou meu corpo e a impulsão me controlou. Me joguei contra o homem em cima de Elle e rolamos no chão. Sentei-me em cima dele e desferi inúmeros socos nele. A adrenalina corria pelas minhas veias e eu não tinha controle sobre mim.

  _ Peter! Peter, para! - a voz de Elle me fez encarar o rosto ensanguentado do homem, mas a lembrança dele em cima dela fez o adrenalina voltar a todo vapor. Levantei o punho, prestes a voltar o trabalho, mas as mãos frias de Elle seguraram meu rosto e me fizeram encarar seus olhos aterrorizados. - Me tira daqui...

  Ela começou a chorar novamente, enrolada no lençol vermelho. Um sentimento surgiu dentro de mim, algo indescritível. Saí de cima do homem inconsciente e segurei as mãos de Elle. A tirei daquele quarto e a guiei para o dela. 

  _ Eu vou tomar banho. - murmurou com a voz trêmula. Assenti desconfortável.

  Me sentei no chão do seu quarto perto de uma pilha de CD's e esperei Elle tomar banho pensando em como resolver a situação. O que eu faria com aquele desgraçado. Como eu agiria com Elle. Eu estava prestes a ter um colapso, quando a porta do banheiro abriu, revelando uma Elle vestida e de rosto ruborizado. Uma graça. 

  _ Como você está? - perguntei tentando não demonstrar o quanto eu estava desconfortável. A garota quase foi estuprada e você pergunta se ela está bem, gênio?

  _ É... - murmurou. Ela se sentou na cama e fitou a parede. O silêncio reinou no quarto, até ela pigarrear e quebrá-lo - Obrigado, mas como sabia?

  Sorri de lado. Ela é tão sonsa.

  _ Sou seu guardião, lembra? Estamos conectados. - revelei. Ela abriu a boca, provavelmente para fazer uma pergunta estúpida, mas não a fez. - Tente não se colocar em muito perigo. Eu não quero ficar dando uma de  sirene!

  Ela riu confusa, mas não comentou. Os olhos de Elle estavam indo para todos os lados, o azul que antes traziam calma estavam tempestuosos e um pouco paranoicos.

  _ Durma um pouco, Elle... - interrompi minha fala quando ouvi o barulho da porta da frente bater. Elle me olhou alarmada, ambos sabíamos que a pessoa que chegou era Catrina. - Vá para a janela, Elle!

  Ela correu para a janela e eu fui logo atrás. Encostei a mão no ombro de Elle por acaso, mas ela pulou de susto e se desequilibrou. Segurei a mão dela antes que ela caísse e então a puxei de volta. A respiração dela estava entrecortada.

  _ Elle, se acalma. - pedi. Ela respirou fundo e agarrou o galho da árvore. 

  Já no chão, corremos para a estufa. Algo tremeu no meu bolso, era Nanda ligando.

  _ Não conta pra ela. - Elle murmurou encarando a tela do celular piscando.

  _ Eu não vou. Seu segredo está seguro comigo.
 

  O que achou de entrar um pouco na cabeça de Peter e Nanda? Sei que foi um pouco superficial, mas quem sabe eu não faço mais capítulos assim?

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Você é incrível!