Amigos Até Certa Instância - matchablossom au

1 - tenha seu tempo.

CW: citação de homofobia
TW: ansiedade



⠀⠀⠀⠀Os flashes piscavam na face de Kaoru, que mesmo com a mão na frente do rosto não evitava cegar o mesmo. O garoto havia acabado de sair de uma festa e nem entendia o porquê de receber tanta atenção naquela hora, sua cabeça ainda girava pela bebida que nem percebeu que sua bochecha sangrava.
⠀⠀⠀⠀— Por que tem tanta gente aqui? – perguntou para sua guarda-costa, ainda confuso e tentando esconder o rosto dos paparazzis.
⠀⠀⠀⠀— Seu vídeo vazou, Príncipe Sakurayashiki. – ela disse em tom calmo enquanto ainda encarava o tablet de última geração em uma de suas mãos enquanto a outra lhe entregava um lenço umedecido.
⠀⠀⠀⠀— Vídeo? Eu não gravei nenhum víde- – foi interrompido pelo som de gritaria vindo da tela do tablet que a mulher mostrava pra ele. A ficha caiu e tudo veio à tona, Kaoru havia brigado a mão com um cara que o provocou. O vídeo tinha poucos segundos, só mostrou o garoto dando uma cabeçada e logo recebendo um soco, caindo em seguida. – Puta que...
⠀⠀⠀⠀— Sem palavrões, senhor, não precisa se preocupar, já está tudo resolvido. Amanhã à tarde a imprensa irá te entrevistar e você vai pedir desculpas.
⠀⠀⠀⠀O garoto ficou em silêncio e apenas concordou com a cabeça, não tinha muito o que fazer. Pegou o lencinho e voltou a olhar a janela enquanto passava no machucado. Começou a relembrar o que tinha acontecido, antes de começarem a filmar o cara que havia o provocado tinha falado palavras homofóbicas contra ele. Kaoru ficou remoendo aquilo, pensando e repensando que nunca seria aquilo que disseram, nunca gostaria de um menino.






⠀⠀⠀⠀— O que? Um internato? Mãe, isso é loucura! – disse desapontado enquanto ria sem acreditar.
⠀⠀⠀⠀— Kaoru, já está decidido! Vai ser melhor pra você, meu amor! Toda a família passou por esse internato, até o seu irmão, Kiichi, já foi para lá. – a rainha disse enquanto andava pelos largos corredores para chegar na sala onde a imprensa estaria. – Conversamos sobre isso depois, ok? Temos coisas a fazer.
⠀⠀⠀⠀Kaoru continuou desacreditado e apenas seguiu a mãe, cumprimentou os jornalistas e sentou ao lado do seu irmão. O garoto era a cópia de Kiichi, só os diferenciavam pelo cabelo grande do mais novo e o undercut do mais velho. Ele era seu porto seguro, sabia que tudo que precisaria ele estaria lá mas, às vezes, sentia inveja por ele ser o príncipe herdeiro. Pior que isso só ser comparado com ele todo tempo pela sua mãe, tsc, lhe dava nos nervos! Mas não tinha motivos para odiá-lo, o amava de qualquer forma. As câmeras começaram a gravar e Kaoru tomou um leve susto pela luz forte que veio em sua face.
⠀⠀⠀⠀— Pode começar, Sr. Kaoru. – um dos jornalistas avisou. O garoto olhou para o irmão, que o encorajou apenas com um olhar. As mãos do rosado começaram a suar e logo uma bola veio em sua garganta. – Tenha seu tempo. – ele disse pacientemente.
⠀⠀⠀⠀Depois de gravar e regravar o pedido de desculpas por tanto gaguejar e perder a fala, Kaoru finalmente saiu daquela sala quente e infestada de pessoas, já estava sufocante lá dentro e não queria escutar o esporro da mãe por demorar tanto para falar a frase já gravada. Correu para uma das varandas, sentia seus pulmões sem ar,  passava a mão constantemente na calça para tentar "seca-las" e ter certeza que ainda estava acordado pela sua visão já estar um pouco turva.
⠀⠀⠀⠀— Ansioso de novo? – Kiichi disse por trás do irmão, conhecia o garoto mais que a própria mão. Kaoru se virou assustado, mas logo se acalmou por ser ele, deu um sorriso sem graça e mostrou a mão tremendo. – Vem, vamos sair daqui. – abraçou o irmão de lado e saiu de lá sabendo exatamente o que fazer, Kiichi sempre teve que saber lidar com as crises do irmão porque sua mãe estava sempre ocupada e nunca tinha atenção para cuidar.






⠀⠀⠀⠀— Você acha que vai dar certo eu ir para esse internato? – largou a colher no pote de sorvete. – Tipo, vão achar que eu sou um príncipe maluco, principalmente depois do que aconteceu! – fez uma cara estranha tentando pensar, logo pegando mais uma colherada do seu favorito.
⠀⠀⠀⠀— Vai dar tudo certo irmão, mesmo que seja um internato, não é tão ruim assim... Eu vou ligar pra você todos os dias pra saber como você tá, pode ser? – deu um sorrisinho enquanto raspava o potinho, já terminando seu sorvete.
⠀⠀⠀⠀— Quanto grude! – fez uma cara forçada de nojo e logo riu em seguida. – Pode sim, vai ser até bom, vai que eu não faça amigos...
⠀⠀⠀⠀— Não faça amigos? Kaoru!? Você é um príncipe! Quem não vai querer ser amigo de um príncipe!? – fez gestos exagerados com a mão enquanto falava, fazendo o irmão rir. – Vai que você arranja uma futura princesa lá... – deu um sorriso de lado e o rosado deu um soquinho fraco nele.
⠀⠀⠀⠀— Para de ser maluco! Arrumar alguém em internato? Não quero nem pensar nisso... – riu fraco e terminou seu sorvete, logo se deitando no chão. – Obrigado, Kiichi. – O irmão fez uma cara confusa sem entender.
⠀⠀⠀⠀— Pelo o que? Você está doente? – colocou a mão na testa do garoto como se estivesse medindo sua temperatura.
⠀⠀⠀⠀— Deixa de ser bobo! – empurrou ele fraco. – Obrigado por me entender, sério, você é o único que eu tenho. – olhou pra ele com um sorriso sem graça, o irmão estava com os olhos lacrimejando. – Ok! Sem reações exageradas! Só estou agradecendo!
⠀⠀⠀⠀— Tô nem aí! – deu um abraço nele, o apertando. – Só... Se cuida lá, tá? Eu sei que não vai ser por muito tempo, mas... Você vai fazer falta aqui!
⠀⠀⠀⠀— Para com isso Kiichi, eu sei que sou lindo, perfeito e inesquecível, não precisa disso! – brincou enquanto abraçava ele de volta. – Você vai fazer falta do meu lado também, mas eu vou tentar me virar!
⠀⠀⠀⠀— Você consegue, eu sei que sim! – se separou dele e bagunçou o cabelo do mais novo, que fez uma careta de desgosto.
⠀⠀⠀⠀— Senhores, já passou da hora de vocês se recolherem. – um dos empregados disse na porta da cozinha. – Não queria incomodar, mas sei que amanhã é um grande dia para Kaoru, não quero que os dois fiquem cansados.
⠀⠀⠀⠀Os dois afirmaram com a cabeça e levantaram para ir para seus quartos. Ficaram jogando conversa fora até o local que os separava, deram boa noite um para o outro e foram cada um para o seu canto.
⠀⠀⠀⠀Kaoru se jogou na cama e ficou olhando seu teto pensando no amanhã, nem se lembrava direito que já iria para o internato. Ficou revirando de um lado para o outro até dormir, não conseguia pela insônia, mas tinha uma solução que, na maioria das vezes, funcionava. Se levantou até a mesa no canto do quarto e ligou o abajur, ficando na ponta do pé procurando algum disco de vinil que gostaria de ouvir naquela noite pela grande prateleira com sua coleção. Era a última vez que poderia fazer isso porquê, já no internato, teria que colocar em seu celular (já tinha uma playlist com suas favoritas). Pegou um disco do Tally Hall e posicionou a agulha na sua faixa favorita, Hidden in the Sand. A música soou pelo quarto e o garoto voltou para sua cama enquanto cantava baixo a música. Se aninhou entre as cobertas e não demorou muito para pegar no sono, amanhã seria um grande dia.






⠀⠀⠀⠀Kaoru passava a mão constantemente em seu cabelo durante a viagem de até o internato. Nunca foi apto à mudanças e, sempre que acontecia, sua cabeça enchia de pensamentos ansiosos. O príncipe passava uma imagem de destemido e forte ou até mimado por fazer parte da família real porquê, claro, teria tudo em mãos na hora que precisasse, porém isso o deixava mais preocupado. Ser o filho mais novo de uma família real e ser sempre comparado com os mais velhos não era nada interessante ao garoto.
⠀⠀⠀⠀Passou tanto tempo desassociado que nem percebeu que já havia chegado no internato, por sinal, bem diferente do que achava como seria! Talvez uma grande escola velha, suja e assombrada, típico de filme de terror, descreveria como pensava, já que era da época de seu tataravô. Ajeitou seu cabelo (que já estava bagunçado de tanto mexer) enquanto descia do carro olhando as árvores em volta. Estava no meio da primavera e as cerejeiras estavam coloridas pelas sakuras, a flor que gerou seu sobrenome. A diretora veio em sua direção para cumprimentá-lo, dando boas vindas. Por trás de seu ombro era possível ver seu irmão abraçando Ainosuke.
⠀⠀⠀⠀Ainosuke Shindo, ou Adam, como a família o chamava. Ele era primo dos Sakurayashiki, talvez de bem longe porque, sabe? É tudo da família real, nunca saberemos os graus de parentesco. Mas, em um todo, se chamavam de primos. O garoto tinha um topete azul junto a uma sobrancelha chamativa, além de um belo corpo. Não havia dúvidas de que era popular.
⠀⠀⠀⠀— Kaoru! Quanto tempo, primo! – Adam interrompeu a diretora, chegando com um abraço.
⠀⠀⠀⠀— Ah- Oi, Adam. – devolveu o abraço, não se sentia muito confortável com o garoto desde criança, nunca entendeu o motivo.
⠀⠀⠀⠀— Vai ser ótimo ter você por aqui! Mais alguém da realeza no comando dessa escola! – Deu um sorriso largo e Kaoru correspondeu com um sorrisinho. Felizmente, um jornalista o chamou para tirar uma foto com a equipe, tirando o mesmo daquela situação que com certeza não queria estar.
⠀⠀⠀⠀Os irmãos fizeram o de sempre, deram entrevistas, tiraram diversas fotos com diferentes pessoas importantes de dentro do internato e foram levados por Ainosuke para conhecer a parte de fora do local. Depois de algum tempo, os dois já estavam cansados de ouvir tanta falação do azulado e perguntas dos jornalistas. Eles se entreolharam.
⠀⠀⠀⠀— Vamos correr no três. – Kiichi sussurrou para o irmão enquanto tinha um sorriso travesso no rosto.
⠀⠀⠀⠀— O quê? Kii- – foi cortado pelo irmão.
⠀⠀⠀⠀— Um, dois... – puxou Kaoru pelo pulso – Três! – os dois saíram correndo pelo grande campo verde que estavam, deixando Adam e os jornalistas confusos. Kaoru acabou tropeçando em um pedaço de tronco, levando Kiichi junto ao chão. Os dois se entreolharam novamente e começaram a rir.
⠀⠀⠀⠀Depois de muita risada e falatória reparando nos defeitos do internato, chegou a hora de conhecer o interior. Kiichi e Kaoru deram uma volta por lá e foram direto para o quarto para arrumar o mesmo. Tinha pouca coisa mas o mais velho sabia que o caçula iria demorar semanas para colocar tudo no lugar, então ajudou a adiantar tudo de uma vez. Depois de alguns longos minutos de cantoria e arrumação, finalmente acabaram
⠀⠀⠀⠀— Obrigado por me ajudar, você me conhece mesmo. - o mais novo riu fraco.
⠀⠀⠀⠀— Eu precisava, você iria demorar anos para colocar tudo no lugar- brincou. - Mas, sério, eu sei o quanto você é enrolado.
⠀⠀⠀⠀— Não precisa jogar na cara, Kiichi! - jogou uma almofada nele e mostrou a língua, fazendo o mesmo rir. Escutaram uma batida na porta, indicando que o Príncipe Herdeiro teria que ir embora. - Ah não...
⠀⠀⠀⠀— Infelizmente o dever me chama, maninho. - bagunçou o cabelo do mais novo e se levantou, arrumando seu terno.
⠀⠀⠀⠀— Não me abandone aqui... - abraçou o irmão por trás, realmente mostrando que não queria que ele fosse embora.
⠀⠀⠀⠀— Oh, maninho... - respirou fundo e se virou, o abraçando direito - Não se preocupe, ok? Vai dar tudo certo e estou sempre no telefone quando der! Depois veja a sua gaveta da escrivaninha. - Deu um beijo na testa do mesmo e se separou. - Tchau, Kaoru! - deu um sorriso simpático.
⠀⠀⠀⠀— Tchau... - ficou na porta vendo o mesmo ir e respirou fundo quando percebeu o corredor já vazio.
⠀⠀⠀⠀Voltou para o quarto, curioso com o que teria na gaveta. Quando abriu havia um morcego de pelúcia, apelidado de Igor pelos irmãos. Kaoru riu fraco se lembrando quando o irmão deu para ele.
⠀⠀⠀⠀— Igor... sabia que estava esquecendo de algo! - abraçou o bichinho, sentindo o cheirinho que ele tinha. Olhou ele por um tempo e passou o olho pelo quarto, vendo onde poderia colocar o mesmo.
⠀⠀⠀⠀— Kaoru? - a voz de Adam ecoou pelo quarto, fazendo o garoto assustar. Escondeu a pelúcia atrás de si. - A estrela do evento está atrasada, se apresse aí!
⠀⠀⠀⠀— Ahm... Eu já estou indo, segunda à esquerda nesse corredor, né? Já já estou lá! - coçou a nuca percebendo que estava falando rápido demais, Ainosuke apenas afirmou com a cabeça e saiu andando. Kaoru soltou o ar que nem sabia que estava segurando e correu para fechar a porta. Continuou olhando o quarto e decidiu colocar Igor em cima de sua escrivaninha, partindo para o armário tentando encontrar alguma roupa.




⠀⠀⠀⠀Os alunos estavam todos reunidos em um salão com os olhares fixados em Kaoru, não se importou muito já que estava acostumado com olhares. O local estava bem decorado, havia uma mesa de bebidas sem álcool no canto e pelo salão andavam empregados servindo comidas. Bem, a maioria pareciam felizes com isso, já o príncipe não sabia muito o que fazer, apenas acenou e cumprimentou alguns alunos e foi direto pra mesa de bebidas e pegou um refrigerante de uva, seu favorito.
⠀⠀⠀⠀Ficou olhando do canto da sala as pessoas que estavam no salão, mas uma em específico lhe chamou a atenção, era um menino alto de cabelos verdes, tinha um corpo bem definido e aparentava estar suado. Ele não estava no código de vestimenta daquela ocasião e parecia estar discutindo com a diretora, pouco tempo depois viu ele revirar os olhos e sair do cômodo.
⠀⠀⠀⠀— Oi! - um garoto de cabelos vermelhos entrou em sua frente, fazendo Kaoru arregalar os olhos. - Ah, desculpa chegar assim do nada. Hm... Meu nome é Reki, Reki Kyan! - o mesmo estendeu a mão para o rosado com um sorriso largo.
⠀⠀⠀⠀— Prazer é meu, Reki. - o cumprimentou, dando um sorriso fechado.
⠀⠀⠀⠀— Meu irmão é da sua sala e ficou encarregado de te passar os horários das aulas, mas ele te odeia então vou ter que fazer isso por ele. - riu fraco e coçou a nuca vendo o príncipe franzir o rosto. - Fica tranquilo, ele não machuca nem uma mosca!
⠀⠀⠀⠀— Quem é seu irmão? - perguntou confuso.
⠀⠀⠀⠀— Meu irmão? Pft, é aquele boboca de cabelo verde que tava discutindo com a diretora, ele não quer vir aqui de jeito nenhum e em vez disso tava treinando, ele deve ter recebido uma bronca ou uma ameaça de ocorrência e deve estar vindo.
⠀⠀⠀⠀— Se ele me odeia, acho melhor nem me ver! - riu fraco.
⠀⠀⠀⠀— É que assim... Ele não gosta de jeito algum da família real e como você faz parte dela... Eu sei que você não tem nada a ver com seus antepassados!
⠀⠀⠀⠀"Que bom que alguém pensa assim sobre mim!" Kaoru pensou consigo mesmo, apenas dando um sorriso.
⠀⠀⠀⠀— Então depois daqui você pode passar no meu quarto para me entregar o material, é o-
⠀⠀⠀⠀— Duzentos e cinquenta e sete, já fomos informados! - o avermelhado riu fraco. - Pode ficar tranquilo, até o final da noite eu levo suas coisas!
⠀⠀⠀⠀— Ok então! - deu outro sorriso fechado para Reki.
⠀⠀⠀⠀— Bom, agora eu preciso ir, meu amigo está me esperando! - fez uma reverência, fazendo Kaoru rir baixo, e saiu em direção ao outro lado do salão.
⠀⠀⠀⠀Kaoru foi parado por um grupo de garotas que pareciam bem emocionadas, diziam que gostavam muito dele e queriam fotos, o garoto concordou e deixou que tirassem algumas.




⠀⠀⠀⠀Já era fim de tarde, Kaoru estava deitado em sua cama olhando o morcego de pelúcia em sua mão quando escutou batidas em sua porta, logo se levantou e foi até a porta se lembrando do o que Reki havia combinado, abriu a mesma, ficando totalmente confuso.